Especial: O que muda no esporte com o 5G

O 5G, que estreou em São Paulo, maior mercado do Brasil, nesta quinta-feira (4), cria a possibilidade de uma revolução na maneira como o público se conecta e consome esporte. Isso trará um universo de possibilidades para que atletas, entidades esportivas, ligas e clubes aprimorem suas conexões com os fãs, aumentem o engajamento em suas plataformas e, claro, amplifiquem possibilidades de negócios.

A Máquina do Esporte ouviu alguns membros de seu time de colunistas sobre as mudanças esperadas no mercado esportivo brasileiro e quais os novos produtos e serviços que poderão ser explorados com a chegada do 5G ao Brasil.

Democratizar e interagir

Conectividade, interação, confiabilidade, velocidade, portabilidade. Essas são algumas das principais qualidades citadas quando se abordam as oportunidades que se abrem com o ganho de velocidade de internet que se alcança com o 5G.

“Há dois aspectos que é preciso destacar: democratização dos acessos e interação”, afirmou Ivan Martinho, CEO da World Surf League (WSL) na América Latina.

“À medida que o esporte oferece qualidade de transmissão no streaming, cresce o potencial de interação com os fãs, fazendo com que a capacidade de penetração atinja outro patamar”, acrescentou o executivo.

A ideia é que o usuário do 5G tenha a oportunidade de consumir conteúdos esportivos, sejam vídeos ou transmissões via streaming, independentemente de estar conectado a uma rede de Wi-Fi. Ou seja: crescem as horas em que o fã está conectado com sinal confiável, rápido e seguro, fazendo com que o potencial de consumo para o esporte se expanda.

“Tem que estar preparado para, graficamente, oferecer ativações e interações que deixem o usuário satisfeito. Tem que ver que a maior parte da audiência está na palma da mão, e pensar em um produto que seja amigável a esse novo tipo de consumo”

Ivan Martinho, CEO da WSL na América Latina

Com o 5G, a perspectiva é que esse consumidor tenha a portabilidade plena, isto é, a chance de estar conectado e consumindo vídeos e transmissões de esporte durante todo o dia, seja no carro, no ônibus, no metrô, na rua, no café ou em um restaurante. Mas essa maior capacidade de conexão também amplia os desafios dos produtores de conteúdo.

“Do lado do produto tem que ter oferta preparada para isso. Tem que estar preparado para, graficamente, oferecer ativações e interações que deixem esse usuário satisfeito. Tem que ver que a maior parte da audiência está na palma da mão, e pensar em um produto que seja amigável a esse novo tipo de consumo. Tem que ter o pensamento do mobile first [celular em primeiro lugar]”, explicou Martinho.

Velocidade do gol

Se formos fazer uma comparação, o 5G tem capacidade de transmissão de dados que é 100 vezes ou mais veloz do que a tecnologia 4G atualmente disponível. Isso gerará um mundo de possibilidades para as transmissões esportivas.

“Muda a perspectiva do uso de uma evolução da tecnologia que conecta em tempo real a emoção, o ato e a experiência do torcedor, dentro e fora do campo de jogo. Muda quando se pode analisar com maior agilidade a performance esportiva, a capacidade de neutralizar erros de interpretação da arbitragem e um mundo de possibilidades no marketing esportivo”, apontou Reginaldo Diniz, cofundador e CEO da agência End to End.

Para o executivo, é o fim de uma frustração muito comum nas transmissões esportivas. “O famoso delay entre as diferentes plataformas de transmissão deve acabar, e a gente deve gritar gol dentro de casa no mesmo instante em que acontece no estádio de futebol. Bem-vindo ao novo jeito de consumir esportes”, destacou Diniz.

Barateamento das transmissões

A maior velocidade de conexão também gerará o barateamento dos custos para se mostrar um esporte ao vivo para sua base de fãs. Isso impacta positivamente tanto os canais de streaming de clubes, federações e ligas, como a “velha mídia” (TV aberta e fechada).

“A mídia ganha em agilidade e facilidade de transmissão. Não tem a dependência mais de ter uma equipe 100% dentro do estádio. Você tem a possiblidade de comandar as câmeras de transmissão de um evento remotamente”, comentou Evandro Figueira, vice-presidente da IMG Media no Brasil.

É uma tecnologia que, se tivesse sido implantada antes no Brasil, teria facilitado a vida das emissoras de TV durante o período mais agudo da pandemia.

“A transmissão do evento através da tecnologia 5G vai ser muito mais barata, rápida e confiável do que transmissão por satélite. Você ganha com redução de custo, qualidade, agilidade, conexão e velocidade com que essas informações são transmitidas”, acrescentou.

Perfil do consumidor

O aumento da conectividade também oferecerá para as entidades esportivas a possibilidade de trabalhar de maneira mais eficiente e proativa a interação com sua base de fãs. Afinal, as informações trafegarão em velocidade mais rápida, seja na interação com o fã que esteja em casa, no bar ou na rua, seja com o torcedor presente no estádio no momento da competição.

“Seguramente ainda será um mundo novo para muita gente. Mas uma coisa é certa: esse novo poder tecnológico vai permitir que trabalhemos os dados de um jeito melhor para conhecermos mais rapidamente o perfil do consumidor de esporte”, apontou Diniz.

“Além disso, haverá o processamento e cruzamento de interesses dos fãs de forma mais precisa. Será possível trabalhar de maneira mais eficiente o target de clientes, que irão se beneficiar de uma experiência melhor, gerando grandes resultados aos clubes, ligas e entidades esportivas”, complementou o executivo.

Tecnologia antiga

O 5G começou a ser implantado nos Estados Unidos. Lá, em um ambiente de concorrência acirrada entre três gigantes que exploram o mercado de telefonia (AT&T, Verizon e T-Mobile), o torcedor já se beneficia da conexão ultraveloz.

“Para os fãs de esporte, melhorou o acesso a serviços, interatividade, entretenimento e diversão que se pode proporcionar com as transmissões pela TV ou nas visitas às arenas”, revelou Sergio Patrick, jornalista especializado em comunicação corporativa, que mora nos Estados Unidos.

“Você consegue ir ao estádio, pedir a comida e receber no seu lugar. Isso tudo é facilitado pela rede mais potente. Outro dia, eu estava vendo a final da Champions League em um barco no Alabama. Melhorou muito a experiência do fã de esporte com a tecnologia 5G”, acrescentou.

Apostas, NFTs e fan tokens

A conexão ultrarrápida que o 5G oferece traz vantagens para alguns setores importantes do mercado esportivo, como as plataformas de apostas. A velocidade de fluxo de dados reduz o risco de fraudes e manipulações.

“Há o ganho de agilidade no tráfego de informações. Os sites de apostas se beneficiam com essa agilidade e confiabilidade nos dados. Isso impacta positivamente porque vai reduzir o risco de interrupção no serviço e até impedir a picaretagem entre o acontecimento de fato no estádio e a possibilidade de apostas naquele determinado lance e situação de jogo. Isso ajuda a reduzir a possibilidade de fraude”, analisou Figueira.

“Não só a velocidade da conexão será mais rápida, mas colocará em perspectiva a sensação de fluidez do streaming, do jeito de produzir conteúdos em 4k e, consequentemente, atrair novos adeptos ao jogo e suas novas propriedades digitais como apostas, NFTs e fan tokens”

Reginaldo Diniz, cofundador e CEO da agência End to End

Um dos segmentos que mais investem em patrocínio esportivo no Brasil, as plataformas de apostas também poderão oferecer estatísticas mais atualizadas e confiáveis aos seus clientes, que terão à disposição uma base de dados mais sólida para se divertir e fazer seus jogos. Além disso, outras indústrias ligadas ao esporte serão beneficiadas.

“Não só a velocidade da conexão será mais rápida, mas colocará em perspectiva a sensação de fluidez do streaming, do jeito de produzir conteúdos em 4k e, consequentemente, atrair novos adeptos ao jogo e suas novas propriedades digitais como apostas, NFTs e fan tokens, nas quais poderemos contar com mais interatividade e imersão, já que a tecnologia vai ser imperceptível. Teremos mais poder de encantar e atrair engajamento dos fãs”, apontou Diniz.

Concorrência extrema

Se as possibilidades de interação se ampliarão, a disponibilidade de aparelhos com sinal mais confiável e veloz também acirrará a concorrência. O esporte lutará contra todas as outras possibilidades de lazer e entretenimento disponíveis para o público.

“Não adianta ampliar essa oferta de conteúdos se o seu produto não corresponder às expectativas dos fãs. No fundo, o esporte está disputando atenção com a Netflix e tudo que você possa imaginar que consome banda”, afirmou Martinho.

Em resumo, a verdade é que o esporte encontrará um mundo de possibilidades a serem exploradas com o 5G. Terá, porém, que ter coragem para lutar pela audiência.

Sair da versão mobile