A pandemia gerou ao mundo grandes desafios para as atividades econômicas. Empresas tiveram que se adaptar ao trabalho remoto, o e-commerce e os aplicativos de entrega se fortaleceram, e outros negócios enfrentaram problemas diante da dificuldade de adaptação aos tempos de quarentena e distanciamento social.
Para o setor de streaming esportivo, porém, a crise sanitária gerou oportunidade, com o aceleramento na aceitação de acompanhar transmissões de eventos pela internet.
“Com as competições sem público nos estádios, ou a entidade transmitia a competição ou não fazia sentido fazer. Sem torcedores e sem exibição, ninguém veria o que estava acontecendo. E nós estávamos bem posicionados”, contou Guilherme Figueiredo, fundador e diretor executivo da NSports, em entrevista à Máquina do Esporte.
Na conversa, Figueiredo falou sobre o crescimento da plataforma, a manutenção do público no momento em que as atividades voltaram à quase normalidade, projeções para o setor e o principal problema enfrentado pelos canais de streaming. Leia os principais trechos da entrevista a seguir.
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MÁQUINA DO ESPORTE: O mercado de streaming sofreu aceleração durante a pandemia?
GUILHERME FIGUEIREDO: Houve uma aceleração bastante grande. O primeiro ponto é a questão do hábito do consumidor. As lives dos sertanejos, no começo da pandemia, quebraram uma barreira que é todo mundo assistir ao evento ao vivo na internet e achar normal.
O segundo ponto, especificamente no esporte, com as competições sem público nos estádios, ou a entidade transmitia o evento ou não fazia sentido fazer. Sem torcedores e sem exibição, ninguém veria o que estava acontecendo. Então alguns eventos tiveram que oferecer a transmissão on-line. E nós estávamos bem posicionados. Já fazíamos isso há um ano e meio, tínhamos uma estrutura e um conhecimento mais aprofundado sobre o tema. Aí, acabamos crescendo desse final de 2020 até agora.
As lives dos sertanejos, no começo da pandemia, quebraram uma barreira que é todo mundo assistir ao evento ao vivo na internet e achar normal.
MDE: Houve ampliação no número de eventos transmitidos?
GF: Ampliamos as transmissões da Liga Nacional de Futsal, trouxemos o Campeonato Paranaense e a Série C do Campeonato Brasileiro, além de competições olímpicas das mais diversas modalidades depois que lançamos o Canal Olímpico, no final de 2020, começo de 2021, que coincidiu com esse período. Transmitimos mais de 33 modalidades nesse período todo. Já fizemos badminton, hóquei, wrestling, tiro com arco, tiro esportivo, maratona aquática, triatlo, vela, quase tudo. E as modalidades com mais visibilidade: natação, ginástica, atletismo, vôlei e basquete.
MDE: Como tem sido o retorno de audiência neste período de desaceleração da pandemia?
GF: Tivemos crescimento de audiência e de tempo médio assistido. Na média, temos no mínimo 35 minutos de tempo médio assistido. Uma parte do público quer ver o evento ao vivo e outra parte prefere ver os melhores momentos. Então, geramos muitos conteúdos meio que de pós-venda do evento, com recortes inusitados, e postamos nas redes sociais.
MDE: Quais os novos desafios para este momento?
GF: Antes, queríamos transmissões 100% exclusivas. Hoje, temos levado nossos conteúdos para outras plataformas. O Troféu Brasil de Natação, por exemplo, nós levamos para o Sportv. Temos feito isso com influenciadores usando a Twitch nas transmissões do futsal e da Superliga de Vôlei. É mais um react do que narração em si. Estamos fazendo a Liga de Basquete Feminino com a TV aberta. Estamos negociando o futsal para essa plataforma também.
MDE: Qual é o perfil do usuário da plataforma?
GF: Hoje, consigo fazer uma separação por canal com várias informações, não só as mais básicas, como demografia, gênero, idade e classe social. Mas também interesse em marcas e em assuntos específicos. Os usuários das transmissões de futsal, por exemplo, têm nove vezes mais afinidade com apostas on-line do que o público geral da internet. Um dos pontos fortes de ter uma plataforma própria é conseguir dados muito mais robustos.
Sempre trabalhamos em um cenário em que oferecemos uma parte de awareness [visibilidade para as marcas], por exemplo, quando conseguimos colocar [o evento] na TV aberta. Também trabalhamos no meio do funil, com produção de conteúdo, e na base, com ações de conversão direta. Temos atuado fortemente com as empresas para mostrar que não somos só um veículo de mídia nem só uma empresa de conversão.
MDE: Quais são as tendências do setor?
GF: Estamos pensando muito na experiência da plataforma, como é que vai ser o futuro. Acabamos de lançar um esquema de gamificação, que não chega a ser um fantasy [game], para o público participar das nossas transmissões ganhando prêmios. Fizemos alguns projetos pilotos na Superliga de Vôlei.
Nosso maior desafio é combater a pirataria, especialmente no futebol. A pirataria do futebol é coisa de crime organizado.
MDE: Quantas pessoas a NSports já atraiu para o streaming?
GF: Hoje, temos 1,3 milhão de pessoas que cadastradas no site. Dessas, pelo menos 650 mil assistiram às nossas transmissões nos últimos três meses. É um público que gira. E temos 220 mil que já comprou algum evento, seja Liga Nacional de Futsal, Superliga de Vôlei, Campeonato Carioca, Catarinense ou Paranaense.
MDE: Hoje, o financiamento do canal é mais com anunciante do que pay-per-view?
GF: No nosso orçamento deste ano, a expectativa de publicidade ainda é maior do que pay-per-view. Mas, para futuro, a tendência é de ampliação do PPV até o público se acostumar com esse serviço.
MDE: Quais são os principais empecilhos para o crescimento?
GF: Acho que a pirataria é o que atrapalha mais. Nosso maior desafio, sem dúvida, é combater a pirataria, especialmente no futebol. A pirataria do futebol é coisa de crime organizado. As vezes que localizaram e derrubaram essas transmissões piratas são sempre em lugares com tráfico de droga, milícia. Não é coisa pequena, especialmente no futebol.