O suíço Roger Federer, de 41 anos, anunciou em suas redes sociais que a Laver Cup, que será disputada de sexta a domingo da semana que vem (23 a 25), em Londres, será seu último torneio da carreira em nível ATP.
Para boa parte dos especialistas, Federer é considerado o maior tenista de todos os tempos. Em sua carreira, acumulou 20 títulos de Grand Slam, série formada pelas quatro principais competições do calendário do tênis. Foram seis títulos do Australian Open (2004, 2006, 2007, 2010, 2017 e 2018), um em Roland Garros (2009), oito na grama sagrada de Wimbledon (2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2009, 2012 e 2017) e cinco no US Open (2004, 2005, 2006, 2007 e 2008).
Federer ainda ganhou seis vezes o ATP Finals, torneio disputado apenas entre os oito melhores tenistas da temporada (2003, 2004, 2006, 2007, 2010 e 2011). Em Jogos Olímpicos, acumulou um ouro nas duplas em Pequim 2008 e a prata no torneio de simples em Londres 2012, quando perdeu a final para o britânico Andy Murray.
Ao todo, o suíço disputou 1.526 partidas na carreira profissional, com 1.251 vitórias e 275 derrotas (aproveitamento de 82%).
Financeiramente, Federer acumulou US$ 130.594.339 em premiações, sendo o terceiro tenista que mais arrecadou dinheiro em quadra na história. O sucesso nas quadras também levou à assinatura de contratos publicitários importantes. O tenista usou, durante a carreira, raquetes da Wilson e teve contrato de material esportivo com a Nike. Em 2018, trocou a marca norte-americana pela japonesa Uniqlo.
Federer também manteve contrato com empresas como Nationale Suisse (seguros), Credit Suisse (banco), On Running (tênis), Rolex (grife de relógios), Lindt (chocolate), Sunrise (telefonia), Jura Elektroapparate (eletrodomésticos), Mercedes-Benz (carros), Gillette (aparelho de barbear), Barilla (massas) e Moët & Chandon (espumante). Também foi embaixador de NetJets (jatos executivos), Emmi AG (produtos lácteos) e Maurice Lacroix (relógios de luxo).
Em 2020, Federer se tornou o primeiro tenista a liderar o ranking da revista Forbes de esportistas mais bem pagos do mundo.
O suíço também foi tema de um texto que se tornou clássico instantâneo no jornalismo literário, “Federer como experiência quase religiosa”, no qual o escritor David Foster Wallace relata a final do Torneio de Wimbledon de 2006:
“Com Federer não se trata de isso ou aquilo. Não falta nada da potência de Lendl ou Agassi nos golpes de fundo do suíço, ele sai do chão ao rebater e pode derrubar até mesmo Nadal do fundo da quadra. O que é bizarro e no fundo equivocado, com relação à placa de Wimbledon, é o seu tom pesaroso. A sutileza, o toque e o requinte não morreram na era power-baseline. Pois ainda estamos em 2006, em plena era power-baseline: Roger Federer é um power-baseliner matador, de primeira. A diferença é que ele não é apenas isso. Há também sua inteligência, sua antecipação sobrenatural, seu senso de quadra, sua capacidade de ler e manipular os adversários, de combinar efeitos e velocidades, de iludir e disfarçar, de usar a previsão tática, a visão periférica e o alcance cinestésico em vez de mera potência maquinal – tudo isso expôs os limites e as possibilidades do tênis masculino como é jogado hoje”
David Foster Wallace
Carta de amor ao tênis
Leia a seguir a carta emocionante que Federer postou aos seus fãs e seguidores para anunciar a aposentadoria.
Para minha família de tênis e a todos,
De todos os presentes que o tênis me deu ao longo dos anos, o maior, sem dúvida, foram as pessoas que conheci ao longo do caminho: meus amigos, meus adversários e principalmente os torcedores que dão vida ao esporte. Hoje, quero compartilhar algumas novidades com todos vocês.
Como muitos de vocês sabem, os últimos três anos me apresentaram desafios na forma de lesões e cirurgias. Trabalhei duro para voltar à plena forma competitiva. Mas também conheço as capacidades e os limites do meu corpo, e sua mensagem para mim ultimamente tem sido clara. Eu tenho 41 anos. Joguei mais de 1500 partidas em 24 anos. O tênis me tratou com mais generosidade do que eu jamais teria sonhado, e agora devo reconhecer quando é hora de encerrar minha carreira competitiva.
A Laver Cup, na semana que vem, em Londres, será meu último evento ATP. Vou jogar mais tênis no futuro, é claro, mas não em torneios de Grand Slam ou no circuito.
Essa é uma decisão agridoce, porque sentirei falta de tudo o que a turnê me deu. Mas, ao mesmo tempo, há muito o que comemorar. Eu me considero uma das pessoas mais afortunadas da Terra. Deram-me um talento especial para jogar tênis, e fiz isso em um nível que nunca imaginei, por muito mais tempo do que jamais imaginei ser possível.
Gostaria de agradecer especialmente à minha incrível esposa Mirka, que viveu cada minuto comigo. Ela me apoiou antes das finais, assistiu a inúmeras partidas mesmo com mais de 8 meses de gravidez e suportou a meu lado brincalhão na estrada com meu time por mais de 20 anos. Também quero agradecer aos meus quatro filhos maravilhosos por me apoiarem, sempre ansiosos para explorar novos lugares e criar memórias maravilhosas ao longo do caminho. Ver minha família torcendo por mim das arquibancadas é um sentimento que vou guardar para sempre.
Também gostaria de agradecer e reconhecer meus queridos pais e minha querida irmã, sem os quais nada seria possível. Um grande obrigado a todos os meus ex-treinadores que sempre me guiaram na direção certa… vocês foram maravilhosos! E à Federação Suíça de Tênis, que acreditou em mim quando jovem e me proporcionou um início de carreira ideal.
Eu realmente quero agradecer e reconhecer minha equipe incrível: Ivan, Darri, Roland e, particularmente, Seve e Pierre, que me deram os melhores conselhos e sempre estiveram juntos comigo. Também Tony, por gerenciar criativamente meu negócio há mais de 17 anos. Você é incrível e eu amei cada minuto com você.
Quero agradecer aos meus leais patrocinadores, que são realmente como parceiros para mim; e as equipes e torneios que trabalham duro no ATP Tour, que sempre nos receberam com gentileza e hospitalidade.
Também gostaria de agradecer aos meus adversários em quadra. Tive a sorte de jogar tantas partidas épicas que jamais esquecerei. Lutámos de forma justa, com paixão e intensidade, e sempre fiz o meu melhor para respeitar a história do jogo. Eu me sinto extremamente grato.
Nós nos desenvolvemos e juntos levamos o tênis a novos níveis.
Acima de tudo, devo oferecer um agradecimento especial aos meus fãs inacreditáveis. Vocês nunca saberão quanta força e fé me deram. A sensação inspiradora de entrar em estádios e arenas cheias foi uma das grandes emoções da minha vida. Sem vocês, esses sucessos seriam solitários, em vez de cheios de alegria e energia.
Os últimos 24 anos em turnê foram uma aventura incrível. Embora às vezes pareça que passou em 24 horas, também foi tão profundo e mágico que parece que já vivi uma vida inteira. Eu tive a imensa sorte de jogar em mais de 40 países. Eu ri e chorei, senti alegria e dor, e acima de tudo, senti-me incrivelmente vivo. Através de minhas viagens, conheci muitas pessoas maravilhosas que permanecerão amigas por toda a vida, que sempre tiraram um tempo de suas agendas lotadas para me assistir jogar e torcer por mim ao redor do mundo. Obrigado.
Quando meu amor pelo tênis começou, eu era um pegador de bola na minha cidade natal, Basileia. Eu costumava observar os jogadores com uma sensação de admiração. Eles eram como gigantes para mim e comecei a sonhar. Meus sonhos me levaram a trabalhar mais e comecei a acreditar em mim mesmo. Algum sucesso me trouxe confiança e eu estava a caminho da jornada mais incrível que me levou até hoje.
Então, quero agradecer a todos do fundo do meu coração, a todos ao redor do mundo que ajudaram a tornar os sonhos de um jovem jogador suíço em realidade.
Finalmente, ao jogo de tênis: eu te amo e nunca te deixarei.
Roger Federer