Um relatório produzido pela Basis (Associação Britânica para Esporte Sustentável, em tradução livre) e a FrontRunners, organização de direitos humanos, apontou que o aquecimento global é um risco aos esportes olímpicos.
O estudo foi produzido a partir de uma colaboração entre onze atletas olímpicos, cientistas do clima e fisiologistas, e reúne os impactos que as altas temperaturas podem causar aos esportistas de alto nível.
“Um planeta em aquecimento apresentará um desafio adicional aos atletas, o que pode ter um impacto adverso em seu desempenho e diminuir o espetáculo esportivo dos Jogos Olímpicos”, avaliou o Dr. Jo Corbett, professor associado de fisiologia ambiental na Escola de Esporte, Saúde e Ciência do Exercício da Universidade de Portsmouth.
“Condições mais quentes também aumentam o potencial de doenças causadas pelo calor entre todos os indivíduos expostos a alto estresse térmico, incluindo oficiais e espectadores, bem como atletas”, completou.
Segundo o estudo, Paris 2024 pode superar as condições vividas pelos atletas em Tóquio 2020, que ficou conhecido como as Olimpíadas “mais quentes da história”, com temperaturas excedendo 34°C e umidade se aproximando de 70%. As consequências da prática esportiva nessas condições envolvem desmaios e até mesmo a morte de atletas.
“Para atletas, as consequências podem ser variadas e abrangentes. Com as temperaturas globais continuando a aumentar, as mudanças climáticas devem ser cada vez mais vistas como uma ameaça existencial ao esporte”, disse Lord Sebastian Coe, presidente da World Athletics e quatro vezes medalhista olímpico.
“Não está no DNA de um atleta parar e, se as condições forem muito perigosas, acho que há risco de fatalidades”, acrescentou Jamie Farndale, jogador de rúgbi de 7 da Grã-Bretanha.
Recomendações
O estudo pede à comunidade esportiva que aborde essas preocupações e implemente uma série de recomendações inspiradas em atletas para garantir a segurança e o bem-estar dos competidores.
A primeira recomendação diz respeito a programação das disputas, que devem ser pensadas de maneira “inteligente” para evitar o calor extremo. Manter atletas e fãs seguros com melhores planos de reidratação e resfriamento também foi recomendado.
O relatório aponta que os atletas devem ter voz ativa na discussão sobre as mudanças climáticas mundiais, sua terceira recomendação. A quarta sugestão é uma maior colaboração entre entidades esportivas e esportistas para campanhas de sensibilização acerca do cenário de aquecimento.
Por fim, o estudo recomenda a reavaliação de patrocínios de combustíveis fósseis, citados como os principais contribuidores para as ondas de calor registradas nos últimos meses.
Reatos
O relatório reuniu alguns relatos de atletas que demonstram o impacto das ondas de calor à saúde dos competidores. O tenista neozelandês, Marcus Daniell, que possui um bronze olímpico, compartilhou sua experiência em Tóquio 2020.
“Nas [Olimpíadas de Tóquio] eu senti que o calor estava beirando o risco real, que poderia ser potencialmente fatal. Um dos melhores tenistas do mundo [Daniil Medvedev] disse que achava que alguém poderia morrer em Tóquio, e não acho que isso tenha sido um grande exagero”, relembrou.
“Às vezes temos que jogar em condições em que um ovo pode literalmente ser frito na quadra. Isso não é divertido nem saudável. A insolação é relativamente comum no tênis”, completou.