Estamos desvalorizando o nosso produto

Mesmo sem torcida, duelo entre Atlético-MG e Botafogo, válido pelo Brasileirão, ficou marcado por confusão e violência - Reprodução / ESPN

A ideia desse texto surgiu há uns dois meses, quando a pauta sobre erros de arbitragem, principalmente na utilização do VAR, estava muito intensa rodada após rodada.

Está chato de ver treinadores, jogadores e dirigentes, toda quarta e domingo, indo à mídia fazer pressão sobre determinado jogo em que eles entendiam que haviam sido prejudicados.

O fato de eu ter esperado escrever sobre o tema foi até bom, pois aproveito a pauta da arbitragem e somo a pauta sobre brigas e agressões que se tornaram comuns no futebol brasileiro.

Começando pela arbitragem, está cansativo demais ver manifestações toda rodada. O representante de um clube questionando a arbitragem. O fato é que só vemos manifestações quando o clube é prejudicado por um erro. Nunca vemos declarações citando que o clube foi beneficiado naquela partida.

Na minha percepção, os fatores que mais geram erros de arbitragem, além da não profissionalização do setor, são a pressão e o comportamento inadequado dos atletas em campo.

Desde criança, aprendemos que esporte é respeito, lealdade, companheirismo e trabalho em equipe. Não é vencer a todo custo, como ultrapassando a barreira da honestidade, por exemplo. Parece demagogo, sim. Mas muitas das vezes os valores se invertem no mundo da bola. Não há respeito ao adversário como vemos em outros esportes.

Recentemente, tivemos um caso de fair play do atleta brasileiro Pepê, que joga no Porto, de Portugal. O atacante não seguiu com uma jogada, de cara para o goleiro, porque o zagueiro do time adversário havia sentido a perna no lance. 

Esse gesto fez com que o atleta brasileiro fosse aplaudido de pé por todo o estádio.

Precisamos de bons exemplos. Não dá mais.

Por isso, defendo que o futebol deveria parar o tempo, como no basquete, pelo menos nos acréscimos. Cera em pleno 2024 é muito deprimente.

Não dá para gostar só quando é a seu favor. Não é legal nem a favor nem contra.

Cera, simulação, pressão exacerbada no árbitro, pressão de dirigente na mídia. Não dá mais. Que façam pressão antes do campeonato, para profissionalizar e melhorar a preparação de cada um dos árbitros.

Brigas e agressões não são só questões de torcidas

Outro assunto que trago é sobre brigas e agressões. Tem muita gente que coloca sempre a culpa nos torcedores, principalmente nas torcidas organizadas. É claro que a maioria dos episódios as envolve, mas está longe de ser sempre.

Tivemos recentemente uma briga envolvendo torcedores do Cruzeiro e do Palmeiras, que culminou na morte do jovem José Victor, da Máfia Azul, torcida do Cruzeiro.

Novamente digo: estamos em 2024, não dá mais.

Não dá para um assunto como esse passar impune.

Em um momento decisivo de um grande campeonato, como foi a final da Copa do Brasil, não dá para presenciarmos atos de agressões e vandalismo, como vimos na Arena MRV.

Não dá para ver em momento algum, na verdade.

“Ah, mas são só os torcedores que geram isso”.

Os atletas, dirigentes e a própria mídia também têm o seu papel nesse assunto.

Vimos cenas lamentáveis na última quarta-feira (20), no confronto entre Atlético-MG e Botafogo. Mesmo em um estádio sem torcida, episódios de agressões. E mais uma vez, no dia seguinte, as pautas eram todas sobre a confusão que rolou na Arena Independência.

Como criar campanhas para as torcidas pararem de brigar se até mesmo os grandes astros do espetáculo não conseguem se conter e dar exemplo de comportamento?

Provocação, zoeira e tiração de sarro são super bem-vindas. O futebol precisa disso.

Mas hoje em dia não se pode mais brincar, que já vira pauta de desrespeito.

Acho que uma brincadeira sadia é válida. O que não pode é passar do limite e isso virar agressão física.

Como marqueteiro que sou, fico imaginando a cabeça de um CEO ou de um diretor de marketing de uma empresa que pensa em investir no futebol ao ver que a mídia fala boa parte do tempo sobre erros de arbitragem, manipulação de resultados e agressões de torcedores e jogadores.

Ele vai repensar.

O fato é que estamos em 2024, e uma marca, com a atual força do digital e a rapidez da propagação da informação, tem pavor de pensar na possibilidade de se ver envolvida como patrocinadora de um evento que gera pautas negativas.

Em resumo, estamos desvalorizando nosso produto.

E isso é péssimo para absolutamente todos os envolvidos.

Bernardo Pontes, executivo de marketing com passagens por clubes como Fluminense, Vasco, Cruzeiro, Corinthians e Flamengo, é sócio da Alob Sports, agência de marketing esportivo especializada em intermediação e ativação no esporte, que conecta atletas e personalidades esportivas a marcas, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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