Recentemente, coloquei aqui, neste espaço, uma reflexão sobre o valor dos direitos de transmissão dos eventos esportivos. Com certa frequência, ouvimos que os direitos estão caros, e listei alguns argumentos que são totalmente contrários a esta ideia. Depois de publicado o texto, recebi alguns comentários de alguns compradores de direitos questionando a minha tese, todos com argumentos bem plausíveis, em uma discussão sadia e positiva em relação ao tema.
Menos de dois meses depois do texto ir ao ar, agora, neste mês de fevereiro de 2025, fomos surpreendidos por mais uma notícia que ajuda na defesa da minha tese. A diretora de conteúdo da Netflix, Bela Bajaria, afirmou, em uma entrevista ao podcast “The Town”, que gostaria de ter os jogos de domingo à tarde da NFL, atualmente com Fox e CBS nos Estados Unidos.
O discurso dela é um pouco mais agressivo do que vem afirmando Ted Sarandos, CEO da plataforma de streaming. Ele diz que a Netflix pensaria em adquirir temporadas completas de conteúdo esportivo dependendo dos valores, e que o foco seria em eventos de grande relevância. Já Bajaria foi mais contundente ao colocar um “definitivamente”, demonstrando claro interesse nos jogos da principal liga esportiva do mundo.
Vamos entender também que é um pouco mais fácil e menos sensível se afirmar isso com tanta veemência quando se sabe que os contratos de direitos da NFL para o mercado norte-americano já estão fechados até 2033, com uma opção de renegociação com os atuais parceiros apenas em 2029. Ou seja, pode haver interesse, mas não há nada que se possa fazer nos próximos quatro ou cinco anos. Até lá, muita coisa pode acontecer, e sempre se pode usar o discurso de mudança de estratégia, caso a plataforma não engaje em uma negociação com a NFL no momento que estes direitos vierem ao mercado novamente.
O que já é realidade e está cada vez mais evidente é que aquele discurso dos executivos da Netflix de que eles não entrariam no universo do esporte é coisa do passado. Além dos jogos de Natal da NFL, a plataforma adquiriu de forma exclusiva os direitos globais da WWE por dez anos e os direitos de duas edições da Copa do Mundo Feminina da Fifa (2027 e 2031) para o mercado norte-americano. Este novo posicionamento pode ser reforçado ainda mais, já que atualmente se coloca a plataforma como uma potencial compradora dos direitos da Fórmula 1 e do UFC para o mercado dos Estados Unidos.
O esporte engaja, atrai e mantém assinantes e é, sem dúvida, um fator que joga a favor quando se fala em negociação de direitos de transmissão. Não é à toa que os valores continuam crescendo. O esporte se paga.
Evandro Figueira é vice-presidente de mídia da IMG na América Latina