Como todo início de ano, abrimos o calendário com os Campeonatos Estaduais. E, apesar da empolgação das finais, entendo que tivemos poucas surpresas. Índice técnico baixo e pouco interesse do público, refletido na bilheteria média dos eventos. O resultado é que, na maioria das finais dos Estaduais, assistimos aos mesmos confrontos, e a dúvida que fica é se esta é, de fato, a forma mais inteligente de começar a temporada do futebol brasileiro.
Tenho sempre a sensação de que estas competições servem como um anabolizante, que deixa a impressão de um bom preparo no início da temporada, mas com o choque de realidade acontecendo logo a seguir com o início dos confrontos de um nível técnico mais alto ou com o início do Campeonato Brasileiro.
Venho observando um ganho de performance nas equipes do Nordeste, tanto na participação na Série A como na Série B do Brasileirão, e, para mim, isso se deve à participação destas equipes na Copa do Nordeste, que acaba expondo estes clubes a um nível de confrontos de mais qualidade e intensidade, fazendo com que cheguem mais preparados para as principais competições.
Hoje, temos um acesso melhor às transmissões, com um nível maior de exposição dos Estaduais. Eu, por exemplo, pude assistir à final do Campeonato Cearense em uma transmissão do canal Goat e também à final do Cariocão na transmissão da Band. Pela combinação de horários, temos a chance de ótimos resultados, mas aposto que a maior audiência deve ter saído do confronto da final do Paulistão, que reuniu Santos e Palmeiras.
Os saudosistas falarão da importância dos Estaduais, da sua tradição, mas as finais deixaram claro que o torcedor quer ver bons jogos e qualidade. Por isso, o interesse pelas finais.
Aqui vale salientar que não me lembro de ver as federações realizando pesquisas com os consumidores sobre o tema. Não digo que não existam, apenas que nunca fui impactado pelos resultados destas consultas.
Já tivemos o desprezo da competição de São Paulo expressa na menção de alguns dirigentes e torcedores se referindo ao campeonato como “Paulistinha”. Os vencedores celebrarão seus títulos com mérito e razão, mas o produto não gera o interesse que poderia gerar. São evidentes os investimentos da Federação Paulista de Futebol (FPF) na promoção do título, na venda de novos formatos de patrocínio, na nova taça, mas entendo que o básico ainda não está sendo bem-feito. Investimos nos detalhes e esquecemos o principal.
Recentemente, em entrevista ao nosso podcast Maquinistas, Tiago Leifert destacou alguns pontos importantes: “[No Brasil] A gente trata mal demais os nossos fãs. A experiência do estádio é péssima, e a experiência até do consumo na televisão é muito ruim, tem muita coisa ruim ainda, muita coisa que dá para melhorar”.
Concordo totalmente com as palavras do Tiago, e isso fica muito evidente nos problemas que vejo no Campeonato Paulista, que uso como exemplo por estar mais próximo e por tê-lo acompanhado por completo. Destaco alguns pontos que merecem cuidado:
1. Qualidade da transmissão: neste ano, em São Paulo, tivemos novos formatos, mas foi preciso se acostumar com uma estrutura de imagens nas transmissões muito limitada. Redução de câmeras no jogo e uma direção de imagens que prioriza pouco a partida. Um erro da Federação Paulista em criar um formato que desfavorece o trabalho individual das emissoras envolvidas. E assim perdemos em detalhes e em inovação. Estamos regredindo nesta questão.
2. O formato de disputa do campeonato: uma fase de quartas de final em jogo único que não faz o menor sentido, e que nos leva a uma semifinal também em jogo único, que sempre acaba priorizando o mau futebol da retranca. Algo mais difícil de ser observado na realização de duas partidas em jogos de ida e volta. Isso sem falar da montagem de grupos esdrúxulos sem o confronto direto entre os participantes do grupo, e a classificação para as quartas de final de uma equipe com 10 pontos enquanto uma equipe com 21 pontos é eliminada.
3. Jogos de torcida única: a maior frustração ainda é ver as duas finais com torcida única em São Paulo, quando assistimos a várias finais de Estaduais com duas torcidas no estádio. Fica a sensação de incompetência de não conseguirmos realizar as fases finais com a presença da torcida do Palmeiras na Vila Belmiro e a do Santos no Allianz Parque.
Se você gosta dos Estaduais, claro que respeito, mas continuo não acreditando muito no futuro destas competições. Entendo que, muito em breve, elas serão substituídas por competições mais interessantes, inspiradas na Copa do Nordeste.
Para quem valoriza os Estaduais, recomendo que volte ao desenvolvimento do produto. Entendo que é importante aproveitarmos o fato de termos um ano pela frente para buscarmos ideias que possam oferecer um Campeonato Paulista que conquiste um interesse maior, não só do público do nosso estado, mas também do Brasil.
Recomendo o desenvolvimento de uma pesquisa com o público consumidor. A proximidade com o fã é o caminho mais fácil para o sucesso e para a valorização do produto. De um modo geral, precisamos buscar mais qualidade no produto oferecido para o consumidor do futebol.
Regi Andrade é um vendedor de ideias especializado na área comercial de veículos de comunicação, tendo trabalhado em TV aberta, TV fechada, internet, jornal, rádio, revistas e eventos. Hoje, como diretor comercial da Máquina do Esporte, orienta clientes a maximizarem seus investimentos em mídia e patrocínios por meio de projetos de comunicação, além de contribuir com artigos sobre publicidade e patrocínio