O mercado de licenciamento de produtos no futebol brasileiro, apesar de grande em potencial de consumo, enfrenta barreiras estruturais e culturais que impedem a exploração de todo o seu potencial.
De acordo com Luiz Gianfratti, sócio e head de licenciamento da Destra, agência especializada em gestão de licenciamento de marcas e contratos, o principal entrave se encontra na baixa de priorização dos clubes brasileiros para esse tipo de acordo. Isso acontece porque a área fica, muitas vezes, dentro da operação do departamento de marketing dos times, sem uma equipe dedicada para a categoria de produtos e serviços licenciados.
Dessa forma, o executivo identifica que a gestão da área de licenciamento nos clubes brasileiros é diferente do que acontece no mercado do futebol europeu. Enquanto no Velho Continente existem equipes dedicadas para cuidar do setor, no Brasil, a tarefa geralmente recai sobre departamentos de marketing que , muitas vezes, já estão sobrecarregados com outras atividades como patrocínios, bilheteria, matchday, entre outras.
Essa dinâmica gera um cenário onde o esforço operacional exigido para se ter um bom resultado com o licenciamento de marca é visto como desproporcional em relação à receita gerada, quando comparado aos valores dos contratos de patrocínio, por exemplo.
“O Fortaleza, por exemplo, tem uma pessoa responsável por licenciamento, o que pouco acontece em outros clubes. Então, ele consegue dedicar o tempo dele em ações [de licenciamento] como clínica odontológica, corridas de rua, etc. e tal. Quando a gente vai para um clube maior, geralmente é a área de marketing que cuida de tudo, de patrocínio, ingressos [e outras categorias]”, comentou Luiz Gianfratti, em entrevista à Máquina do Esporte na Confut Nordeste 2025.
“E o licenciamento, normalmente, fica dentro dessa pasta de marketing. Mas ele dá muito trabalho para pouca receita, proporcionalmente, em relação às receitas de patrocínio, venda de jogador e bilheteria”, acrescentou.
Estrutura e conexão
A falta de profissionais dedicados à vertical de licenciamento na maioria dos clubes brasileiros ainda impede a diversificação do portfólio de produtos e a prospecção ativa de novos parceiros industriais. Gianfratti cita o caso do Fortaleza, assim como o mercado do futebol europeu, como exemplos positivos, onde a existência de uma pessoa responsável pelo setor permite a exploração de categorias não convencionais.
No entanto, a regra geral em clubes nacionais de grande torcida é a diluição dessa responsabilidade, o que limita a expansão da linha de produtos para além do vestuário básico
‘Nos clubes europeus existe uma equipe de licenciamento e elas conseguem dar a devida atenção para essa vertical de negócios. Eu acho que os clubes [brasileiros] deveriam pensar em ter pessoas dedicadas exclusivamente ao licenciamento, já que isso ajuda a dar foco e a trazer soluções e projetos que vão além da confecção”, destacou o sócio e head de licenciamento da Destra.
Além da questão financeira, o licenciamento também desempenha um papel estratégico na tangibilização e conexão da paixão do torcedor com o seu clube do coração.
Enquanto nem todos os consumidores podem adquirir a camisa oficial de jogo, por exemplo, os produtos licenciados de diferentes categorias, desde moda casual até itens de decoração e utilidades domésticas, servem como pontos de contato acessíveis e constantes entre o clube e sua base de fãs.
“O licenciamento é uma das formas mais concretas de aproximar o torcedor da marca dos clubes. Ao levar um produto para casa, o fã pode vestir uma camiseta, usar um objeto de decoração, etc. Então, é uma área muito importante para aproximar o torcedor e o papel da destra é facilitar o trabalho para esses clubes”, explicou Luiz Gianfratti.
