Sucessos da mídia em Paris 2024 mostram caminho para Cazé TV e Globo

Cazé TV e Globo dividiram a atenção do fã durante as Olimpíadas - Divulgação

Cazé TV e Globo dividiram a atenção do fã durante as Olimpíadas - Divulgação

Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 tiveram como grande novidade, no mercado brasileiro, a divisão entre o Grupo Globo e a Cazé TV dos direitos de transmissão do evento. Ainda sem ter qualquer métrica viável e possível de comparar a audiência de um veículo e de outro, o que se pode observar é que uma mídia não substituirá a outra. E que a coexistência entre elas pode ser, no fim das contas, boa para todos, especialmente o fã.

O primeiro ponto a se observar é que é inviável querer comparar a audiência de uma mídia e de outra. A Globo e seus canais de TV têm, há décadas, uma métrica confiável e conhecida de medição de audiência, que é o Ibope. Do outro lado, a Cazé tem basicamente como detalhamento os números trazidos pelo YouTube. Eles até podem vir a ser parâmetro para o mercado no futuro, mas atualmente não podem ser vistos como verdade absoluta.

A audiência da TV exige que a pessoa fique, ao menos, alguns minutos ininterruptos sintonizadas naquele canal para que seja contabilizada a sua presença naquele evento. O YouTube, com menos de 5s, já diz que houve uma pessoa assistindo àquele conteúdo. Se você sai do canal e volta para ele na TV, um novo “ponto” de audiência não é registrado. Se eu saio e volto para uma transmissão no YouTube, o contador de giros apontará que duas pessoas assistiram àquele evento. Se eu ligar o mesmo conteúdo em três aparelhos diferentes, também. No caso da TV, o Ibope sintoniza seu medidor em apenas um domicílio, sem duplicar o alcance

Por que é fundamental deixar isso claro? Porque isso impacta, diretamente, na sensação de alcance de um determinado evento.

Enquanto institutos de medição de audiência não souberem contabilizar direito o número de pessoas que consomem vídeo on-line, teremos um mundo em transição, com muito mais dúvidas do que certezas.

E aí temos de analisar como é a repercussão do grande público com os eventos que são transmitidos nas diferentes plataformas para tentar entender qual é a realidade.

Furando a bolha

Até agora, a Cazé teve movimentos que “furaram a bolha” do esporte em apenas duas ocasiões. As transmissões de Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. Coincidência ou não, eventos que tinham também a transmissão da Globo, além de maciça cobertura da mídia em geral. Nos eventos em que não havia tanta repercussão nacional, a Cazé teve bons índices, mas não conseguiu furar qualquer bolha, mesmo tendo direitos exclusivos sobre eventos de alto alcance.

Só para comparar, um clássico entre São Paulo e Corinthians, pelo Campeonato Paulista deste ano, transmitido com exclusividade no canal, alcançou 4 milhões de espectadores simultâneos, segundo os dados da própria empresa. O mesmo número foi obtido nessa Olimpíada com a ginástica artística feminina.

Esse exemplo ilustra bem a diferença entre ter um grande evento ou ter direitos exclusivos de transmissão. A Cazé TV é um sucesso, mas incomparavelmente menor do que qualquer emissora de TV aberta, ainda mais da Globo.

É só perceber o quanto a própria emissora não foi notícia durante as transmissões, a não ser nos erros cometidos. Rômulo Mendonça, que entrou de última hora para narrar alguns eventos olímpicos, não alcançou o status de herói nacional como havia sido no Rio 2016, quando suas narrações do vôlei pela ESPN viraram referência nacional e atraíram diferentes fãs para o canal, mesmo com todas as mídias transmitindo a competição.

Mas Paris 2024 deixa como legado uma das melhores ideias que a Cazé teve para ajudar a impulsionar um pouco o atleta brasileiro. As campanhas para que os competidores ganhassem novos seguidores em seus perfis no Instagram foram fabulosas e ganharam repercussão enorme dentro da bolha digital.

Mas, prova do próprio alcance limitado que o streaming ainda tem, os esportistas em sua maioria ganharam dezenas de milhares de seguidores. Uma campanha do gênero que fosse feita na Globo durante a transmissão, por mais que fosse num meio não-nativo digital, e o resultado seria, no mínimo, quintuplicado. É só ver o estouro que qualquer integrante de BBB tem em suas redes após aparecer na TV aberta.

O fato é que o esporte brasileiro parece ter entendido que não se vive só de TV aberta, mas é fundamental perceber que é ela quem impulsiona e direciona ainda as conversas que vão desembocar nas redes sociais.

Cazé e Globo vão coexistir. Com negócios de tamanhos distintos, tal qual a proporção de impacto de audiência que ambos têm. Os Jogos Olímpicos comprovaram mais uma vez o quanto o streaming precisa de um alcance realmente nacional de TV aberta para ganhar mais relevância. Do contrário, só conversará com o nicho do fã.

E isso é tudo o que quem precisa promover o esporte não precisa. A bolha precisa ser furada. E isso, no Brasil, ainda é só a TV aberta quem consegue fazer.

Sair da versão mobile