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Ronaldo Fenômeno encabeça comissão da Conmebol para luta contra o racismo

Ex-jogador, que desistiu da candidatura à presidência da CBF, terá tarefa de buscar soluções concretas para combater o problema

Mauro Silva, Alejandro Dominguez e Ronaldo Fenômeno no encontro da Conmebol - Divulgação

Mauro Silva, Alejandro Domínguez e Ronaldo Fenômeno no encontro da Conmebol - Divulgação

O brasileiro Ronaldo Fenômeno encabeçará uma força-tarefa criada pela Conmebol para implantar estratégias para erradicar o racismo, a discriminação e a violência no futebol sul-americano. Na comissão, o ex-atacante da seleção brasileira terá a companhia de Fatma Samoura, ex-secretária-geral da Fifa, e Sergio Marchi, presidente da Fifpro, o sindicato internacional dos jogadores profissionais.

A iniciativa acontece três semanas depois do crime de racismo sofrido pelo atacante Luighi, do Palmeiras, ainda durante a fase de grupos da Libertadores Sub-20. O jogador foi alvo de um torcedor do Cerro Porteño, que imitou um macaco segurando uma criança no colo.

Após a atitude criminosa, a Conmebol prometeu punição rigorosa, mas divulgou apenas uma multa de US$ 50 mil ao clube, além de obrigá-lo a jogar o resto da competição com portões fechados (a equipe faria apenas mais um jogo) e programar uma campanha contra o racismo em suas redes sociais.

Na semana passada, uma declaração racista do presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez, lançou ainda mais gasolina na fogueira de desavenças entre os clubes brasileiros e a entidade.

O dirigente foi questionado por um repórter o que seria da Libertadores sem a participação dos clubes brasileiros, ameaça feita por Leila Pereira, presidente do Palmeiras. “Seria como Tarzan sem Chita”, respondeu o dirigente, comparando as equipes nacionais com um chimpanzé.

Ronaldo Fenômeno comandará a comissão curiosamente apenas 15 dias após desistir de concorrer à eleição para a presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Sem concorrentes, Ednaldo Rodrigues, atual presidente da entidade, foi reeleito por unanimidade na última segunda-feira (24).

Gestão de crise

Como forma de tentar estancar a ferida aberta, a Conmebol convocou uma reunião entre representantes de governos da América do Sul e confederações dos países-membros da entidade, que decidiu pela formação da força-tarefa.

Segundo a Conmebol, o foco do grupo será integralmente na busca por soluções concretas para o problema.

“Sua missão será elaborar políticas eficazes e estabelecer mecanismos de prevenção e sanção que contribuam para erradicar esses comportamentos que afetam tanto o esporte quanto a sociedade”, destacou a entidade que comanda o futebol sul-americano.

Domínguez buscou enfatizar uma pretensa união entre todas as federações nacionais da região, mesmo que a CBF tenha endossado a iniciativa do Palmeiras de levar o caso de Luighi à Fifa. O crime chegou, inclusive, a repercutir com o presidente da entidade, Gianni Infantino.

“Estamos agindo aqui com responsabilidade e unidade para enfrentar os desafios futuros, superá-los e continuar no caminho do crescimento”, discursou o dirigente.

O paraguaio tenta se distanciar dos constantes casos de racismo do passado, o último dos quais aconteceu em Argentina x Brasil, na última terça-feira (25), em duelo válido pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026, quando um torcedor local imitou novamente um macaco para o público brasileiro.

“Não queremos um debate sobre o passado, mas sim discutir o futuro. Tudo o que for dito aqui é para somar e melhorar o nosso esporte”, disse Domínguez.

Luighi, atacante do Palmeiras, que foi alvo de insultos racistas durante a Libertadores Sub-20 – Reprodução / Instagram (@sportv)

Protocolos

Durante o encontro, as diretorias de Competições e Assuntos Jurídicos da Conmebol apresentaram os protocolos e regulamentos vigentes contra o racismo. Também citaram exemplos concretos de multas e sanções nos últimos anos.

Entre as medidas anunciadas, também se destacam a criação de uma lista de torcedores que serão proibidos de entrar nos estádios. Ela incluirá indivíduos envolvidos em atos de racismo, vetando-os nas arenas em qualquer torneio na América do Sul e outras competições a nível mundial.

Haverá ainda a implementação de novos programas educacionais destinados a jogadores, árbitros, clubes e torcedores, com o objetivo de promover a conscientização e prevenção do racismo.

Durante o encontro, também foi discutida a destinação dos recursos arrecadados com as multas por casos de racismo, discriminação e violência no futebol.

Esses recursos são destinados ao Projeto Suma, iniciativa da Conmebol voltada para a educação e o desenvolvimento social por meio do esporte. O projeto será replicado em todos os 10 países-membros da Conmebol.