Talvez apenas os geeks entenderão esse comentário, mas imaginem juntar os fãs de Star Wars e Star Treck na mesma sala para tentar tirar o melhor de ambas as séries. Conseguiram visualizar a cena? Com Web2 e Web3 é mais ou menos isso. O mau humor da Web 2.0 junto à arrogância da Web 3.0 estão contribuindo para experiências terríveis do usuário na tecnologia de ponta.
As pessoas da Web3 geralmente não estão interessadas em lições do passado, e as pessoas com experiência em tecnologia não precisam da Web3 (pelo menos até o momento). Até que haja um encontro de mentes, o blockchain UX (User Experience ou Experiência do Usuário, em português) será péssimo, o que contribui para que o produto também tenha dificuldade de se tornar atrativo para as massas.
Nos últimos anos, venho me envolvendo bastante com tecnologia Web3, uma vez que ela está presente na startup que sou sócio desde 2021. Assim, já cruzei com algumas “personas” bastante interessantes nesse meio-tempo.
Nativos
Os nativos, aqueles que podemos chamar também de criptonativos, são pessoas que vivem e respiram a Web3 há anos. Causam admiração por onde passam e possuem a sensação intrínseca de estarem construindo o futuro. Alguns sentem até mais do que isso. Sentem que estão destruindo o presente para mudar o mundo. Acredito que os inventores da Web2 sentiam a mesma coisa e pelas mesmas razões.
O problema dessas pessoas é que o discurso delas ainda soa grego para as pessoas comuns. Assim como a apresentação do produto ainda não é agradável aos olhos da maioria. É claro que, ao longo de 2022, por meio de erros e acertos, muita coisa veio mudando. Mas o dilema entre UX e produtos dentro da Web3 será o grande desafio desse mercado.
A partir dessa perspectiva (de rompimento com o passado), não faz sentido para os fundadores da Web3 olhar para as práticas da Web2. Romper com velhos padrões e valorizar a criatividade é o cerne do DNA da Web3. A Web3, revolucionária e descentralizada, quer romper padrões. Sendo assim, como pode ela usar algo da Web2?
Tudo é candidato a um redesenho revolucionário. A Web3 está reinventando coisas enormes, como confiança, dinheiro e identidade digital, então por que não reinventar a “experiência do usuário” e a “apresentação do produto?” Por que usar práticas antigas para inventar algo novo?
Com Bagagens
Por outro lado, outras vezes cruzo com alguns projetos de Web3 que falharam. Ter um projeto da Web3 com falha, porém, não significa que a falha tenha acontecido no produto. Às vezes, mesmo com falhas, alguns projetos são capazes de serem estancados, melhorados e receberem ofertas de financiamento antes de explodirem. Se o produto for bom e capaz de atrair usuários, escalar e tracionar, com certeza tem chance de ser promissor.
Nossos personagens com bagagens são pessoas que estão liderando a Web3, mas que trazem experiências da Web2. Possuem experiência e já investiram no potencial da Web3. Mas mais do que isso. Eles veem a Web3 como inevitável. Não estão negando sua chegada. Por isso, buscam lançar produtos na Web3 testando em usuários da Web2. Eles têm experiência no mundo real usando coisas como ágil e viram processos de design centrados no usuário em ação.
O que vimos nos últimos anos?
A grande maioria das experiências de usuários foram terríveis, com produtos monstruosamente confusos, produzidos por equipes que ignoram até mesmo as melhores práticas básicas. Lançamentos de produtos supertecnológicos são desprezados por pessoas de UX que podem e devem ficar fascinadas com o potencial incompreensível da Web3 e o desafio de fazê-la fazer sentido.
Não basta ter apenas um bom produto. Ele tem que ser prático para seu usuário.
Não basta ser prático para seu usuário. O produto também precisa ser bom.
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Fernando Fleury é CEO da Armatore Market+Science, PhD em Comportamento do Consumo e trabalha com inovação e tecnologia para criar novos modelos de negócios para a indústria com a construção de soluções avançadas e modelos preditivos usando inteligência artificial, aprendizado de máquina e ciência de dados para entender o ciclo de vida dos produtos, criar novos produtos, identificar e rastrear clusters a fim de aumentar a receita, o público e o envolvimento dos fãs, entre outros. Ele escreve mensalmente na Máquina do Esporte.