Às vésperas do Dia da Consciência Negra, que será comemorado no próximo domingo (20), duas atletas negras, Rebeca Andrade e Rayssa Leal, tornaram-se campeãs mundiais em suas modalidades e se consolidaram como queridinhas das marcas que patrocinam o esporte no Brasil.
Rostos pouco conhecidos pelo público em geral, a ginasta e a skatista ganharam enorme projeção com a conquista de medalhas nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Até então uma atleta que enfrentava lesões constantes, Rebeca conquistou o ouro no salto e a prata no individual geral da ginástica artística. Aos 13 anos, Rayssa ganhou a prata no skate street e seu carisma a fez conquistar milhões de seguidores nas redes sociais.
“Há um aumento significativo de interessados a cada título, mas hoje Rebeca já possui um nome consolidado no mercado publicitário no geral, bem como entre empresas. Então, as consultas para ela são constantes. Ela participa de todas as decisões em conjunto com seu staff”
Danielle Carvalho Von Schneider, CEO da Agência de Atletas, responsável por parcerias e patrocínios à ginasta
Até a Olimpíada de Tóquio, Rebeca não contava com nenhum patrocinador fixo. A atleta havia feito apenas uma ação pontual para a Riachuelo. Depois dos Jogos, a rede de varejo virou uma de suas patrocinadoras fixas junto de Invisalign, Caixa Econômica Federal, Volvo, Listerine e Quinto Andar.
No início do mês, Rebeca conquistou o ouro inédito para o Brasil no individual geral, que mede a ginasta mais completa do planeta, no Mundial de Liverpool, na Inglaterra. Com isso, novos interessados estão chegando.
“Estamos assinando contrato com uma empresa que é líder global no setor de eletroeletrônicos, anúncio que será feito em breve”, contou Danielle, em entrevista à Máquina do Esporte.
Chuva de patrocínios
Já notada pelas marcas antes de se tornar a mais jovem medalhista olímpica da história do país, Rayssa chegou a Tóquio com patrocínio de Nike, Monster Energy e Banco do Brasil. Após a prata olímpica, a skatista também ganhou apoio de OdontoCompany, Nescau, HStern e Docile.
Só em seu equipamento básico de trabalho, o skate, ela conta com quatro patrocínios: truck (Independent), shape (April), rodas e rolamentos (Bones) e lixa (Mob Grip).
“O aumento do interesse das marcas em patrocinar atletas após a conquista de títulos é um movimento esperado dentro do mercado esportivo. Claro que com a Rayssa não é diferente”
Tatiana Braga, assessora de carreira e imagem de Rayssa Leal e executiva da TB&CO, empresa de experiência de marca
Neste novo ciclo olímpico, a adolescente tem mantido o mesmo nível técnico, tendo enfileirado conquistas, como o título dos X Games de Chiba (Japão) e a Liga Mundial de Skate Street (SLS Super Crown), no Rio de Janeiro, ambos em 2022. Este último, no dia 6 deste mês, ou seja, menos de duas semanas atrás.
“O skate tem ganhado visibilidade, o que favorece essa busca [por patrocínios]. Receber o Super Crown no Brasil, com transmissão da final feminina em TV aberta, é uma conquista muito grande. Se continuarmos com esse movimento maravilhoso para esse esporte, muitas outras skatistas poderão ser beneficiadas”, analisou Tatiana.
Representatividade
O sucesso de Rayssa e Rebeca entre as marcas também ajuda a impulsionar mudanças na estratégia comercial das empresas. A publicidade passou a utilizar novos rostos, dando visibilidade maior a mulheres, negras, periféricas, nordestinas, entre outras características antes desprezadas nos anúncios comerciais.
Para Monica Esperidião, especialista em gestão e marketing esportivo e colunista da Máquina do Esporte, há uma “representatividade real” nesta nova publicidade, ressaltando que esse movimento abarca diversos setores, não só o esporte.
“Quando falo de representatividade real, estou falando de que termos essas meninas campeãs como potenciais carinhas de grandes marcas na publicidade pode nos ajudar a reverter dados absurdos como um que recentemente vi numa pesquisa de uma empresa de medicina estética, que detectou que sete a cada dez mulheres acham que seu corpo não é perfeito”
Monica Esperidião, especialista em gestão e marketing esportivo
“Ou seja, o aparecimento em campanhas de grandes marcas de pessoas mais ‘normais’, baixas, negras, gordinhas, usando aparelho, com cabelo crespo, mais gente como a gente, creio que ajudará o mundo a se aceitar melhor, a se cobrar menos no sentido estético e fazer com que se diminuam muitos casos de distúrbios psicológicos que estamos vivendo hoje em dia”, acrescentou, pensando no universo feminino.
Influencers
A dupla de campeãs mundiais, além de uma história vencedora no esporte, conta com enorme carisma e capacidade para falar com diversos públicos. O suficiente para atrair 2,2 milhões (Rebeca) e 6,5 milhões (Rayssa) de seguidores apenas no Instagram. Há ainda vários outros atributos cobiçados pelas marcas.
“Atributos ligados à performance, como foco, resiliência, dedicação e excelência sempre são relacionados, mas as marcas buscam a credibilidade e a voz consciente e ativa que a Rebeca tem para temas como representatividade, inclusão, social e ambiental”, afirmou Danielle.
“Ela é uma excelente comunicadora/influencer e sabe usar a plataforma do esporte para transmitir mensagens importantes e que têm impacto sobre diversos públicos, do infantil ao adulto”, completou.
Autenticidade
Para Tatiana, que gere a imagem e a carreira de Rayssa, há um outro fator importante quando a skatista assina um novo contrato de patrocínio: ser de um produto que a atleta use.
“As marcas buscam atributos que tenham convergência com os seus valores, dentro de um posicionamento estratégico. Por outro lado, nós também vamos atrás de marcas que façam parte do dia a dia da Rayssa e com as quais ela se identifique”, contou a assessora.
“Nós acreditamos que, para associar a imagem da atleta com uma marca, há de existir uma verdade. Atleta não atua e não vai conseguir alcançar o consumidor se tentar atuar, diferente de uma atriz, por exemplo, que tem talento para assumir um papel e entregar a mensagem necessária. A atleta é 100% ela mesma enquanto está competindo, e é isso que as pessoas buscam quando veem a atleta em uma campanha de marca”, acrescentou.
Uma das marcas que fazem parte desse cotidiano é a Nescau, que buscou o aval de Rayssa para se comunicar com o público jovem, principal consumidor do achocolatado em pó.
“A Rayssa está conectada com a Nescau em todos os aspectos: ela é consumidora diária do produto antes mesmo da parceria; tem uma conexão especial com o esporte, por ser uma jovem que, apesar do sucesso mundial, trata o skate com muita leveza; e ela tem toda energia que Nescau promove”
Mariana Santos, gerente de marketing da Nescau
“A Nescau acredita nos valores que o esporte ensina, e Rayssa carrega muitos deles, como confiança, superação, disciplina, responsabilidade e respeito. Apesar da idade, ela já construiu uma linda trajetória, e todos os dias nos surpreendemos com tamanha maturidade e preparo em uma jovem de 14 anos”, complementou.
Para a executiva, Rayssa também traz um atributo novo e importante para a marca: a representatividade. A skatista já é uma atleta vencedora, apesar da pouca idade (14 anos), negra, de uma cidade do interior (Imperatriz) de um estado pobre do Nordeste (Maranhão).
“Rayssa é a representação perfeita da pluralidade que temos no nosso país e, consequentemente, dos consumidores de Nescau. Como marca líder de mercado, é possível encontrar produtos Nescau em lares por todo o Brasil, independentemente de recortes sociais e demográficos. Ter uma embaixadora como a Rayssa, que representa essa diversidade, é motivo de muito orgulho para a marca”, concluiu Mariana.