Não bastasse toda a polêmica envolvendo o calendário e o Super Mundial de Clubes de 2025, a Fifa iniciou a semana com mais um problema para ter que resolver. Mais de 100 jogadoras de futebol profissional assinaram uma carta aberta direcionada à entidade exigindo que a Fifa encerre o acordo de patrocínio firmado com a petrolífera saudita Aramco.
O contrato foi revelado pela imprensa britânica em novembro do ano passado, mas oficializado em abril deste ano. Segundo o jornal The Times, a multinacional pagará US$ 100 milhões por ano à Fifa em um acordo válido por pelo menos quatro anos, que engloba, entre outros torneios masculinos e femininos, a Copa do Mundo Feminina de 2027, que será disputada no Brasil.
Na carta aberta, 106 jogadoras, de 24 países diferentes, exigem que a Fifa reconsidere o acordo por razões humanitárias e ambientais. No texto, as atletas salientam que o contrato com a Aramco é “pior que um gol contra” e pedem que a entidade encontre patrocinadores alternativos.
“As autoridades sauditas têm gastado milhões em patrocínios desportivos para tentar desviar a atenção da reputação brutal do regime em matéria de direitos humanos, mas o tratamento que dispensa às mulheres fala por si. Pedimos à Fifa que reconsidere esta parceria e substitua a Aramco por patrocinadores alternativos cujos valores se alinhem com a igualdade de gênero, os direitos humanos e o futuro seguro do nosso planeta. Também propomos a criação de um comitê de revisão com representação das jogadoras, para avaliar as implicações éticas de futuros acordos de patrocínio e garantir que estejam alinhados com os valores e objetivos do nosso esporte”, afirma a carta.
“Este patrocínio é muito pior do que um gol contra no futebol: a Fifa poderia muito bem derramar óleo no campo e incendiá-lo. Nosso trabalho como jogadoras profissionais tem sido um sonho para nós e é um sonho para as meninas que serão as jogadoras do futuro. Merecemos muito mais do nosso corpo governante do que a sua aliança com este patrocinador que é um pesadelo”, ressalta.
A atacante holandesa Vivianne Miedema, estrela da seleção de seu país e que atualmente defende o Manchester City, é uma das signatárias da carta. Ela chegou a falar que, caso a Fifa não tome providências, as jogadoras colocarão outras ações em prática.
Bola de neve
A questão envolvendo a aproximação cada vez maior da Fifa com a Arábia Saudita vem se tornando uma bola de neve para a entidade que comanda o futebol mundial. Pouco antes da Copa do Mundo Feminina de 2023, a Fifa foi obrigada a negar o patrocínio da Visit Saudi, órgão de turismo da Arábia Saudita, após Austrália e Nova Zelândia, países-sede da competição, terem se revoltado com o possível acordo.
Além disso, em junho deste ano, a Anistia Internacional, organização não governamental que defende os direitos humanos, alertou que a escolha da Arábia Saudita para ser sede da Copa do Mundo Masculina de 2034 cria diversos problemas relacionados ao tema e pediu que a Fifa não escolha como sede do torneio um país que não forneça garantias sobre a segurança dos envolvidos na organização e participação no evento.
Vale destacar que, apesar do anúncio feito em outubro do ano passado pelo presidente da Fifa, Gianni Infantino, em suas redes sociais, ainda não há uma confirmação da escolha. Recentemente, Hammad Albalawi, CEO da candidatura da Arábia Saudita, negou as acusações de “sportswashing” (“lavagem esportiva”) em entrevista à Sky Sports. Segundo ele, o país está dando “passos gigantescos” em reformas sociais.
Para piorar a situação, a Arábia Saudita também já formalizou a intenção de sediar a Copa do Mundo Feminina de 2035.
Por enquanto, o máximo que a Fifa fez foi elogiar o “forte histórico de apoio a eventos de classe mundial” da Aramco e o “foco no desenvolvimento de iniciativas desportivas de base” por parte da multinacional. A entidade ainda afirmou à emissora britânica BBC Sport que “valoriza a sua parceria com a Aramco”, enfatizando que a receita dos patrocínio tem sido reinvestida em todos os níveis do futebol feminino.