Um dos desafios do mercado de apostas esportivas é o combate contra manipulações de resultados. Com a regulamentação do setor, iniciada no dia 1º de janeiro, os esforços pela integridade esportiva no país se tornaram mais eficientes.
Em entrevista à Máquina do Esporte durante o BIS Sigma Summit Américas 2024, Felippe Marchetti, gerente de parcerias de integridade da Sportradar, exaltou o impacto positivo causado por algumas novas regras, como a obrigatoriedade de denunciar suspeitas de manipulação.
“Uma das ferramentas que utilizamos para detectar jogos suspeitos é a informação que vem de operadores de casas de apostas. Por exemplo, para apostas em cartão, dependemos muito da informação vir também dos operadores”, contou o executivo.
“O mercado regulamentado ajuda os operadores a terem mais segurança de participarem de ações relacionadas à integridade. Mas acho que o caminho ainda é muito longo”, acrescentou.
Educação
A luta contra a manipulação de resultados nos esportes passa pela conscientização dos atletas sobre questões de integridade esportiva. Para isso, Felippe Marchetti defende a necessidade de iniciativas que instruam os jogadores.
“Ainda existem muitas nuances que eles não têm acesso ou não têm consciência sobre. Por exemplo, o fato de que o atleta não pode apostar, não só no evento que ele está envolvido, mas ele não pode apostar de maneira nenhuma. Ou o fato de compartilhamento de informação”, exemplificou.
Existe, por exemplo, a noção de que para um caso ser considerado manipulação de resultado o atleta precisa ter a intenção de fazê-lo. Porém, até mesmo o compartilhamento de informações internas, ainda que de maneira inocente, oferece risco à integridade esportiva.
Um dos principais desafios na educação dos atletas está em atingir jogadores de todos os níveis dos esportes, incluindo divisões inferiores, de categorias de base ou amadoras. Estes, por terem salários e visibilidade menores, se tornam mais vulneráveis.
“Ainda precisamos de uma política mais estruturada no Brasil para que essa educação não chegue só no clube grande, mas também chegue nos clubes menores”, avaliou Marchetti.
“Esse trabalho precisa ser continuado e estruturado. Precisamos cobrar uma certificação de que o atleta, para poder participar dos campeonatos, tenha que fazer os treinamentos educacionais. É um caminho que eu vejo com bons olhos”, completou.
Trabalho conjunto
A Sportradar, em parceria com federações estaduais, possui iniciativas que buscam diminuir essa defasagem observada em divisões inferiores a partir de treinamentos específicos.
“Temos uma plataforma de educação com as três federações do Sul, que é um treinamento on-line que pode levar para os atletas. A Federação Paranaense levou esse treinamento para mais de 1.100 pessoas nos últimos 45 dias. Desde o profissional da Série A do Paranaense até o amador, incluindo categorias de base”, revelou Felippe Marchetti.
“É um papel de todos, federações, casas de apostas, Ministério da Fazenda, Ministério do Esporte, das empresas que trabalham com monitoramento. É um trabalho conjunto de todos para conseguirmos criar uma política que consiga ter diferentes vertentes e levar essa educação para diferentes setores”, acrescentou.
A Sportradar é uma das principais empresas responsáveis pelo monitoramento de jogos ao redor do mundo. Com o último acordo com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), todos os jogos do Brasil serão monitorados. Somando-se com a parceria com a Fifa, são aproximadamente 10 mil partidas monitoradas no Brasil.
“Somos parceiros da CBF, de 17 federações estaduais e da Confederação Brasileira de Vôlei [CBV] para monitorar os jogos. Então, a gente monitora tanto o mercado legal quanto o mercado ilegal, produz os relatórios e manda esses relatórios para as entidades esportivas”, explicou o gerente de parcerias de integridade da Sportradar.
A empresa, que tem sede na Suíça, também possui parcerias com instituições públicas, como a Secretaria de Prêmios e Apostas (SPA), órgão do Ministério da Fazenda (MF) responsável pelas áreas de apostas de quota fixa, entre várias outras.
“A Sportradar é considerada um organismo independente de integridade. Então, temos uma rede de 124 operadores ao redor do mundo, aproximadamente 45 no Brasil, que têm nosso certificado de integridade”, lembrou Marchetti.
“Eles têm acesso a uma plataforma em que podem reportar e ver partidas que já foram reportadas por outros operadores. Aí, analisamos a suspeita. A partir disso, eles vão e reportam também para o regulador”, detalhou o executivo.
Futuro
Para Felippe Marchetti, mesmo que a regulamentação tenha auxiliado na evolução da integridade esportiva no Brasil, ainda existe um longo caminho a ser percorrido.
“Precisamos de ações mais estruturantes, por parte também de política nacional, que já está começando a ser construída, de combate à manipulação, para termos uma política nacional que vai levar essa educação para todo mundo. De uma maneira estruturada e que chegue desde o clube muito grande até o clube bem pequeno”, concluiu o gerente de parcerias de integridade da Sportradar.