Começar o ano falando de 2023 pode ser sinal de perda de timing para o artigo ou até mesmo inadequação de conteúdo para o início do ano, na janela das férias dos jogadores e dos times brasileiros, antes do início dos Campeonatos Estaduais.
Entretanto, para tentar explicar um dos temas que me movem ao escrever meus artigos, que é o engajamento de fãs, trago dois temas que notadamente marcaram 2023, bem como uma definição sobre o assunto, criada por um dos profissionais mais completos do segmento esportivo, que você saberá ao final desse artigo.
O primeiro deles e que seguramente ajudou a aquecer o ano, foi a inteligência artificial (IA), principalmente quando a Microsoft anunciou investimentos de US$ 10 bilhões na OpenAI, responsável pela ferramenta de IA ChatGPT.
O grande sucesso do ChatGPT, da OpenAI, despertou a atenção do mundo para a inteligência artificial generativa (IA Gen). A ferramenta responde a perguntas de usuários com base em milhões de dados da internet e foi uma das responsáveis por acelerar a corrida pela IA.
Alguns clubes brasileiros e agências de engajamento de fãs já se apropriaram da tecnologia, como foi o caso do SAC do plano de sócios-torcedores do Botafogo, o Camisa 7. Com a não conquista do Campeonato Brasileiro, a central de relacionamento do clube teve um volume considerável de chamadas adicionais por seus diversos canais de contato, principalmente pelo WhatsApp.
Entretanto, com a aplicação de processos estruturados e de tecnologia de IA, não só foi possível absorver de forma consistente o aumento de demanda por conta da insatisfação de seus milhares de torcedores, mas também atender as reclamações, sugestões, cancelamentos e retenção de clientes, sem que necessariamente houvesse a ampliação do quadro de colaboradores de atendimento. O uso da IA permitiu que os atendimentos fossem feitos de forma humanizada, com alta capacidade de resolução e com custos controlados e muito mais baixos, sem perdas significativas nos atendimentos e sem aumento do quadro de colaboradores, graças ao uso da tecnologia.
O outro tema é a mistura imbatível de TV + internet: a combinação une os dois meios mais populares entre os brasileiros e é responsável pela escalada do streaming. O dispositivo que fez esse mix acontecer é a TV conectada (CTV). Isso se deve, sobretudo, à oferta de aparelhos que saem com conectividade embutida das fábricas de LG, Sony, TCL, Samsung e outras grandes marcas. Estima-se que o tamanho global do mercado de Smart TVs seja de US$ 269 bilhões.
Mas o que isso tem a ver com esportes e qual a relação entre os dois temas?
O termo “economia da atenção” define o processo em que o foco e a atenção passam a ser encarados como mercadoria. Ao contrário do conteúdo e das informações, a atenção humana pode ser limitada, seletiva e dispersa. Uma série de dados e estímulos são deixados de lado para que outras informações ganhem espaço na atenção dos usuários. E é aí que entra o esporte na análise.
Um estudo do Instituto Gartner com a Domo apontou que, em um ano, o mundo havia gerado mais de 40 trilhões de gigabytes de dados. À frente dessa corrida, estão as plataformas de mídia e entretenimento, que sofisticaram recursos com algoritmos e estudos de comportamento para determinar o que há de mais relevante para cada perfil. Esses estudos começam de fato a tomar forma quando falamos de consumo de esportes em geral.
Não por acaso, as plataformas de streaming investem cada vez mais em conteúdos e documentários que exploram o tema, como é o caso do impagável e emblemático “The Last Dance”, da Netflix, que ativou o modo ON para o consumo da NBA, bem como da marca e dos produtos que envolvem o nome de Michael Jordan. Outro grande exemplo se dá na retomada do interesse pela F1 provocado pelo fantástico “Drive to Survive”. De acordo com dados da rede ESPN, que transmite a modalidade nos EUA, a média de espectadores por corrida aumentou de cerca de 547 mil, antes da estreia da série documental, para cerca de 928 mil em 2021. E esse número vem aumentando ano após ano desde o lançamento.
Fato é que esse tipo de conteúdo deve aumentar de forma ainda mais importante, já que as plataformas ainda devem ampliar o número de transmissões de competições ao vivo, como por exemplo a Amazon, com os jogos do Campeonato Brasileiro na conexão com o Premiere, bem como outras modalidades, incluindo a NBA.
Raramente arrisco palpitar sobre o futuro ou cravar ideias que podem ser facilmente desconstruídas, seja por falta de consistência ou simplesmente porque não se sustentam ao longo do tempo. Mas vou abrir uma exceção e provocar uma reflexão que tenho convicção de que irá acontecer.
Em muito breve, haverá uma conexão full entre IA e TV conectada (CTV). Os consumidores de esportes comprarão produtos e interagirão em tempo real com marcas e ídolos com o uso dos trilhões de gigabytes de dados e uso adequado dos algoritmos de comportamento de quem está assistindo TV em casa. Imagine que sua TV possa não só fazer o nosso reconhecimento facial, mas ler a nossa emoção em tempo real e indicar nossa disposição para comprar algo, falando ou clicando com a nossa Smart TV.
Aquela roupa usada por David Beckham no documentário da Netflix pode ser comprada e entregue na sua casa pelo simples fato de que todos esses elementos juntos conectaram a sua emoção e geraram estímulo para o consumo. Maluco? Com cara de Black Mirror?
O que posso dizer é que engajamento de fãs, segundo um dos profissionais mais brilhantes do nosso segmento, Bruno Dias, o Batata, nada mais é do que gerar influência na audiência adquirida, seja ela qual for e sem importar o canal de contato com o consumidor. Assim, esses dois temas do artigo, baseados em marktech, certamente são exemplos muito bem-acabados dessa brilhante definição que considero definitiva sobre o tema.
Reginaldo Diniz é cofundador e CEO do Grupo End to End e escreve mensalmente na Máquina do Esporte