Esporte mais popular do Brasil, o futebol segue impactando a economia do país com cada vez mais força. Superada a fase mais crítica da pandemia de Covid-19 (que paralisou diversos setores da atividade produtiva geral, além de fechar estádios e suspender competições), a modalidade vive, hoje, uma fase ascendente em sua cadeia de reprodução de valor.
Uma pesquisa realizada pelo Itaú Unibanco e divulgada nesta semana registrou um aumento nos gastos feitos por torcedores com times de futebol. Os valores transacionados em compras tiveram alta de 8% no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2022. Já o volume total de transações cresceu 6%.
A Geração Y, formada por indivíduos nascidos entre 1981 e 1996, lidera o ranking de consumo, respondendo por 40% das compras. Ela é seguida pela Geração X, das pessoas que nasceram entre 1965 e 1980, com 35% do total. Babyboomers (1946 a 1964) e Geração Z (1997 a 2010) aparecem, respectivamente, com 15% e 10%.
Por outro lado, a Geração X e os Babyboomers possuem um tíquete médio maior, na faixa de R$ 142 por transação, ao passo que na Geração Z ele fica em R$ 110.
Entre os clubes analisados, o São Paulo foi aquele em que a Geração Z apresentou maior representatividade, acima da média nacional. Os torcedores mais jovens do clube foram responsáveis por 14% do faturamento e 21% das compras realizadas. Por outro lado, no Fluminense, a Geração X é a que mais consome, com 37% das transações e 39% do total gasto. No Bahia, essa faixa etária também é a mais representativa, com 38% das operações e 39% do dinheiro investido.
A pesquisa do Itaú também mostrou um recorte do perfil de renda dos torcedores/consumidores: 48% dos gastos e 41% das transações concentram-se na população com renda acima de dez salários mínimos. Já aqueles que ganham até dois salários mensais respondem por apenas 10% do volume de dinheiro transacionado e 12% das compras.
Fator cultural
Em entrevista à Máquina do Esporte, Moisés Nascimento, diretor de dados e analytics do Itaú Unibanco, avaliou que o aumento dos gastos dos brasileiros com o futebol, especialmente no pós-pandemia, é reflexo de uma conjuntura na qual o esporte desempenha um papel central na vida social e cultural do país.
“A paixão pelo futebol está ligada à identidade nacional e, durante o período de restrições, ela representou uma lacuna na sua rotina. A retomada das atividades esportivas trouxe consigo um desejo reprimido de participar e apoiar os clubes, contribuindo assim para esse aumento nos gastos”, explicou o executivo.
Ranking
A pesquisa do Itaú Unibanco analisou o consumo feito por torcedores dos 15 clubes com mais torcedores no Brasil durante o primeiro semestre de 2023.
Maior do país, a torcida do Flamengo foi a que mais investiu e gastou com o clube, com 21,04% do volume total no período analisado. Na sequência, vêm os apoiadores de Palmeiras (14,63%), São Paulo (10,48%) e Fluminense (9,17%).
Já quando o assunto é a quantidade de transações realizadas, a do Palmeiras é quem lidera, com 23,53% do total. Em seguida, estão Flamengo (16,31%), São Paulo (12,01%) e Bahia (10,4%).
A grande surpresa dessa pesquisa é notar que o Corinthians, time que possui a segunda maior torcida do país, aparece apenas na quinta colocação de cada um dos itens analisados.
O clube alvinegro registrou a maior queda no estado de São Paulo, na comparação entre os primeiros semestres de 2022 e 2023. A redução foi de 18% na quantidade de transações e de 26% no total gasto pelos torcedores.
Em contrapartida, o São Paulo foi o que mais avançou no território paulista, com aumentos de 26% e 24% no total gasto e no número de transações, respectivamente. A torcida do Palmeiras liderou com folga o ranking no estado mais rico do país, com 50% das compras e investimentos, e 41% dos gastos.
Apesar da queda acentuada do Corinthians, os quatro grandes clubes paulistas tiveram, no geral, alta de 11% na quantidade de transações e de 5% no faturamento, no comparativo entre os dois períodos.
Razões para crescimentos e quedas
Para Nascimento, existe uma correlação direta entre o momento vivido por uma equipe em campo e o movimento de consumo de seus torcedores.
“Particularmente, o que vejo de mais interessante é o reflexo direto do momento de um time em campo no consumo de seus torcedores, tanto com compra de ingressos enchendo os estádios como na compra de itens relacionados aos clubes. Times como o Bahia, que voltou à Série A este ano, estão entre os que a torcida mais avançou nos gastos desde o ano passado. O Fluminense, que também vive um bom momento, é o time que teve maior aumento de valor consumido por seus torcedores, que mais que dobraram os gastos com o time”
Moisés Nascimento, diretor de dados e analytics do Itaú Unibanco
O comportamento dos torcedores dos clubes de Minas Gerais é um exemplo que confirma o raciocínio do executivo. O levantamento do Itaú Unibanco mostrou uma queda de 52% nas transações e de 59% nos gastos feitos pelos fãs dos dois maiores times do estado. Na época em que a pesquisa foi feita, Cruzeiro e Atlético-MG não viviam bons momentos em campo.
Porém, o retorno à Série A do Brasileirão ainda rendeu algum ímpeto ao cruzeirenses, que responderam por 84% das transações e 60% do total gasto no estado, enquanto os atleticanos ficaram com 16% e 40%, respectivamente.
No Rio Grande do Sul, o fenômeno se repete, só que com movimento geral de alta. O Grêmio (campeão gaúcho deste ano e que fez sua reestreia na elite do Brasileirão) liderou os gastos (75%) e transações (66), contra 34% e 25%, respectivamente, dos torcedores do Internacional.
A alta de 27% no total gasto no primeiro semestre de 2023 registrada no Rio Grande do Sul foi impulsionada pela torcida do Grêmio, que investiu 48% a mais, na comparação com o mesmo período de 2022 (quando o time estava na Série B do Brasileirão). Vale lembrar que, no início deste ano, o clube contratou o uruguaio Luis Suárez. A chegada do atacante ajudou a equipe a alcançar a marca de 100 mil novos sócios-torcedores, além de mobilizar diversos patrocinadores e turbinar a presença do time nas redes sociais.
Metodologia
A pesquisa do Itaú Unibanco analisou transações realizadas com cartões de crédito que tenham relação com os clubes de futebol, como de sócio-torcedor, e compras realizadas no estádio (tanto de ingressos quanto de consumo), em lojas oficiais dos times e no site oficial.
As compras nos próprios clubes lideraram, com 20% do total. Táxis e aplicativos de transporte representaram 13%. Alimentação vem em seguida, com mercados (11%), fast-foods (7,5%) e restaurantes (6,5%). Apenas 2% dos torcedores não realizaram nenhuma transação antes dos jogos.
“Optamos por delimitar o levantamento aos segmentos que temos certeza de que estão relacionados aos times, mas sabemos que os campeonatos movimentam também outros setores, como transporte, alimentação e bebidas, entre outros. Mas os dados que analisamos nos trouxeram insights valiosos sobre o comportamento das torcidas, inclusive mostrando como varia a faixa etária mais engajada em algumas delas”, explicou Nascimento.