Os sinais que a Premier League traz ao streaming

Premier League fechou maior acordo de direitos de transmissão da história - Reprodução

Bombou na Máquina do Esporte a notícia de que a Premier League vendeu, por quase US$ 8,5 bilhões, os direitos de mídia de seu campeonato por quatro anos no mercado local. O negócio chama a atenção nem tanto pelas cifras, mas por quem foram os vencedores da licitação.

Apenas Sky e TNT compraram os direitos para exibir jogos ao vivo da Premier League de 2025/2026 a 2028/2029. Amazon e DAZN, que os especialistas acreditavam que participariam da concorrência, não fizeram qualquer proposta para aquisição dos direitos.

Esse resultado mostra que, por mais que o mundo inteiro já tenha modificado hábitos e incorporado o streaming à rotina de consumo de mídia, o esporte ainda não deve abandonar tão cedo o hábito de ter a televisão como sua principal parceira no dia a dia.

A Premier League e a NFL são um guia para o restante do mercado esportivo. Elas seguem uma lógica de venda de direitos de mídia que busca sempre uma equação que assegure a ela maior capacidade de arrecadar dinheiro, ao mesmo tempo que sustente altos índices de audiência.

Seguindo essa lógica, o streaming ainda está muito longe de ser o caminho para o esporte.

A TV ainda é o principal meio de consumo de mídia no mundo. Mesmo nos mercados mais maduros, o streaming não venceu. Ele está lá como um complemento importante na rotina, mas não é exclusivo.

A TV é, também, o meio que mais arrecada com mídia. Uma emissora faz muito mais dinheiro do que uma plataforma de streaming. Afinal, a verba digital é pulverizada, o que faz com que o dinheiro se espalhe em milhares de veículos e influenciadores, reduzindo a capacidade de arrecadação de um único veículo, como ainda é a lógica do mercado de TV.

Dito isso, para a Premier League continuar faturando alto, ela precisa da TV muito mais do que do streaming. Dá mais dinheiro para ela e, ao mesmo tempo, assegura maior audiência.

No Brasil, a diferença é ainda mais gritante. O país tem muito mais acesso à televisão do que à internet. O hábito de consumo das pessoas ainda é muito mais pendente para a TV aberta do que para a TV por assinatura. Que dirá, então, migrar para o serviço de TV conectada à internet.

O Pan-Americano de Santiago, disputado entre outubro e novembro, é um bom exemplo de que só o streaming não basta. Longe da TV, o evento perdeu audiência no Brasil e viu a arrecadação despencar com os direitos de mídia. A alternativa de mostrar o evento na Cazé TV e no Canal Olímpico do Brasil foi boa, mas não se compara aos números obtidos em 2019 com o Pan de Lima exibido na Record, Record News e Sportv.

Como consumidor, a lógica do streaming é ótima. Eu assisto o que quero e na hora que bem quiser. É prático, democrático e nos empodera. Mas isso também leva a uma pulverização do consumo. E o que era o grande diferencial da TV para o esporte se perde.

Cazé TV e Goat têm se destacado com a transmissão gratuita de eventos esportivos pelo YouTube. O modelo de negócio deles parte da premissa de que o anunciante pagará a conta para o fã ter o evento de graça. É a mesma lógica da TV aberta. O problema é que a audiência desses canais nos grandes eventos é 10% daquela obtida por um canal aberto. O que faz com que a arrecadação também acompanhe essa lógica.

E o esporte nessa história?

Bem, se a capacidade de arrecadação do streaming é 10% da de uma TV aberta, a possibilidade de ele oferecer dinheiro para o esporte também é menor. Ou a conta não vai fechar.

Até agora, a Cazé TV não tem investido na aquisição de direitos de mídia. A LiveMode tem buscado parceria com os donos dos eventos para rachar com eles o lucro da operação. Deu certo com a Fifa e com o Comitê Olímpico do Brasil (COB), por exemplo. Mas, na proporção, as duas entidades faturaram muito menos do que se tivessem seguido o modelo tradicional de venda de direitos.

E é isso que o mercado esportivo brasileiro precisa entender. O streaming é uma alternativa, mas não pode ser a única solução. Se quiser continuar a ter na mídia a sua maior fonte de renda, o esporte precisa continuar sintonizado na TV.

Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo

Sair da versão mobile