Nos meus tempos de colégio, tinha uma querida professora que dizia que era revisitando o passado que entendíamos o presente e poderíamos construir um futuro melhor. Apaixonada pela disciplina, ela sabia de cabeça todos os nomes, datas, horas e até as roupas que as figuras históricas usavam nos acontecimentos mais importantes da história do Brasil e do mundo. A aula era quase uma viagem no tempo. A sua paixão pela matéria despertou o meu interesse pela história, e, a partir daí, comecei a tirar boas notas, mesmo sentando com a turma do fundão.
Recentemente, visitando os estádios e arenas dos Estados Unidos, aquela frase da minha professora de história, dos longínquos tempos de colégio, voltou a fazer muito sentido: reviver o passado para entender o presente e construir um futuro melhor. Na verdade, pude perceber que esse lema também é adotado por quase todas as franquias (como eles chamam os clubes por aqui) das mais variadas modalidades esportivas.
Os estádios e arenas norte-americanas nos impressionam em muitos aspectos, mas, quando se trata de contar a história dos clubes e exaltar os ídolos do passado, percebe-se que existe uma preocupação e um carinho especial com o tema. Os nomes dos maiores ídolos, sejam jogadores, treinadores ou até dirigentes, sempre recebem um destaque especial, de uma maneira que todos possam ver. Feitos históricos e títulos também são lembrados. Taças, fotos, pinturas, letreiros e estátuas servem como ornamentação do entorno, e os corredores dos estádios e o caminho até o assento transformam-se quase em uma visita a um museu do seu amado clube. Alguns extrapolam a homenagem de feitos esportivos e também celebram o passado de torcedores icônicos e pessoas relevantes para a sociedade.
Esses cuidados em contar a própria história e o apreço com os ídolos do passado são fundamentais para que nunca esqueçamos o caminho percorrido por muitos para construir a história e, principalmente, para que o clube nunca perca o seu propósito de existência, que não pode ser somente vitórias e títulos.
As paredes acinzentadas dos nossos estádios deveriam ganhar mais cores, com fotos, pinturas, troféus, nomes e estátuas celebrando o passado incrível de clubes com mais de 100 anos de existência e com histórias de lutas e conquistas dentro e fora de campo. Não faltam ídolos em nenhum clube, então chegou a hora de tirá-los dos museus e dos camarotes e trazê-los para fazer parte dos jogos. Afinal de contas, uma torcida sem memória é um clube sem futuro.
Romulo Macedo é chefe de operações de mídia da Copa América 2024 e escreve mensalmente na Máquina do Esporte