Pouco mais de três meses depois de acertar a compra de 90% da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Cruzeiro, adquirida do ex-jogador Ronaldo Fenômeno pelo valor de R$ 600 milhões, o empresário Pedro Lourenço, popularmente conhecido como Pedrinho BH, concedeu sua primeira entrevista na condição de dono do clube.
Segundo o novo proprietário, a transação foi finalizada nesta segunda-feira (1), após receber aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Pedro BH participou da coletiva acompanhado de Alexandre Mattos, oficializado como CEO do Cruzeiro, e do filho Pedro Lourenço Júnior, o Pedro Junio, que ocupará o cargo de vice-presidente.
Pedrinho BH adota um estilo que pode ser considerado a antítese desses executivos que têm se multiplicado ultimamente no futebol brasileiro, sempre usando cabelos engomados, ostentando MBAs e roupas da moda e dominando todos os jargões do mercado, a maioria deles em inglês.
O novo dono Cruzeiro, por seu turno, é a expressão máxima da mineirice, com seu sotaque carregado, o ar ao mesmo tempo ressabiado e espontâneo e seu jeito de quem “frita o peixe sem se descuidar do gato”, como se diz no ditado popular.
Esse linguajar simples e a forma sincera de se expressar do novo proprietário marcaram a coletiva, situação que ficou na hora em que ele apresentou o novo comando do Cruzeiro: “Quem vai comandar o futebol é meu filho, Pedro Junio, que será o vice-presidente, e o Alexandre, que é o CEO. E eu vou chamar a atenção deles.”
Depois de comentar rapidamente sobre os reforços trazidos até o momento pela nova gestão da SAF, Pedrinho BH informou que o Cruzeiro não irá mais contratar jogadores nesta temporada. “Não temos caixa para comprar”, explicou. A expectativa do proprietário é de que a Raposa termine o Brasileirão da Série A deste ano em quinto lugar. “Se isso acontecer, ficaremos felizes”, disse.
Time tem dono
Em determinado momento, Alexandre Mattos foi questionado a respeito dos contratos de patrocínio máster, com a Betfair, e fornecimento de material esportivo, com a Adidas. Ambos estão em vias de vencer.
O CEO disse que as conversas com as duas empresas estariam encaminhadas, mas evitou dar detalhes. Nesse momento e em diversos outros da entrevista, Mattos fez questão de usar a expressão “o Cruzeiro tem dono”. “Tudo o que é feito passa pelo ‘sim’ ou pelo ‘não’ do Pedro”, afirmou.
O dono, então, resolveu pedir a palavra e explicou que era ele quem cuidava pessoalmente da questão das renovações de patrocínios.
“Com a Betfair já está resolvido. Serão mais dois anos de contrato, já está até assinado. Com a Adidas, está acertado até 2025, mais um ano e meio de contrato. Isso tudo vai aqui, debaixo do meu punho”, declarou Pedrinho.
Mattos também procurou frisar, durante a entrevista, que a presença do novo proprietário não seria usada como válvula de escape para eventuais farras nos gastos do clube. “Não é porque o Pedrinho está aqui, que o dinheiro é ilimitado”, disse o CEO.
“Até porque, eu teria de vender muitas lojas”, brincou o empresário.
“E bois…”, completou Mattos. “Em todo caso, não vamos ficar toda hora batendo à porta dele e pedindo para ele botar milhões no time”, prosseguiu o executivo.
“Se bem que já estou fazendo isso há muito tempo”, comentou Pedrinho.
Gestão será familiar e seguirá modelo dos supermercados
Quando questionado se o Cruzeiro passaria a contar com um diretor responsável pela área financeira, Pedro Junio anunciou que não haveria ninguém atuando nesse cargo, dentro da SAF.
Pai e filho então informaram que as áreas jurídica, financeira e tributária do Cruzeiro ficarão a encargo de Waldir Rocha Pena, que sócio na Rede de Supermercados BH.
“Como somos nós que vamos colocar o dinheiro, precisaremos só de um tesoureiro para fazer os pagamentos. Não vai ser necessário um cara para ir falar com diretor de banco ou negociar patrocínios”, explicou Pedrinho.
De acordo com o novo proprietário, a gestão da área comercial do Cruzeiro será feita nos mesmos moldes dos Supermercados BH, com Bruno Santos Oliveira, filho do meio do empresário e que cuida desse setor na rede varejista, respondendo diretamente diretamente ao pai.
Os novos mandatários da Raposa optaram por extinguir uma série de cargos de gestão existentes na época em que a SAF esteve nas mãos de Ronaldo Fenômeno.
“Aqui, por exemplo, tinha diretor de marketing, gerente de marketing e dois funcionários. Nunca vi uma situação dessas, com um diretor e um gerente para dois funcionários”, criticou o proprietário.
Segundo ele, a nova gestão eliminou sete cargos de comando. “Trabalhamos com menos diretorias e mais operacional”, disse Pedro Junio.
“E nós temos o meu caçulinha, o João Pedro, que é gamer. A gente tem vontade de infiltrá-lo no marketing, para ele começar a criar algumas ideias novas”, revelou Pedrinho.
Pedro Junio então salientou que a compra da SAF do Cruzeiro não é vista como um negócio. “Vai ser uma empresa familiar e toda a família estará envolvida no processo”, disse.
Pedrinho BH sonha em assumir definitivamente o Mineirão
Os novos gestores da SAF do Cruzeiro foram questionados sobre como ficará a relação do clube com a gestora Mineirão (a Minas Arenas) e se haveria interesse na construção de um estádio próprio.
“O Mineirão vai ficar por minha conta. Vou tratar disso pessoalmente”, adiantou-se Pedrinho BH. De acordo com ele, construir um estádio próprio para o Cruzeiro está fora de cogitação.
“Já temos o Mineirão. Não estou preocupado com isso. Temos contrato até 2025”, afirmou. O dirigente disse que chegou a ser procurado por pessoas com a oferta de viabilizarem um estádio próprio para o clube.
“Uns ‘estratégias’ vieram com uma história de que fariam um estádio para o Cruzeiro, de graça. Como vão fazer um estádio que custa R$ 1 bilhão? Não vivo de ilusão”, disse.
A ideia, segundo Pedrinho BH, é trabalhar para que o Cruzeiro possa assumir definitivamente a gestão do Mineirão. “Mas vamos respeitar a Minas Arenas, que investiu no estádio. O contrato atual é ruim para o Cruzeiro? É muito ruim. Mas vamos trabalhar nele”, afirmou.