Clube mais antigo do País de Gales, no Reino Unido, o Wrexham vive seu conto de fadas pelas mãos de dois astros de Hollywood. Dentro de campo, a equipe acaba de conquistar mais um acesso e, no ano que vem, disputará a Championship, segunda divisão do futebol inglês.
É a terceira vez seguida que o time sobe de divisão.
“Isso é melhor que um roteiro de Hollywood”, afirmou um post publicado neste domingo (27), na conta oficial do Wrexham, ainda no embalo da vitória por 3 a 0 sobre o Charlton Athletic, obtida no sábado (26) e que garantiu o novo acesso para o time.
A ascensão da equipe dentro e fora de campo é notável e lembra muito um enredo de ficção. Quando os atores Ryan Reynolds e Rob McElhenney adquiriram o Wrexham, o time estava na quinta divisão inglesa e dependia da ajuda de torcedores para seguir funcionando.
O ano era 2020, auge da pandemia de Covid-19, que agravava ainda mais a situação financeira da equipe. A dupla de Hollywood pagou £ 2 milhões pelo clube.
Em pouco tempo, os novos gestores conseguiram elevar as receitas anuais do Wrexham, que atingiram £ 26 milhões. O valor de mercado do clube ultrapassou a marca de £ 100 milhões.
Para o retorno à Championship depois de mais de quatro décadas (a última vez que disputou a segunda divisão foi em 1982), o Wrexham já prepara o projeto ousado de reforma do Estádio Racecourse Ground, cuja capacidade saltaria de 12,6 mil para 55 mil lugares.
Estratégia midiática
A ideia de quadruplicar a capacidade do estádio que sedia partidas de um time que, até alguns anos atrás, estava em vias de desaparecer, pode parecer megalomaníaca. Mas, como já diria o escritor britânico William Shakespeare, “embora seja loucura, há nela certo método”.
E esse método que fez a ideia aparentemente “louca” funcionar baseia-se em uma poderosa estratégia midiática, que utiliza a fama dos dois proprietários para impulsionar os negócios da equipe.
Ryan Reynolds e Rob McElhenney fugiram do script manjado do mecenato esportivo, em que pessoas muito ricas adquirem um clube e passam a bancar, do próprio bolso, benfeitorias e contratações milionárias.
Em vez disso, utilizaram a fama para transformar os negócios do clube em um ecossistema sustentável. A estratégia incluiu um documentário batizado de “Welcome to Wrexham”, que já teve três temporadas exibidas pelo FX (a quarta será lançada em 15 de maio deste ano) e narra a trajetória da equipe, desde que foi comprada pelos atores.
A construção dessa narrativa serviu para atrair a atenção do público, tanto no Reino Unido quanto no exterior, para o pequeno clube galês.
Prova disso é que a média de público nos jogos da equipe saltou de 4 mil para 12 mil. Ao mesmo tempo, o fluxo de turistas na cidade de Wrexham cresceu 26%.
Marcas globais
Em uma época marcada pelo uso intensivo das redes sociais, dominar a narrativa midiática foi fundamental para o sucesso do projeto do Wrexham.
“Welcome to Wrexham” soube humanizar a trajetória do clube, incluindo elementos como esperança e redenção, que marcam a chamada “jornada do herói”, ajudando a criar empatia junto ao público.
A série mostra a luta de Ryan Reynolds e Rob McElhenney para alavancar o clube. Mesmo não possuindo experiência anterior em gestão esportiva e não dominando o idioma local, ambos têm planos para melhorar a equipe e ajudar a promover mudanças positivas na comunidade local.
Com linguagem descontraída, a série não se limita a louvar os atores. McElhenney e Reynolds são gestores que também erram, e por isso são criticados abertamente ao longo da produção, que aborda outros temas além do futebol, como autismo, divórcio, saúde mental e câncer.
Transformado em produto midiático internacional, o clube não demorou para atrair a atenção de marcas globais. Atualmente, entre os patrocinadores do Wrexham estão empresas como United Airlines, Meta, HP, Gatorade e Marks & Spencer Food. A fornecedora de materiais esportivos é a italiana Macron.
O clube ainda conta com alguns patrocinadores ligados a seus donos, caso da marca de bebidas Betty Buzz, da atriz norte-americana Blake Lively, esposa de Reynolds, além de parceiros locais, como a cerveja Wrexham Lager.
Hoje, vale lembrar, os dois atores donos do Wrexham também têm investimentos em clubes de futebol no México e na Colômbia, além de possuírem 24% das ações da equipe Alpine, da Fórmula 1.