O Conselho Deliberativo do São Paulo aprovou, nesta quarta-feira (2), a criação do Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios São Paulo Futebol Clube. O movimento, feito em parceria com as gestoras Galapagos Capital e Outfield, tem como objetivo reestruturar o endividamento bancário e otimizar as fontes de capital de giro do clube.
A votação foi iniciada na noite de terça-feira (1º) e encerrada na tarde desta quarta-feira (2). Dos 225 conselheiros que participaram, 185 (82,22%) votaram a favor, enquanto 40 (17,78%) não aprovaram o contrato.
Os recursos captados pelo fundo serão direcionados para garantir meios para o clube quitar suas dívidas mais caras e arcar com necessidades de capital de giro. Além disso, será implementada uma nova política de governança, que visa, segundo o clube, a “garantir a sustentação da reorganização financeira a longo prazo”.
“O fundo é o instrumento que precisávamos para que o clube possa começar a sanar as dívidas atualmente existentes, que dificultam e atrapalham o fluxo de caixa, com juros altos e vencimento de curto prazo”, disse Julio Casares, presidente do São Paulo.
“A partir da sua implementação, conseguiremos reduzir o custo e preparar o clube para o seu centenário com uma gestão mais sustentável, o que possibilitará maior capacidade de competir com adversários com mais poder financeiro. Teremos um choque de gestão e já vamos implementar também um comitê orçamentário para acompanhar o fluxo do São Paulo”, acrescentou o mandatário.
Recebíveis
A Galapagos Capital, companhia de investimento com mais de R$ 21 bilhões sob gestão, e a Outfield, gestora com investimentos no esporte, estruturaram a operação ao longo do último ano, de acordo com as demandas financeiras do São Paulo.
O fundo adquirirá recebíveis provenientes de negociações envolvendo direitos de transmissão, naming rights e patrocínios, entre outros, e terá prazo indeterminado e séries revolventes. Assim, todos os recebíveis elegíveis gerados pelo clube poderão ser antecipados pelo fundo e transformados em caixa.
“A operação vai ao encontro da tendência recente que aproxima os clubes de futebol do mercado de capitais no Brasil como alternativa para a captação de recursos. O fundo vai ajudar a melhorar a saúde financeira do São Paulo, e os recursos que serão economizados poderão ser investidos em performance esportiva”, disse Andrea Di Sarno, sócio da Galapagos Capital.
Dívidas e limites
A prioridade neste processo de reestruturação financeira é a amortização das atuais dívidas do Tricolor Paulista, mais caras e com prazo mais curto do que a linha oferecida pelo fundo. De acordo com o Relatório Convocados Galapagos 2024, o São Paulo encerrou 2023 com uma dívida líquida de R$ 856 milhões.
Além da redução das despesas, outra vantagem trazida pelo fundo é a imposição de determinados limites nos gastos. Essa moderação deverá ser respeitada pela diretoria do clube para assegurar a disciplina financeira na gestão.
“Ao passo que o esporte movimenta mais dinheiro, ele também vem se sofisticando na forma de buscar financiamento. Nos EUA, isso já é bastante comum, e agora vemos o futebol brasileiro indo pelo mesmo caminho”, comentou Pedro Oliveira, sócio-fundador da Outfield.
“É preciso entender que, apesar do significativo aumento nas receitas, o alto endividamento dos clubes é um sinal claro de que é necessário buscar alternativas mais eficazes para a sustentabilidade financeira”, acrescentou o executivo.
O fundo será composto por cotas sêniores, cujos investidores terão garantias adicionais, e subordinadas, que serão detidas pelo próprio São Paulo.
O Fundo São Paulo soma-se aos fundos presentes no portfólio da Galapagos Capital e da Outfield, em uma parceria iniciada em 2023 entre as casas e que já conta com dois outros fundos focados em antecipações de recebíveis, operações estruturadas e aquisições de legal claims (ações judiciais que contenham créditos que podem ser comercializados) no mercado do futebol.