A história dos veículos de mídia se repete a cada nova plataforma que surge. Quando surgiu a TV, todos diziam que ela mataria o rádio. Depois, seria a TV por assinatura que mataria a TV aberta, e assim por diante. No entanto, como nenhuma destas “mortes” foi efetivada, arrisco-me a dizer que o streaming não matará a TV, seja ela aberta ou fechada.
Com esta evolução podemos concluir que, na verdade, as plataformas de mídia são complementares. Elas surgem para melhorar a experiência, abraçar um novo público e não necessariamente desviar a audiência total de um veículo para o outro. Quando tínhamos no Brasil apenas a TV aberta, a audiência nunca ficou restrita a uma única emissora, pois o público se dividia por conta de seus interesses e pelo produto que estava sendo ofertado por cada canal. O mesmo ocorre hoje com o streaming, já que uma pessoa pode optar por uma plataforma ou outra, de acordo com o tipo de conteúdo que se quer assistir.
Em um passado não tão distante, os principais pontos de reclamação em relação à TV por assinatura eram os valores a serem pagos pelo assinante e a quantidade de opções “inúteis” para aquele assinante que só queria assistir a um número reduzido de canais. A percepção do assinante era de que estava pagando caro, pois estava desembolsando dinheiro por conteúdos que não o interessavam.
Pois bem. Voltando aos tempos atuais, o consumidor agora tem a opção de assinar apenas os serviços de streaming que deseja, pagando valores inferiores se comparados aos valores cobrados pela TV por assinatura. Com isso, tudo fica mais fácil e acessível para todos, e todo mundo fica feliz, correto?
Não, claro que não.
Agora, a reclamação é que, para poder assistir a tudo o que gostaria, tem que assinar várias plataformas, com diferentes acessos, logins, senhas e cobranças diversas no cartão de crédito. Para piorar, o valor da soma de todas estas assinaturas está, na maioria das vezes, ficando maior do que o valor pago à TV por assinatura no passado, com direito a uma experiência de “troca de canais” bem mais desconfortável.
E é aí que entra o título desta coluna.
A TV por assinatura nada mais é do que a grande consolidadora de conteúdos, sejam eles por meio dos canais lineares, ou até mesmo a integração de diferentes plataformas de streaming nas caixinhas, o que facilita a navegação entre os diferentes canais e serviços. Atualmente, a TV por assinatura como conhecemos está perdendo força, mas vemos movimentos interessantes das operadoras para justamente continuar este processo de consolidação e ampliar sua base de assinantes, seja por intermédio dos canais lineares apenas, ou nesta gestão centralizada dos serviços de streaming por meio da base de clientes.
Agora, se tratarmos apenas do universo do streaming, não existe, hoje, uma plataforma ou um app em que o cliente consiga assinar diferentes serviços de uma forma rápida e fácil. Como cada grande marca do entretenimento tem o seu próprio produto e trata todos os dados de consumo de forma extremamente sigilosa, isso dificulta a criação deste “hub” de conteúdo que serviria para agregar todos estes serviços e que faria com que o assinante pagasse uma única assinatura e tivesse acesso a tudo ou quase tudo, independentemente de quem fosse o dono deste ou daquele conteúdo.
Ah, mas espera um minuto, isso não é exatamente o que a TV por assinatura faz? Sim, é exatamente isso. A única diferença talvez seja a tecnologia, pois a TV por assinatura trafega o seu sinal por meio de uma rede de cabos ou satélite, enquanto o streaming utiliza a internet para entregar o conteúdo ao consumidor.
A Amazon já começou algo assim nos seus “Channels”. Atualmente, já é possível assinar alguns outros streamings e produtos como o Paramount+ ou o Premiere diretamente por meio do Prime Video. Mas ainda é uma iniciativa única e que não conta com o apoio de grandes concorrentes, pois, afinal, o Prime Video é uma plataforma de streaming com conteúdo próprio, então marcas como HBO Max, Star+ e Netflix dificilmente aceitarão compartilhar seus dados, tecnologias e, principalmente, receitas com um concorrente de peso.
Além das questões da usabilidade e da facilidade de acesso ao conteúdo, a grande dúvida é se realmente existe conteúdo e até mesmo clientes para tantas plataformas de streaming que já existem e outras que estão surgindo. A ideia da consolidação não vale apenas para empresas “concorrentes” estarem acessando o mesmo usuário, mas sim para que o conteúdo de cada uma delas se torne mais atraente para que o cliente assine e permaneça assinando por muito tempo.
Essa consolidação já começou a ocorrer também do lado do conteúdo. Na coluna do mês que vem, tratarei um pouco deste tema.
Evandro Figueira é vice-presidente da IMG Media no Brasil e escreve mensalmente na Máquina do Esporte