Tem sido uma experiência interessante viver novamente a dor e a delícia de estar na cidade-sede dos próximos Jogos Olímpicos. Se, no Rio 2016, havia um componente emocional forte em mim (a minha cidade, a minha Lagoa e o desejo de querer ajudar a construir esse sonho que, olhando para trás, mais parece ter sido uma utopia), agora, morando em Paris, vejo tudo com olhos estrangeiros.
Ninguém tem mais dúvidas de que os Jogos serão “à francesa”. Elegantes e por vezes arrogantes ao falar de sua história, cultura e hábitos. Tradicionais e ao mesmo tempo abertos à inovação. Se Paris não precisa dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos para promover a cidade e o turismo, a França tem sido inteligente e até mesmo exagerada ao imprimir sua história em cada detalhe da construção do evento. Aqui, os lemas da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade) parecem ter sido acrescentados sem qualquer cerimônia aos valores olímpicos de Excelência, Amizade e Respeito.
Às vezes, confesso, me incomodava a necessidade constante de precisar de uma explicação para poder captar as mensagens que vinham de Paris 2024, quase que um manual de instruções para poder admirar a Marianne, os Phryge e até o percurso da maratona.
Mas, aos poucos, fui entendendo e admirando a inteligência nacionalista (no bom sentido) de se apropriar de símbolos históricos e levá-los ao público olímpico tão diverso. E é bem isso que Paris 2024 vem se esmerando em fazer. Ou não teriam feito também o nem sempre fácil exercício de transformar os principais marcos turísticos da cidade em locais de competição.
Quantas não foram as sedes olímpicas a alardear que os Jogos pertenciam ao país e a falhar em entregar seu legado. Em Paris, parece que as coisas estão caminhando para um desfecho diferente.
O programa “Terre des Jeux”, que trouxe aqui em uma das minhas colunas no ano passado, é um sucesso, com mais de 3 mil cidades em toda a França ostentando o selo e vestindo o orgulho de fazer parte da construção de Paris 2024. Mesmo em uma cidadezinha de 18 mil pessoas, como a que eu morava, o Dia Olímpico (23 de junho) não passou em branco, com atividades esportivas para todas as idades e os valores olímpicos estampados até nas calçadas.
No marco de 1 ano para Paris 2024, no último dia 26 de julho, o Comitê Organizador apresentou um pacote de ativações de engajamento que prometem conectar os Jogos com os mais variados públicos. Serão cerca de 200 locais de celebração gratuitos por todo o país e também nos territórios ultramarinos (outra bandeira levantada sempre que possível). Sem falar nas 400 cidades visitadas pela Tocha Olímpica.
O Club France (a casa do Comitê Olímpico Francês) faz parte da agenda oficial de celebrações, ao lado de dois grandes “fan sites” criados: um no Parque Geroges Valbon, em La Courneuve (subúrbio ao norte de Paris que abriga uma população oriunda de 110 nacionalidades e onde praticamente metade da população vive abaixo da linha da pobreza), e outro em frente ao Hôtel de Ville (a Prefeitura de Paris), às margens do Rio Sena, no coração glamouroso da Cidade Luz. E é claro que tem mais uma mensagenzinha nas entrelinhas: o “fan site” do Hôtel de Ville será inaugurado, oh la la, em 14 de julho de 2024.
Além disso, a grande novidade em termos de celebração popular nos Jogos de Paris promete ser o chamado Champions Park, mais uma fan fest, desta vez no Trocadéro, aos pés da Torre Eiffel. Com esse palco inédito em Jogos Olímpicos de Verão, Paris 2024 espera receber mais de mil medalhistas de diversos países ao longo de dez dias, diante de um público estimado de 150 mil pessoas.
Enfim, Paris 2024, use como quiser.
Manoela Penna é consultora de comunicação e marketing, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte