Balanço Paris 2024: Skate leva duas medalhas e espera mais tranquilidade em primeiro ciclo completo

Rayssa Leval e Augusto Akio conquistaram o bronze em Paris 2024 - Gaspar Nóbrega / COB e Luiza Moraes / COB

A participação do skate brasileiro nos Jogos Olímpicos, em Paris 2024 trouxe boas e más notícias. A boa foi que a Confederação Brasileira de Skate (CBSk) classificou equipe completa na segunda vez em que a modalidade fez parte do programa olímpico. Além disso, conquistou duas medalhas de bronze na França.

A má é que em Tóquio 2020, edição adiada para 2021 por causa da pandemia da covid-19,a colheita brasileira tinha sido melhor em número de pódios e importâncias: três pratas, com Rayssa Leal e Kevin Hoefler, no street, e Pedro Barros, no park.

As conquistas em Paris 2024, porém, marcaram o final de um ciclo conturbado para a CBSk, que correu até o risco de ser desfiliada da federação internacional. Com todos os problemas neste curto ciclo olímpico, há motivos para comemorar a campanha na França.

No skate street, Rayssa Leal foi o destaque novamente, com um bronze. Pâmela Rosa, bicampeã mundial (2019 e 2021), e Gabi Mazetto não se classificaram para a final. Entre os homens, Giovanni Vianna e Felipe Gustavo caíram na fase preliminar, enquanto Kevin Hoefler, prata em Tóquio 2020, foi à final, mas terminou em sexto.

O skate park brasileiro se destacou com Augusto Akio, que levou a medalha de bronze. Pedro Barros e Luigi Cini também foram à final e terminaram em quarto e sétimo, respectivamente. No feminino, Raica Ventura, de apenas 17 anos e sétima colocada no ranking mundial, era quem despontava com melhores chances para a conquista de uma medalha. Mas Raica e Isadora Pacheco, veterana de Tóquio 2020, foram eliminadas na fase preliminar.

Dora Varella, por sua vez, se classificou sem grandes pretensões, com a oitava e última vaga para a final. Mas, na decisão, a brasileira ficou a um degrau ou 3,17 pontos do pódio, terminando na quarta colocação, a melhor do Brasil na prova, superando ela mesma em Tóquio, quando terminou em sétimo lugar.

“Acho que o desempenho em Paris foi até certo ponto heróico se pararmos para analisar as dificuldades para a gente e para os skatistas. Primeiro, temos uma Federação Internacional que não promoveu um Circuito Mundial duradouro. É importante lembrar que ele só começou no meio de 2022. A gente ficou um ano sem competições”, criticou Eduardo Musa, presidente da CBSk, em entrevista à Máquina do Esporte.

Crise

O ciclo do skate foi conturbado por uma crise política. O esporte passou por uma disputa de representatividade. Em janeiro, a World Skate (WS), entidade que comanda a modalidade no mundo, chegou a desfiliar a CBSk.

Com a decisão da WS, o controle da modalidade no Brasil seria de responsabilidade da Confederação Brasileira de Hóquei e Patinação (CBHP). Em fevereiro, porém, a Corte Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês) definiu que o skate deveria ser gerido pela CBSk. Neste cenário, o resultado em Paris 2024 foi positivo na visão da entidade.

“Obviamente que isso prejudicou a preparação como um todo. E também, a gente não pode esquecer, que o COB também interferiu e ajudou muito neste problema negativamente. Interferindo na nossa administração e tentando que a CBSk não fosse a gestora da modalidade nas Olimpíadas”, reclamou Musa.

“Dentro disso, tudo o que foi suportado e o que a gente conseguiu, acho que o resultado foi bom. Claro que poderia ter sido melhor. Mas, por conta do sofrimento todo que a gente passou, estrutural, político e burocrático neste ciclo, acho que o Brasil fez um bom papel, representou bem nas Olimpíadas”, seguiu.

Investimento

O principal patrocinador da CBSk durante o último ciclo olímpico foi a Adidas Skatebording. O acordo com a marca alemã de material esportivo foi anunciado em junho de 2023.

“Hoje o patrocinador principal da confederação é a Adidas. A confederação está com uma expectativa boa principalmente porque teremos royalties sobre a venda dos uniformes. Segundo consta, as vendas estão indo bem. Precisamos esperar o período de apuração para recebermos as informações“, contou o dirigente.

Assim como outros esportes, olímpicos ou não, o skate também recebeu repasses do Comitê Olímpico do Brasil (COB) provenientes da Lei Piva, que determina que 2% da arrecadação bruta das loterias federais seja direcionada ao COB e ao Comitê Paralímpico Brasileiro.

No ciclo para Paris 2024, que foi um ano mais curto por conta do adiamento de Tóquio 2020, a CBSk recebeu R$ 24,8 milhões. Foram R$ 6,8 milhões em 2022, R$ 7,4 milhões em 2023 e R$ 10,5 milhões em 2024.

“A Lei Agnelo-Piva é fundamental para a sobrevivência das confederações e para o fomento do alto nível do esporte no Brasil. Só com a Lei Piva é que as confederações estão conseguindo se estruturar e manter uma equipe, às vezes até mínima, para poder girar o esporte de alto rendimento no Brasil”, apontou o presidente.

O valor recebido pela CBSk durante o último ciclo olímpico é o equivalente a 4,2% do total repassado pelo COB, que se aproxima de R$ 600 milhões. 

Além da Lei Piva, o Governo Federal também investe no esporte brasileiro através do Bolsa Atleta, que confere pagamentos mensais aos atletas inscritos. Os 12 skatistas que representaram o Brasil em Paris 2024 recebem o benefício.

Futuro

Iniciado o ciclo olímpico para Los Angeles 2028, a próxima edição dos Jogos, a CBSk acredita que terá mais tranquilidade e tempo para trabalhar.

“Para 2028 a gente espera um ciclo mais calmo. Será o primeiro ciclo de quatro anos do skate. Lembrando que, para Tóquio, a CBSk começou a operar em 2018 efetivamente. Depois teve a pandemia. E por conta da pandemia esse ciclo foi muito menor. Aliado ao fato de que o Circuito Mundial foi reduzido e mal organizado pela Federação Internacional”, afirma Musa.

A expectativa é que, com estabilidade política e os quatro anos de desenvolvimento, o skate possa aproveitar seus novos talentos para melhorar os resultados.

A modalidade tem mostrado talentos precoces. Em Tóquio 2020, Rayssa Leal se tornou a atleta mais jovem da história do Brasil a subir ao pódio olímpico, recebendo a prata aos 13 anos.

“Acredito que o ciclo para Los Angeles vai ser completo, de quatro anos e melhor organizado. A gente está muito esperançoso com o trabalho. O Brasil tem muita molecada boa vindo aí, nos quatro segmentos, nos dois gêneros e nas duas modalidades [street e park]. A expectativa para 2028 é muito boa”, concluiu o presidente da CBSk.

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