Pular para o conteúdo

Caso Willian Bigode x Gustavo Scarpa: Educação financeira é “calcanhar de Aquiles” de jogadores

Ao lado de outros atletas famosos, meia que atualmente está no Nottingham Forest, da Inglaterra, perdeu uma fortuna em investimentos em criptomoedas

Craque do Brasileirão 2022, Gustavo Scarpa está atualmente no Nottingham Forest - Reprodução / Instagram (gustavoscarpa10)

A polêmica financeira envolvendo os jogadores Willian Bigode, do Fluminense, e Gustavo Scarpa, do Nottingham Forest, tornou-se um dos assuntos mais comentados desta semana, rendendo inúmeras reportagens na mídia e memes nas redes sociais.

O caso, que também tem como protagonistas o lateral-direito Mayke e o goleiro Weverton, ambos do Palmeiras, envolve cifras milionárias e demonstra que a educação financeira continua a ser uma espécie de “calcanhar de Aquiles” e tanto para os atletas profissionais do futebol, esporte mais popular do Brasil.

ANÁLISE: No fio do Bigode

Luigi Wis, especialista em investimentos da Genial, define a educação financeira como “o conhecimento de princípios básicos que regem nossa relação com o dinheiro, a importância de ter um orçamento organizado, o conhecimento dos conceitos de poupança e planejamento, assim como o conhecimento dos produtos básicos do mercado financeiro brasileiro”.

“Saber, por exemplo, o que é a Taxa Selic, taxa de juros básica da economia brasileira, e saber que qualquer promessa de retorno que oferece um rendimento superior a ela possui algum tipo de risco, já seria suficiente para evitar que muitas pessoas caíssem em golpes. Hoje, a Selic está em 13,75% ao ano, ou 1,08% ao mês, portanto qualquer oferta de investimento com rendimento superior a esse oferece risco. E quanto maior a diferença para a Selic, maior esse risco”, afirmou Wis.

Entenda a polêmica

Gustavo Scarpa, Mayke e Weverton afirmam ter sido vítimas de um golpe de mais de R$ 11 milhões, em uma operação com criptomoedas feita pela XLand, exchange sediada no Acre e especializada na gestão de criptoativos por meio de contratos de custódia.

A operação foi recomendada pela empresa WLJC, que tem Willian como um dos sócios. Mayke e Scarpa registraram Boletim de Ocorrência contra o ex-colega de Palmeiras. O primeiro alega ter investido R$ 4,5 milhões na XLand, com a promessa de receber R$ 3,2 milhões de retorno. Já o meia, que foi eleito o craque do Brasileirão de 2022, entregou R$ 6,3 milhões à exchange.

Mercado cripto é volátil e imprevisível

Escândalos e polêmicas envolvendo empresas que atuam no mercado de criptoativos têm sido recorrentes no Brasil e ao redor do mundo nos últimos anos.

“Em 2020 e 2021, houve períodos de altas expressivas nas criptomoedas. O bitcoin, por exemplo, subiu mais de 400% em reais em 2020. Isso ficou no imaginário das pessoas, acreditando que esse fenômeno poderia se repetir. Mas é importante ficar claro que não existe absolutamente nenhuma garantia de alta em criptomoedas. É um ativo de alta volatilidade e imprevisibilidade. Quem oferece rendimento garantido utilizando criptomoedas está ludibriando potenciais investidores”, explicou Wis.

Segundo o especialista, pessoas interessadas em investir nesse mercado devem ficar atentas antes de fecharem qualquer negócio.

“Uma forma bastante segura de adquirir criptomoedas é através de fundos negociados na Bolsa B3. Existem diversos ETFs [Exchange-Traded Fund, ou fundo de índice, um fundo de investimento negociado na Bolsa de Valores como se fosse uma ação] que acompanham a variação dessas moedas. Mas é importante ter em mente que, apesar de ser um método seguro de adquirir criptomoedas, isso não garante um resultado positivo, pois o valor pode cair”, salientou.

A Máquina do Esporte entrou em contato com as assessorias de Gustavo Scarpa e de Willian Bigode, mas não obteve retorno. Na noite desta segunda-feira (13), o atleta do Fluminense divulgou um vídeo, procurando se esquivar das acusações.

“Não sou dono e nem sócio da XLand, muito menos golpista. Até porque não peguei dinheiro de ninguém. Eu sou vítima, porque até hoje não recebi meu recurso. E o mais doloroso, constrangedor e triste é ver e ouvir mentiras e calúnias, mas minha equipe de advogados já está tomando todas as medidas cabíveis”, afirmou.

Diminuir os riscos

Entre os fatos dessa novela financeira que viralizaram nas redes, o diálogo entre Scarpa e Willian talvez seja o mais surreal.

“É meu patrimônio quase todo, não posso correr esse risco de perder”, disse o ex-meia do Palmeiras, recebendo como resposta: “Questão que agora é orar”.

Na avaliação dos especialistas em finanças, aplicar todo o patrimônio em um mesmo investimento, por mais promissor que ele possa parecer, é um dos erros mais graves que alguém pode cometer. Diversificar é o melhor caminho para evitar decepções.

“A diversificação é fundamental. Uma carteira de investimentos deve ter diversos ativos diferentes, e posições de alto risco devem representar a menor parcela da carteira. Jamais se deve alocar 100% do patrimônio em um investimento de altíssimo risco. Para criptomoedas, por exemplo, é recomendado que a alocação fique entre 1% e 5% da carteira. Mesmo para ações de grandes empresas, o que já é um investimento com menos risco que criptomoedas, é prudente limitar essa exposição a 15% do total”, destacou Luigi Wis.

Além disso, ele ponderou que a educação financeira é essencial, mesmo para quem não dispõe de tanto tempo ou recursos para investir em formação.

“Hoje, temos diversas plataformas de educação financeira disponíveis na internet, muitas delas gratuitas. A própria Genial oferece um canal bastante completo para todos os perfis, o Genial Educação, com cursos de interesse de iniciantes a investidores mais experientes”, finalizou o especialista.