A polêmica financeira envolvendo os jogadores Willian Bigode, do Fluminense, e Gustavo Scarpa, do Nottingham Forest, tornou-se um dos assuntos mais comentados desta semana, rendendo inúmeras reportagens na mídia e memes nas redes sociais.
O caso, que também tem como protagonistas o lateral-direito Mayke e o goleiro Weverton, ambos do Palmeiras, envolve cifras milionárias e demonstra que a educação financeira continua a ser uma espécie de “calcanhar de Aquiles” e tanto para os atletas profissionais do futebol, esporte mais popular do Brasil.
Luigi Wis, especialista em investimentos da Genial, define a educação financeira como “o conhecimento de princípios básicos que regem nossa relação com o dinheiro, a importância de ter um orçamento organizado, o conhecimento dos conceitos de poupança e planejamento, assim como o conhecimento dos produtos básicos do mercado financeiro brasileiro”.
“Saber, por exemplo, o que é a Taxa Selic, taxa de juros básica da economia brasileira, e saber que qualquer promessa de retorno que oferece um rendimento superior a ela possui algum tipo de risco, já seria suficiente para evitar que muitas pessoas caíssem em golpes. Hoje, a Selic está em 13,75% ao ano, ou 1,08% ao mês, portanto qualquer oferta de investimento com rendimento superior a esse oferece risco. E quanto maior a diferença para a Selic, maior esse risco”, afirmou Wis.
Entenda a polêmica
Gustavo Scarpa, Mayke e Weverton afirmam ter sido vítimas de um golpe de mais de R$ 11 milhões, em uma operação com criptomoedas feita pela XLand, exchange sediada no Acre e especializada na gestão de criptoativos por meio de contratos de custódia.
A operação foi recomendada pela empresa WLJC, que tem Willian como um dos sócios. Mayke e Scarpa registraram Boletim de Ocorrência contra o ex-colega de Palmeiras. O primeiro alega ter investido R$ 4,5 milhões na XLand, com a promessa de receber R$ 3,2 milhões de retorno. Já o meia, que foi eleito o craque do Brasileirão de 2022, entregou R$ 6,3 milhões à exchange.
Mercado cripto é volátil e imprevisível
Escândalos e polêmicas envolvendo empresas que atuam no mercado de criptoativos têm sido recorrentes no Brasil e ao redor do mundo nos últimos anos.
“Em 2020 e 2021, houve períodos de altas expressivas nas criptomoedas. O bitcoin, por exemplo, subiu mais de 400% em reais em 2020. Isso ficou no imaginário das pessoas, acreditando que esse fenômeno poderia se repetir. Mas é importante ficar claro que não existe absolutamente nenhuma garantia de alta em criptomoedas. É um ativo de alta volatilidade e imprevisibilidade. Quem oferece rendimento garantido utilizando criptomoedas está ludibriando potenciais investidores”, explicou Wis.
Segundo o especialista, pessoas interessadas em investir nesse mercado devem ficar atentas antes de fecharem qualquer negócio.
“Uma forma bastante segura de adquirir criptomoedas é através de fundos negociados na Bolsa B3. Existem diversos ETFs [Exchange-Traded Fund, ou fundo de índice, um fundo de investimento negociado na Bolsa de Valores como se fosse uma ação] que acompanham a variação dessas moedas. Mas é importante ter em mente que, apesar de ser um método seguro de adquirir criptomoedas, isso não garante um resultado positivo, pois o valor pode cair”, salientou.
A Máquina do Esporte entrou em contato com as assessorias de Gustavo Scarpa e de Willian Bigode, mas não obteve retorno. Na noite desta segunda-feira (13), o atleta do Fluminense divulgou um vídeo, procurando se esquivar das acusações.
“Não sou dono e nem sócio da XLand, muito menos golpista. Até porque não peguei dinheiro de ninguém. Eu sou vítima, porque até hoje não recebi meu recurso. E o mais doloroso, constrangedor e triste é ver e ouvir mentiras e calúnias, mas minha equipe de advogados já está tomando todas as medidas cabíveis”, afirmou.
Diminuir os riscos
Entre os fatos dessa novela financeira que viralizaram nas redes, o diálogo entre Scarpa e Willian talvez seja o mais surreal.
“É meu patrimônio quase todo, não posso correr esse risco de perder”, disse o ex-meia do Palmeiras, recebendo como resposta: “Questão que agora é orar”.
Na avaliação dos especialistas em finanças, aplicar todo o patrimônio em um mesmo investimento, por mais promissor que ele possa parecer, é um dos erros mais graves que alguém pode cometer. Diversificar é o melhor caminho para evitar decepções.
“A diversificação é fundamental. Uma carteira de investimentos deve ter diversos ativos diferentes, e posições de alto risco devem representar a menor parcela da carteira. Jamais se deve alocar 100% do patrimônio em um investimento de altíssimo risco. Para criptomoedas, por exemplo, é recomendado que a alocação fique entre 1% e 5% da carteira. Mesmo para ações de grandes empresas, o que já é um investimento com menos risco que criptomoedas, é prudente limitar essa exposição a 15% do total”, destacou Luigi Wis.
Além disso, ele ponderou que a educação financeira é essencial, mesmo para quem não dispõe de tanto tempo ou recursos para investir em formação.
“Hoje, temos diversas plataformas de educação financeira disponíveis na internet, muitas delas gratuitas. A própria Genial oferece um canal bastante completo para todos os perfis, o Genial Educação, com cursos de interesse de iniciantes a investidores mais experientes”, finalizou o especialista.