No último sábado, dia 8 de março, foi comemorado o Dia Internacional da Mulher. Março, aliás, é considerado o Mês da Mulher. Então, eu não poderia fugir do tema no meu retorno a este espaço aqui na Máquina do Esporte. Tenho a sorte de trabalhar em um universo em que as pioneiras foram tão inspiradoras e corajosas que abriram muitas portas para que uma grande quantidade de outras mulheres competentes chegasse ao mercado esportivo em todo o mundo. Desde as posições de aprendizes até grandes líderes em diversas áreas, sinto uma identificação muito grande com todas elas porque, de alguma forma, tiveram que conciliar maternidade com profissionalismo, enfrentaram disparidade salarial em cargos similares aos dos homens, ou simplesmente trabalharam com dedicação todos os dias para alcançarem seus objetivos profissionais e estão trazendo inovação ao esporte.
Mas hoje quero focar em uma só. Quem é a brasileira que conquistou o universo do “infotenimento” (para quem ainda não conhece, trata-se de um neologismo que soma informação e entretenimento) e da criação de conteúdo esportivo internacional com clientes como Fifa, Bundesliga e NWSL?
“Oi, eu sou a Duda”. É como ela mesma se descreve. Mas por trás de uma simplicidade tocante e de um sorriso largo, a paulista nascida em Marília, que carrega com muito orgulho o sotaque do interior de São Paulo, tem credenciais de sobra para justificar o porquê dos grandes eventos dos Estados Unidos e da Europa terem caído nas graças de Eduarda “Duda” Pavão.
Quando a equipe do Fifa+ estava planejando a cobertura do Mundial do Catar, em 2022, o time de mídias sociais da Fifa apresentou alguns potenciais nomes para a produção de conteúdo do torneio, e a Duda estava listada como uma das opções. Confesso que, inicialmente, fomos céticos quanto à contratação porque ainda não conhecíamos a fundo o trabalho dela (à época como apresentadora da TV do Orlando City e do Orlando Pride), e o número de seguidores não era tão atraente. Mas não demorou para nos encontrarmos pessoalmente e presenciarmos seu “modus operandi” nos estádios e produções de conteúdo, junto do seu carisma com todos os torcedores nas arquibancadas. Ali, passei a entender melhor o “Efeito Duda”.
Uma rápida visita ao perfil dela nas redes sociais e já podemos perceber o quanto seu posicionamento no mercado mudou de figura em pouco mais de dois anos: apresentou o prêmio The Best da Fifa ao lado do lendário Thierry Henry e da jornalista britânica Reshmin Chowdhury (figurinha carimbada nas transmissões esportivas da Premier League, Champions League, etc.); ciceroneou o Fifa Plage e recepcionou Ronaldo Fenômeno no espaço exclusivo para ativações comerciais e networking da Fifa durante o Festival de Cannes em 2024; criou conteúdo para Bundesliga, NWSL, Adobe e Copa América; defendeu a candidatura do Brasil como país-sede da Copa do Mundo Feminina 2027 no Congresso da Fifa na Tailândia (o que ela considera ter sido seu “case” mais especial até hoje); e por aí vai.
“Sem dúvida nenhuma aquela apresentação de 15 minutos, subir ali no palco, em frente a todos, representando todo o nosso país e todas as nossas meninas que sempre sonharam em jogar futebol, e eu sendo uma delas, é de arrepiar. É um momento que nunca vou esquecer, e que sempre estará escrito na história do futebol do nosso Brasil. (…) É muito engraçado pensar nisso, porque parece que pisquei o olho e acabou. Eu estava tão focada no trabalho, em trazer essa Copa do Mundo Feminina para o nosso Brasil, que, num piscar de olhos, a gente já estava se abraçando, celebrando, comemorando. Momento de mais orgulho que já tive na minha vida tanto pessoal quanto profissional”, relembrou.
Radicada em Los Angeles, na Califórnia, a vida da Duda tem um enredo que poderia dar muito samba. De Marília (SP) para Manaus (AM) ainda criança. De Manaus (AM) para os Estados Unidos para jogar futebol e estudar na adolescência. De volta para Manaus (AM) à espera de seu Green Card, e sua consequente estreia como jogadora de futebol profissional pelo Esporte Clube Iranduba, da Amazônia. De campeã na Arena da Amazônia a apresentadora da TV oficial do Orlando City e do Orlando Pride, até receber um convite que mudaria a sua carreira: trabalhar com “infotenimento” e criação de conteúdo para a Fifa. Ela é a voz dos estádios, o rosto que agita o telão nas arquibancadas, desde as Copas do Mundo de base, até a grande final Argentina x França, no Catar 2022, e a final feminina Espanha x Inglaterra, na Austrália 2023.
Duda é uma potência em comunicação, tanto na frente quanto atrás das câmeras. Fluente em três idiomas, possui excelente oratória e uma energia ímpar com o microfone nas mãos. Tive o prazer de presenciar alguns estádios inflando a energia da arquibancada sob seus comandos e vou dizer uma coisa: dá o maior orgulho de ver aquela brasileira lá sacudindo todo mundo, entregando, fazendo o que faz com muita dedicação e profissionalismo.
Do esporte, ela carrega a paixão e as oportunidades que recebeu, como a de representar instituições de ensino nas ligas semiprofissionais de futebol dos Estados Unidos e de terminar suas graduações em Comunicação e Estudos de Mídia, Negócios do Esporte e Espanhol. É dos gramados também que Duda carrega um relacionamento muito estreito, principalmente com as atletas da NWSL, fazendo com que seus acessos sejam ainda mais exclusivos a algumas das maiores jogadoras de futebol do mundo. O sonho da maioria das marcas que investem em conteúdo de esporte.
Tanto é que, na cartela de clientes da brasileira, estão marcas internacionais renomadas, clubes do Brasil e dos Estados Unidos, ligas, torneios oficiais da Fifa e ainda o mais recente contrato, fechado com a Bundesliga. Quem cuida atualmente de seus acordos comerciais é Charlie Del Mar, seu ex-companheiro de Orlando City e Orlando Pride, da ProSport Management Media.
“Planos para 2025, como sempre, é focar a liga feminina dos Estados Unidos, tanto na parte de criação de conteúdo quanto na área de televisão. Mas ainda temos a Copa do Mundo de Clubes, e estamos trabalhando para, quem sabe, eu estar com uma cobertura especial no mês todo. Para 2025, os planos são estar muito ocupada trabalhando, criando conteúdos informativos, diferentes, interativos, aproveitando cada oportunidade que eu vou ter agora pelo fato do futebol estar crescendo muito por aqui, com muitos eventos”, destacou.
Em um mundo em que a inteligência artificial (IA) se faz cada vez mais onipresente, é extremamente satisfatório ver casos em que o carisma e a simpatia bem humanos, muito brasileiros, daquele nosso jeito único, junto do profissionalismo e bom posicionamento, se tornam imbatíveis. Duda, na minha opinião, é um “win-win” para quem quer ativar as Américas de 2025 a 2027.
Raiana Monteiro é jornalista e atual coordenadora de conteúdo do Fifa+, a plataforma de streaming da Fifa. Na carreira, já atuou como coordenadora de comunicação de esportes olímpicos do Flamengo, diretora de relações públicas do Vasco e ainda teve passagens pelo Grupo Globo e pela agência In Press Media Guide