EXCLUSIVO: Os planos do COB para o ciclo até Paris 2024

O Comitê Olímpico do Brasil (COB) terá seu primeiro diretor exclusivo para a área de marketing a partir de abril. Em entrevista exclusiva à Máquina do Esporte realizada durante o Congresso Olímpico Brasileiro, em Salvador (BA), Paulo Wanderley Teixeira, presidente da entidade, contou que foram avaliados cerca de 80 nomes e que, no momento, estão sendo entrevistados seis finalistas. “Acho que até o dia 10 de abril teremos um nome definido”, afirmou Teixeira.

Anteriormente, Manoela Penna ocupava o cargo de diretora de comunicação e marketing. Com a saída dela, no final de 2021, Paulo Conde assumiu como diretor apenas para a área de comunicação, dando ideia de que o marketing seria desdobrado para um outro profissional. É uma área importante para o COB planejar um calendário de ativações com seus patrocinadores e atrair novos apoiadores. Atualmente, a XP, patrocinadora máster até Paris 2024, e a Peak, fornecedora de material esportivo, são os principais apoiadores do COB, que tem na Lei Piva outra forma importante de financiamento.  

MÁQUINA DO ESPORTE: Anteriormente, o senhor tinha uma diretora responsável pela comunicação e marketing. Agora, nomeou um novo diretor de comunicação. Mas como fica o marketing?

PAULO WANDERLEY TEIXEIRA: Estamos agora em um processo de mudança necessária porque é uma área que eu prezo muito. Teremos um diretor ou diretora de marketing. Já está na fase de finalização. Vamos dividir, assim como fizemos com o administrativo e o financeiro, que são dois diretores. Agora, na comunicação e marketing também vai ser dividido.

MDE: Quando o senhor pretende anunciar esse nome?

PWT: Acho que em até 15 dias. Fizemos uma pesquisa de mercado, contratamos uma empresa de headhunter, que passou um monte de nome para a gente. De 80 que se apresentaram, 30 foram entrevistados pela empresa e aí chegamos a seis finalistas. Está no processo interno de avaliação para a gente fazer as entrevistas pessoais. Acho que até o dia 10 de abril teremos um nome definido.

Gaspar Nobrega / COB
Paulo Wanderley fala no Congresso Olímpico Brasileiro, realizado no último final de semana
Gaspar Nobrega / COB

Teremos um diretor ou diretora de marketing. Já está na fase de finalização. Vamos dividir, assim como fizemos com o administrativo e o financeiro, que são dois diretores. Agora, na comunicação e marketing também vai ser dividido

MDE: Como estão as tentativas do COB de atrair mais patrocinadores?

PWT: A porta está escancarada aos interessados. Temos interesse, e o mercado sabe disso. Estamos contratando novas pessoas para a área específica [marketing], mas não precisa esperar. Se alguém tiver interesse em apoiar, estamos abertos a conversar. Temos barreiras em algumas áreas por causa de patrocínios do COI. Você não tem abertura em todos os segmentos por causa desses bloqueios por questões internacionais. Mas recebemos alguma verba desses patrocínios do COI, que é dividida entre os comitês olímpicos nacionais.

MDE: Como a pandemia afetou a entrada de patrocinadores no COB?

PWT: A economia do país se reflete em todos os segmentos. Não houve uma redução de patrocínios, mas não chegaram novos. Passamos por um momento atípico na questão dos patrocínios esportivos que foi o ciclo que começou nos Jogos Pan-Americanos do Rio 2007, passou pela Copa do Mundo de 2014 e terminou nos Jogos Olímpicos do Rio 2016. Depois disso, é natural que diminuam os patrocínios. Naquela época, existia um objetivo muito maior. Nós também temos um apoio substancial dos recursos advindos das loterias da Caixa Federal, que é um recurso de lei federal [Lei Piva, que destina 2% da arrecadação das loterias ao esporte olímpico e paralímpico brasileiro].

MDE: Como o patrocínio da XP mudou o planejamento para a próxima Olimpíada?

PWT: Hoje, você tem o patrocínio da XP, que é permanente. Era um problema que o COB tinha. Acabava a Olimpíada e saía todo mundo. Por conta deste patrocínio permanente, houve essa preocupação em criar um calendário para dar visibilidade a esses parceiros comerciais, ativar esses patrocínios. O patrocínio é para você ter sustentabilidade nas ideias. Porque a ideia sem recursos, fica na ideia. A entrada da XP foi importantíssima. Temos outros patrocinadores também, mas a XP é a máster. Eles estão conosco nesse processo até Paris. A entrada da XP foi um marco para nós.

Por conta deste patrocínio permanente [da XP], houve essa preocupação em criar um calendário para dar visibilidade a esses parceiros comerciais, ativar esses patrocínios

MDE: Como está o contrato de fornecimento de material esportivo com a Peak?

PWT: A Peak renovou conosco até Paris 2024. É nossa provedora de material esportivo. É muita coisa: Jogos Olímpicos, Jogos Pan-Americanos, Jogos Sul-Americanos. É um enxoval grande que a gente recebe. Eles fazem [uniformes] de todas as modalidades. É muita gente. Iremos agora para Rosário [Jogos Sul-Americanos da Juventude, entre 28 de abril e 8 de maio] com quase 400 pessoas. Já para os Jogos Sul-Americanos serão 800 pessoas. Todo mundo uniformizado: o [atleta] grande, o pequeno, o mais fortinho, o menos fortinho. Para você ter ideia, agora foram entregues 50 mil peças.

MDE: Algumas confederações enfrentaram recentemente problemas financeiros, como os desportos aquáticos e o basquete. Como estão essas entidades hoje?

PWT: Os recursos da loteria são criteriosamente descentralizados pelo COB para as confederações. Existem critérios para isso. São 13 critérios: 11 critérios de ordem esportiva e dois de ordem de governança. É preciso uma boa governança, gestão ética e transparência. Isso é cobrado das confederações. A gente ensina como fazer. Temos pessoal especializado para apoiar quem tem dificuldade.

Melhorou muito a questão da governança nas entidades esportivas do país. É que a gente tem uma memória muito frequente do que é negativo. No passado, houve muitas situações que chamaram a atenção da sociedade por causa da má gestão. Mas hoje a gente tem observado que o caminho para a boa administração está sendo bem pavimentado. Por conta disso, o COB faz a sua parte e dá o exemplo. As confederações são cobradas com relação a esse programa que nós chamamos de gestão de transparência. Estão aceitando e se adaptando aos novos tempos.

MDE: Essas entidades já estão com a situação financeira normalizada?

PWT: Eu digo o seguinte: não é responsabilidade de nenhum dos atuais dirigentes. Todos os que estão em processo de regularização têm novos dirigentes, que não foram os que causaram o processo. O atual gestor, como pessoa física, é cobrado. Ser gestor não é fácil, porque ele é responsável como pessoa física. Mas posso dizer para você que está melhorando bastante.

Paulo Wanderley durante a abertura do Congresso Olímpico Brasileiro, em Salvador
Miriam Jeske / COB

 

Não é responsabilidade de nenhum dos atuais dirigentes [os problemas de gestão]. Todos os que estão em processo de regularização têm novos dirigentes, que não foram os que causaram o processo

MDE: Nos Jogos de Tóquio 2020, havia a expectativa de queda de desempenho do Time Brasil após competir em casa no Rio 2016, o que não ocorreu. Qual é a expectativa para Paris?

PWT: O sarrafo ficou mais alto. Brasil e Grã-Bretanha foram os únicos países até agora que, após realizar uma Olimpíada em casa, conseguiram melhorar o desempenho no ciclo seguinte. Foi o que aconteceu com os britânicos de 2012 para 2016 e com o Brasil de 2016 para 2020. Estamos trabalhando para conseguirmos um desempenho melhor. Damos um passo para trás apenas para pegar impulso. De preferência, não vamos para trás nem para pegar impulso. O objetivo é conquistar mais medalhas em Paris.

MDE: Por outro lado, algumas modalidades, como o vôlei, decepcionaram. Como retomar o caminho de conquistas?

PWT: Os brasileiros são muito acostumados a ganhar no voleibol. Só é vencedor quem fica em primeiro lugar. A segunda posição já é mais ou menos, e o quinto lugar nem fala. Há muitas situações em que o quinto lugar disputou a medalha de bronze e perdeu. O Brasil foi 12º lugar [no quadro geral de medalhas de Tóquio 2020] entre 206 países. Quanto ao vôlei, acho que eles vão voltar fortes para Paris.

MDE: Temos um ciclo olímpico mais curto até 2024 por causa do adiamento da Olimpíada de Tóquio, realizada apenas em 2021. Como vocês estão planejando ações durante esse tempo?

PWT: Não temos parado de trabalhar. Houve uma freada em 2020 por conta da pandemia. Mas nós criamos situações, como levar uma delegação a Portugal para um período de treinamento. Foram mais de 200 atletas de 15 modalidades. Foi uma saída estratégica que nós tivemos que repercutiu no mundo olímpico. Alguns países entraram em contato para saber como é que isso foi produzido.

O sarrafo ficou mais alto. Estamos trabalhando para conseguirmos um desempenho melhor. O objetivo é conquistar mais medalhas em Paris

É fato que o grande momento do esporte olímpico é a Olimpíada. Mas temos muitos eventos. Por exemplo, já fizemos no final do ano o Prêmio Brasil Olímpico em Aracaju (SE). Fizemos esse Congresso [Olímpico Brasileiro, em Salvador] que é uma ativação importantíssima. É único no Brasil, abrange toda a comunidade do esporte. Você tem 72 pessoas que tiveram participação olímpica aqui. São 47 atletas, além de 25 dirigentes e técnicos.

MDE: Qual foi a ideia de trazer o evento para Salvador?

PWT: É trazer esse olhar para a expansão do COB. Pouco se conhece do trabalho do comitê. E menos ainda nas regiões do Norte e do Nordeste. É oportuno que o COB traga seu produto para a região. Isso é importante para a cadeia produtiva.

MDE: Quais serão os outros eventos até Paris 2024?

PWT: Temos ainda neste ano os Jogos Sul-Americanos da Juventude, em Rosário, na Argentina [de 28 de abril a 8 de maio]. São mais duas semanas de atividade esportiva. Vamos ter ainda os Jogos Sul-Americanos de Assunção, no Paraguai [de 1º a 15 de outubro]. Não falta ativação. Aí, no ano que vem, temos os Jogos Pan-Americanos [em Santiago, no Chile, de 20 de outubro a 5 de novembro]. Finalmente, chegaremos aos Jogos de Paris 2024.

MDE: Como o COB está se preparando para a estreia do breaking na Olimpíada de 2024?

PWT: A participação do breaking em Paris foi uma solicitação do país-sede, que tem essa prerrogativa. Não significa que o esporte continuará [em Los Angeles 2028]. Foi o caso do beisebol e do caratê, que entraram [em Tóquio 2020] e lamentavelmente saíram. Lamento bastante. O caratê estava fazendo um ótimo trabalho. Temos atletas de altíssima competência no caratê, que saiu, mas pode voltar no futuro. Com o breaking é a mesma coisa.

O esporte está em processo de avaliação [pelo COI], tem uma entidade nacional. A entidade nacional, que é o Conselho Nacional de Dança Desportiva [CNDD], já se apresentou ao COB, o Patric Tebaldi [presidente do CNDD] esteve lá com o grupo dele. Estão fazendo a sua apresentação aqui, no Congresso Olímpico Brasileiro. Já entraram no repasse da Lei Piva. Tem todo um procedimento. Eles estão entrando agora. Estamos interagindo muito com a gestão deles. Assim como aconteceu com caratê, skate e surfe [estreantes em Tóquio 2020], houve uma interação para eles entenderem como é que funciona essa engrenagem do sistema olímpico mundial.

MDE: O Brasil tem chance de medalha?

PWT: Parece que sim porque tem um atleta que foi quarto lugar no Mundial de breaking [Luan San, no Mundial realizado em Paris, em dezembro de 2021].

* O jornalista viajou a convite do COB

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