Em 5 de novembro de 1924, durante a Primeira República, o então presidente Artur Bernardes assinou o decreto número 4.867 determinando a data de 12 de outubro como o Dia da Criança no Brasil, data que coincide com o feriado nacional da padroeira do país, Nossa Senhora Aparecida. Internacionalmente, o Dia Internacional das Crianças foi criado somente em 1959 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que estabeleceu o dia 20 de novembro para comemorar a data fazendo referência à Declaração dos Direitos da Criança.
Essa data de outubro nos traz a oportunidade de, anualmente, voltarmos o olhar e a atenção para nossas crianças, que representam o futuro da nossa sociedade. Mas é certo que ainda estamos distantes de garantir, com qualidade, os compromissos fundamentais registrados em leis e nos documentos oficiais do nosso país e da Organização das Nações Unidas (ONU).
Desde 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente do Brasil (Lei 8.069) determina em seu artigo 4º que “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”. Essa mesma lei também estipula, no artigo 59, que “Os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude”.
Os artigos da lei explicitam a importância do esporte no desenvolvimento das crianças e dos adolescentes, entretanto a prática mostra uma realidade limitada quanto aos esforços, aos recursos e ao entendimento da importância da atividade física na formação dos nossos jovens.
De acordo com a Federação Nacional das Associações das Escolas Estaduais de High School (NFHS) nos EUA, aproximadamente 58% das crianças de 6 a 17 anos praticam oficialmente alguma modalidade esportiva em uma das 19.500 escolas associadas. No início da década de 1990, a Associação Atlética das Escolas da Carolina do Norte analisou os efeitos do esporte nos estudos e descobriu que os alunos atletas tinham uma performance melhor nos testes de GPA (Grade Point Average ou Média de Notas, em tradução livre), ficavam menos dias afastados da escola e possuíam uma taxa de 0,7% contra 8,98% de abandono escolar quando comparados com alunos não atletas (Fonte: https://www.usnews.com/education/blogs/high-school-notes/2011/09/02/high-school-sports-participation-increases-for-22nd-straight-year).
Apesar de todos os benefícios já comprovados sobre a prática desportiva à população, especialmente às crianças e aos adolescentes, a educação física é pouco valorizada nas escolas de ensino básico. A Lei 9.394/96 dispõe que “A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica”, porém especialistas alertam para uma redução nas atividades esportivas nas escolas.
Os Jogos Escolares, retomados pelo governo federal em 2022, após a interrupção causada pela pandemia, é competição fundamental para estimular os estados e os municípios a investir e incentivar a prática esportiva no dia a dia das escolas. Mais de 6 mil alunos, distribuídos em 17 modalidades esportivas, disputaram a etapa dos Jogos Escolares Nacionais no Rio de Janeiro.
Baseado na minha experiência profissional, penso que a transformação do esporte passa por alguns pilares imprescindíveis na disseminação da atividade física: valorização e capacitação dos professores de educação física, entrosamento das secretarias de educação com as secretarias de esporte e a promoção de eventos e torneios (competições) regulares e frequentes em todos os municípios e regiões do país.
Havendo maior investimento nessas frentes de trabalho, acredito que o esporte contribuirá com o desenvolvimento do país e também com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, aprovados pelos países na Agenda 2030, que incluem saúde e bem-estar, educação de qualidade e redução das desigualdades.
O Basquete
Coincidentemente, em 12 de outubro é também celebrado o Dia do Basquete no Brasil. Um recente artigo da Sports Value, do Amir Somoggi, apontou o país como o novo eldorado do basquete, com um universo de 58 milhões de fãs (pesquisa Kantar Ibope). O estudo foi realizado com pessoas acima de 18 anos, portanto a faixa etária de crianças e jovens pode elevar ainda mais essa base de fãs. Isso mostra que há um espaço de crescimento para praticantes da modalidade, influenciados pelo fortalecimento do NBB, pela presença da NBA no Brasil e pela chegada de uma nova geração de ídolos na seleção brasileira.
Segundo dados da National Federation of High School Association (NFHS) dos EUA, mais de 7,6 milhões de alunos americanos do ensino médio praticaram esporte na temporada 2021/2022. Destes, 521.616 meninos e 370.466 meninas jogaram basquete em campeonatos oficiais (Fonte: DATA SOURCE: National Federation of State High School Associations, 2021-22, https://www.nfhs.org/media/5989280/2021-22_participation_survey.pdf).
Na Espanha, segundo a CMD Sport (2019), o basquete é o segundo esporte mais praticado por atletas federados, totalizando 385.110 jogadores, entre homens e mulheres (Fonte: https://www.cmdsport.com/multideporte/los-10-deportes-con-mas-federados-en-espana/).
Apesar de não ter conseguido os números oficiais do Brasil, considerando o universo da população brasileira e as recentes pesquisas, o mercado potencial de crianças e adolescentes para praticar basquete nas escolas e/ou nos clubes pode confirmar o título de “novo eldorado” do basquete mundial.
Alvaro Cotta é diretor de marketing da Liga Nacional de Basquete (LNB) e escreve mensalmente na Máquina do Esporte