As cinco principais ligas nacionais europeias já têm uma projeção do próximo ciclo em termos financeiros. O dinheiro, por sinal, é fruto de uma das principais fontes de receita do esporte: os direitos de transmissão domésticos.
Esse é o foco da análise detalhada dos atuais acordos de transmissão nacionais das “Big Five”. A Máquina do Esporte investigou em detalhes a situação presente e, sobretudo, futura nos cenários de Premier League, LaLiga, Bundesliga, Serie A e Ligue 1.
Confira abaixo um resumo de como está cada uma das principais ligas europeias em relação aos direitos de mídia. E, claro, quanto cada uma delas fatura com seu acordo comercial mais relevante.
Premier League lidera em faturamento
Na temporada 2016/2017, a Premier League bateu um recorde ao estabelecer um acordo de direitos de mídia doméstica, válido até 2018/2019, por € 5,94 bilhões (cerca de € 1,75 bilhão ao ano). Esse montante representou um aumento de 70% em relação ao acordo anterior. Desde então, o Campeonato Inglês não conseguiu quebrar o recorde, mas tornou-se espelho para outras competições europeias de futebol, que lutam para obter taxas semelhantes pelos seus direitos de transmissão.
Em 2021, a liga inglesa firmou um acordo próximo, de € 5,54 bilhões, com três veículos: Sky Sports, BT Sport e Amazon Prime Video. Agora, a principal divisão da Inglaterra busca um aumento no leilão para o ciclo de 2025/2026 a 2028/2029, que está em curso e com algumas mudanças. Para isso, a estratégia é aumentar o tempo de contrato e a oferta de jogos.
Mais jogos, mais receita
A Premier League disponibilizará cerca de 270 jogos para transmissão em seu próximo ciclo, um aumento considerável em relação aos atuais 200 jogos. Desta vez, a liga planeja oferecer mais jogos em apenas cinco pacotes e busca um contrato de quatro anos (de 2025/2026 a 2028/2029), em vez do mandato habitual de três anos.
Para isso, cinco rodadas no meio da semana estarão disponíveis em vez das quatro atuais, incluindo o Boxing Day (rodada pós-Natal, tradicional na Inglaterra), com cada pacote contendo entre 42 e 65 partidas.
Vale lembrar que esta é a primeira vez que a Premier League realiza um processo de licitação por seus direitos desde 2016, após a prorrogação imposta pela pandemia em 2021. Atualmente, a Sky Sports tem a maior parcela de jogos ao vivo, com 128 por temporada, enquanto a TNT Sports e o Amazon Prime Video exibem 52 e 20 jogos, respectivamente.
Espera-se que estes três players de mídia estejam na disputa novamente desta vez, embora a Premier League espere que o DAZN (acostume-se com este nome) entre na briga para aumentar a competição.
Bundesliga vai bem, mas pode sofrer com a falta de competição
Assim como a Premier League, o próximo ciclo de direitos nacionais da Bundesliga começará na temporada 2025/2026. O Campeonato Alemão também teve uma supervalorização e viu o valor dos seus direitos nacionais aumentar em 85% durante o leilão para o ciclo de 2017/2018 a 2020/2021.
Atualmente, a maior parte dos direitos está nas mãos da Sky e do DAZN até o final da campanha 2024/2025, em um acordo de quatro anos no valor de cerca de € 1,1 bilhão anuais. Isso é pouco menos que os € 4,64 bilhões que a primeira divisão da Alemanha recebeu anteriormente de Sky, Eurosport e ARD.
O acordo estipula que a Sky transmita 200 jogos aos sábados por temporada, enquanto o DAZN fica com 106 jogos às sextas e domingos. A emissora aberta ProSiebenSat.1 também possui um pacote de direitos com nove partidas ao vivo por temporada.
Um novo aumento é tratado como “improvável” devido à falta de competição entre os órgãos de radiodifusão do país, o que contribuiu para a queda no último leilão.
Entretanto, vale destacar que a falta de competição entre os clubes alemães também pode ser motivo para desinteresse. O Bayern de Munique é campeão do torneio há 11 temporadas consecutivas. Como resposta, a Bundesliga pulverizou a transmissão em diversos veículos, porém, fora da Alemanha.
Com isso, o cenário indica que o valor dos negócios domésticos da Bundesliga deverá permanecer praticamente estável no próximo ciclo.
LaLiga opta por segurança ao estipular contratos mais longos
A LaLiga está na segunda temporada de uma parceria de cinco anos com a Telefónica e o DAZN, avaliada em aproximadamente € 4,95 bilhões, estendendo-se de 2022/2023 até o final de 2026/2027.
O acordo permitiu ao DAZN adquirir os direitos mais significativos (leia-se jogos mais importantes) do Campeonato Espanhol até o momento, substituindo a rede de TV paga Movistar, de propriedade da Telefónica, como principal parceira de transmissão doméstica da LaLiga. Ambas as emissoras transmitem cinco jogos por rodada.
Estes contratos em vigor são os mais longos da história da LaLiga e representaram um ligeiro aumento em relação ao ciclo anterior, no qual a Telefónica pagou cerca de € 2,94 bilhões ao longo de três anos. Neste sentido, a liga espanhola teve um aumento de € 10 milhões em suas receitas anuais de direitos internos, indo de € 980 milhões para € 990 milhões por temporada.
Além disso, em março de 2022, o DAZN e a Telefónica confirmaram um acordo de sublicenciamento no valor de € 1,4 bilhão, permitindo à Movistar+ (streaming) transmitir os cinco jogos semanais da LaLiga.
Em 29 de agosto, o Maquinistas, podcast da Máquina do Esporte, recebeu em seus estúdios Daniel Alonso, delegado da LaLiga no Brasil. O executivo forneceu uma série de detalhes sobre a situação financeira do futebol espanhol.
Serie A se frustra e distribui menos dinheiro aos clubes
O novo acordo de direitos de transmissão doméstica da Serie A com o DAZN e a Sky Italia foi aprovado pelos principais clubes italianos em outubro.
O contrato de cinco anos começará em 2024/2025 e está estimado em um total de € 4,5 bilhões, com o DAZN garantindo à liga um mínimo de cerca de € 700 milhões por temporada, enquanto a Sky pagará cerca de € 200 milhões anualmente. As cifras podem ser consideradas uma derrota, uma vez que a Serie A queria até € 7,2 bilhões pelo novo contrato.
Os termos estabelecem que o DAZN transmitirá exclusivamente sete partidas da Serie A por semana, totalizando 266 dos 380 jogos por temporada. Os três duelos restantes por rodada serão transmitidos pelo próprio DAZN e pela Sky, totalizando 114 partidas por campeonato.
Como parte do contrato do DAZN, as equipes também terão direito a uma divisão de receitas associadas a critérios de desempenho, como o crescimento de assinantes. O pagamento adicional foi fixado em € 1 bilhão durante o período de cinco anos.
Mas há um detalhe importante. O acordo anterior da Serie A com o DAZN valia € 2,5 bilhões, com o pacote da Sky fixado em cerca de € 262,5 milhões, ao longo de três anos. Dirigentes da liga italiana afirmam que os novos valores podem superar o último contrato ao incluir o que foi chamado de “componentes variáveis”. Entretanto, os clubes receberão menos do que os € 900 milhões anuais nos primeiros dois anos do contrato, com os repasses aumentando a partir do terceiro e até o quinto ano.
Aurelio De Laurentiis, dono do atual campeão Napoli, criticou o novo contrato, classificando-o como “a morte do futebol italiano”. O dirigente expressou descontentamento pelo fato da Serie A ter rejeitado a possibilidade de se tornar um negócio de venda direta ao consumidor (DTC).
Ligue 1 tenta, mas não consegue afastar crise
Das “Big Five”, a Ligue 1 é a liga que gera menos receita com a venda de direitos de mídia. Grande parte disso se deve à rescisão do contrato com a Mediapro em 2020, que inicialmente valia mais de € 1 bilhão por temporada e deveria se estender até 2023/2024.
A Liga de Futebol Profissional (LFP) teve que ajustar suas expectativas após essa desistência e fechou um acordo com a Amazon por € 250 milhões para transmitir 80% dos jogos da Ligue 1, enquanto o Canal Plus adquiriu os principais jogos de cada rodada por € 332 milhões.
Em setembro deste ano, a LFP lançou a licitação para o próximo ciclo de acordos de direitos de transmissão da Ligue 1, correspondendo a um período de quatro temporadas, entre 2024/2025 e 2027/2028. A expectativa da entidade ainda era fechar contratos que resultassem em mais de € 1 bilhão por temporada, sendo € 800 mil referentes aos direitos domésticos. No entanto, não foi bem assim.
Parceiro histórico, o Canal Plus, que transmitia a primeira divisão desde 1984, anunciou que não participaria do leilão, alegando um valor mínimo elevado para transmitir o torneio. Enquanto isso, players como Amazon e Mediapro também não avançaram nas negociações.
Dessa forma, a LFP, que havia preparado cinco pacotes de jogos para o mercado, não recebeu ofertas e afirmou que negociará diretamente e individualmente com os grupos de mídia que possam se interessar pelo torneio. A Liga estabeleceu preços mínimos de € 530 milhões e € 270 milhões para os dois principais pacotes de transmissão ao vivo, representando aumentos anuais de € 10 milhões e € 5 milhões, respectivamente.
Uma das estratégias para suprir o déficit poderia ser triplicar o valor da venda dos direitos de transmissão internacionais. No entanto, o Campeonato Francês enfrenta obstáculos devido à ausência de estrelas, visto que perdeu Lionel Messi para o Inter Miami e Neymar para o Al-Hilal, além de enfrentar uma série de rumores sobre uma possível saída de seu principal ídolo, o atacante Kylian Mbappé.
Atualmente, o beIN Media Group detém os direitos internacionais da Ligue 1 e paga cerca de € 80 milhões pela propriedade anualmente. O acordo foi firmado em 2016 e também se encerrará na temporada 2023/2024.
Além disso, a Liga Francesa enfrenta o mesmo problema que a alemã: a falta de competitividade entre os clubes. O PSG, de Mbappé, venceu 9 das últimas 11 edições da Ligue 1.