Chegada do fenômeno Caitlin Clark ao basquete profissional já causa impacto na WNBA

Torcida empolgada com as atuações de Caitlin Clark é algo que se tornou rotina na NCAA - Reprodução / Instagram (@caitlinclark22)

A classe de 2024 promete ser tão impactante para a WNBA, a liga profissional feminina de basquete dos Estados Unidos, como foi a classe de 1984 da NBA, que contou com nomes como Michael Jordan, Hakeem Olajuwon, Sam Perkins, Charles Barkley e John Stockton.

Mas, ao contrário de Jordan, maior nome da história da liga masculina e terceira escolha da loteria de calouros de 40 anos atrás, Caitlin Clark, apontada como a nova estrela do basquete feminino dos Estados Unidos, foi a primeira colocada do draft para surpresa de absolutamente ninguém.

Nova jogadora do Indiana Fever, a armadora vinda da Universidade de Iowa já gera grande expectativa em sua nova equipe, última colocada da Conferência Leste em 2023.

“Será como Tiger Woods entrando no PGA Tour”

Phil Cook, diretor de marketing da WNBA

Na Divisão I da NCAA, a liga de basquete universitário, Caitlin quebrou o recorde de pontos marcados. Para se ter uma ideia, o interesse em torno da jogadora fez a audiência da TV para a final feminina no tradicional March Madness ser maior do que a masculina.

Casa cheia

A WNBA espera capitalizar o efeito Caitlin a partir de 14 de maio, quando terá início a próxima temporada. De fato, essa expectativa já gera frutos.

O Las Vegas Aces, atual campeão da WNBA, mudou o jogo contra o Indiana Fever da Michelob Ultra Arena, com capacidade para 12 mil lugares, para a T-Mobile Arena, onde cabem 18 mil torcedores. O duelo será no dia 2 de julho.

A alteração aconteceu pela grande demanda já experimentada na venda de ingressos, só por causa da expectativa de que Caitlin seria selecionada pelo time de Indianápolis, que tinha o direito da primeira escolha do draft.

“É uma combinação rara de talento e tempo certo”, analisou Darren Heitner, advogado especialista em direitos esportivos, em entrevista ao site britânico SportsPro Media.

“Definitivamente, ela é uma das melhores mulheres que já jogaram basquete. [Caitlin é] única em termos de seu nível de talento. Ela ocupa esse espaço no momento”

Darren Heitner, advogado especialista em direitos esportivos

A procura por ingressos para todo o campeonato já experimenta um boom. Segundo a plataforma TickPick, o tíquete médio dos jogos fora de casa do Indiana Fever em 2023 era de US$ 43, um dos mais baixos da liga norte-americana. Neste ano, subiu para US$ 108, o que representa um aumento de 151%.

Para os jogos em casa, o ingresso subiu 136%, com o tíquete médio passando para US$ 182, de acordo com a SeatGeek. O time de Indiana teve a segunda pior média de público no ano passado. A previsão agora é de que seja um dos líderes de audiência.

Na TV

A WNBA divulgou a programação de transmissões nacionais para 2024 na última semana. Mesmo antes da escolha de Caitlin, o Indiana já contava com 36 de seus 40 jogos da temporada regular com transmissão para todo o país, por intermédio dos detentores de direitos de TV da liga: ABC, ESPN, CBS, NBATV e Amazon Prime Video. Os playoffs da competição serão exibidos pelas plataformas do Grupo Disney.

Na última temporada, a WNBA teve um forte crescimento de interesse entre os fãs de basquete. A audiência aumentou 21%, sendo a maior desde 2018.

“O aumento significativo nas principais métricas de negócios [da WNBA] é uma prova dos jogos empolgantes que estão sendo disputados e do crescente apelo da liga junto ao público”

Cathy Engelbert, comissária da WNBA

A expectativa gerada pela estreia da turma de 2024, capitaneada por Caitlin Clark, reforça a expectativa de Engelbert e de toda a WNBA de pelo menos duplicar os valores do próximo contrato de TV. Atualmente, a liga norte-americana embolsa US 60 milhões por ano.

NCAA x WNBA

Apesar disso, a WNBA ainda está longe de despertar o mesmo interesse do March Madness. Em média, um jogo da liga profissional atraía a atenção de 379 mil telespectadores em 2022. No ano passado, esse número subiu 33,2%, chegando a 505 mil pessoas.

Já a audiência dos jogos universitários femininos costuma ultrapassar 1 milhão de pessoas. O March Madness, por sua vez, teve 18,87 milhões de telespectadores nos Estados Unidos.

“Ainda não vimos alguém com o poder comercial de [Caitlin] Clark se transferir do basquete universitário para a WNBA”

Darren Heitner, advogado especialista em direitos esportivos

No basquete universitário, a armadora ganhou US$ 3,4 milhões na última temporada, superando qualquer outra jogadora do basquete feminino, incluindo as profissionais. Mesmo sem estrear na WNBA, Caitlin já tem acordos comerciais com marcas como Gatorade, State Farm, Nike e Xfinity. Nas redes sociais, já conta com 3 milhões de seguidores.

Brasil

A aguardada turma de 2024 também contou com uma brasileira, a pivô Kamilla Cardoso, fenômeno brasileiro, que atuou pela Universidade da Carolina do Sul e conquistou o título da NCAA.

Na final, derrotou justamente a Universidade de Iowa, de Caitlin Clark, por 87 a 75. Kamilla obteve um duplo-duplo, marcando 15 pontos e pegando 17 rebotes.

A pivô foi a terceira escolha da loteria universitária, indo atuar no Chicago Sky. É a melhor posição já obtida por um brasileiro ou uma brasileira na história da NBA ou da WNBA.

No ano passado, a ala Stephanie Soares havia sido a quarta escolha, do Washington Mystics, que a repassou para o Dallas Wings. Ela não atuou na última temporada por causa de uma cirurgia no ligamento cruzado anterior do joelho direito.

No masculino, os maiores destaques do Brasil até hoje foram o pivô Nenê, sétima escolha em 2002 pelo Denver Nuggets, e outro pivô, Rafael Araújo, o Baby, oitavo colocado em 2004, quando foi para o Toronto Raptors.

A classe da WNBA deste ano também conta com Cameron Brink, de Stanford, segunda escolha, que foi para o Los Angeles Sparks.

Recalque?

Apesar da expectativa dos torcedores pela classe de 2024, nem todo mundo vê com bons olhos as calouras chegando à liga profissional.

Para Diana Taurasi, de 41 anos, maior nome do basquete norte-americano na última década, que atua pelo Phoenix Mercury, o verdadeiro desafio das novatas (rookies) vem agora.

“A realidade está chegando”, advertiu a veterana, maior cestinha da história da WNBA, em entrevista à ESPN.

“Todos passamos por isso. Você parece um fenômeno jogando contra garotas de 18 anos, mas precisa se provar atuando contra adultas que jogam basquete profissional há muito tempo”, completou.

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