Não paro de pensar na idade. Talvez pelo fato de eu não ser mais uma garotinha, é verdade. Mas não penso com a imaturidade de achar que tudo no passado foi melhor nem com a ansiedade de querer viver logo o futuro. Mas sim refletindo sobre “por que não agora“? Sou velha demais pra isso? Ainda vou dar conta?
Obviamente (afinal, é meu esporte), passa logo na cabeça a mais emocionante final olímpica que se tem notícia no remo e que assisti ao vivo nos Jogos Rio 2016: Mahe Drysdale (NZL) x Damir Martin (CRO), com vitória para o neozelandês (então com 38 anos) por cinco milésimos de segundo depois de se digladiarem por 2 mil metros no barco single skiff. E me pego, com isso, pensando em tantos e tantos atletas. Que para lá de seus 40 anos, seguem vencendo. Seguem se valorizando. Seguem vendendo marcas.
Outro dia, a atriz Marieta Severo trouxe à mídia a discussão sobre etarismo, a discriminação contra indivíduos com base em estereótipos associados à idade. E botou mais lenha na minha fogueira cerebral que tinha começado a pegar fogo há pouco mais de um mês, quando a bicampeã olímpica de vôlei, Sheilla Castro, fez um post em seu Instagram sobre o assunto.
Ela conta que estava malhando na academia quando ouviu dois rapazes conversando sobre algum atleta mais velho, insistindo que ele “deveria parar para não passar vergonha”. “A decisão de parar de jogar não é de ninguém, além do próprio atleta. (…) Nenhum atleta que se supera diariamente para continuar em atividade durante muito tempo passa vergonha, mas o contrário, inspiram outros a seguirem o mesmo caminho. E inspiram vocês que não são atletas que tudo é possível com determinação, perseverança e resiliência”, escreveu Sheilla.
Tive a sorte de acompanhar de perto a carreira de grandes atletas até o momento em que decidiram parar com o esporte competitivo. Não, gente, não é somente apertar o botão de ”stop” e acordar no dia seguinte como se nada tivesse acontecido. Ao mesmo tempo em que são muitos os motivos para que encerrem suas carreiras – família, lesões, competitividade, e tantos outros –, muitos são também os motivos para que prolonguem sua trajetória como atletas – clube, patrocinadores e, de novo, competitividade. Vencer não tem idade.
Em 2014, o Yahoo publicou um artigo sobre o americano Shaun White, lenda do snowboard, então com 27 anos. Diziam que o esporte havia acabado para ele, mas que ele se recusaria a aposentar (algo que fez só agora, após os Jogos de Pequim 2022), por ganhar algo como US$ 15 milhões em contratos de publicidade. E acaba assim o texto-massacre: “porque, aparentemente, ninguém gosta mais de Shaun White… a não ser todas as crianças que o amam”.
Patrocinadores e crianças não devem estar de todo errados. Ao enxergarem valor e conexão com atletas de mais idade, não necessariamente figurando eternamente nos degraus do pódio, eles exercitam sua “visão além do alcance”.
Por trás da capa de super-herói, há personagens capazes de agregar valor às marcas e narrativas, de despertar a emoção e a paixão de jovens para o esporte. De se conectar com diversos públicos de maneira legítima e madura (na dúvida, olhem para a escalação dos times da Nissan em 2016 e da XP agora em 2020). Não quero generalizar, claro. Apenas defender a longevidade dos atletas que são bem mais do que máquinas de desempenho esportivo.
Ser campeão vai muito além disso. E é eterno.
Manoela Penna é ex-diretora de comunicação e marketing do COB e escreve mensalmente na Máquina do Esporte