O esporte da América do Sul se chocou nas últimas semanas com uma série de escândalos sobre manipulação de resultados. Na Bolívia, a federação nacional cancelou suas duas competições devido a uma “rede de corrupção” no futebol. Na Colômbia, Edgar Paez, presidente do time da segunda divisão Tigres FC, foi assassinado, em um acidente em que se investiga uma possível relação com manipulação de resultados. E no Chile, a federação nacional foi obrigada pelo governo a interromper, temporariamente, qualquer patrocínio que envolva casas de apostas até que o país defina a legislação sobre o tema.
Claramente, a corrupção relacionada às apostas não é um problema que assola somente a América do Sul. Na Ásia, por exemplo, a equipe de integridade da Genius Sports identificou, historicamente, o triplo de alertas suspeitos em eventos esportivos quando comparados com as competições sul-americanas. No entanto, o que é realmente alarmante é que os problemas estão começando a se intensificar na América do Sul. Nos primeiros seis meses de 2023, 145 eventos suspeitos ocorreram na região, um aumento de 25% em relação ao mesmo período de 2022.
No Brasil, desde o início do ano, as autoridades iniciaram uma investigação federal sobre manipulação no futebol, que vive sua maior crise esportiva nesse sentido em décadas. Nas colunas anteriores, mencionei que mais de 80 alertas foram identificados no futebol brasileiro, de acordo com a tecnologia de inteligência artificial de monitoramento da Genius Sports.
Enquanto isso, a Associação Brasileira de Defesa da Integridade do Esporte (Abradie) continua sua missão de proteger a integridade do esporte brasileiro unindo seus principais stakeholders, o que inclui clubes, casas de apostas, especialistas jurídicos e autoridades. A associação, inclusive, foi convidada há duas semanas pelo ex-jogador e atual senador Romário, presidente da Comissão de Esportes no Senado, para participar de uma Audiência Pública sobre corrupção no futebol.
Um dos principais pilares da Abradie no combate à manipulação de resultados é o uso da inteligência, que pode ser obtida por meio de muitas fontes, e é por isso que continua sendo um ponto fundamental para condensar o ecossistema do esporte e aumentar o engajamento dos seus principais membros nessa missão.
Neste mês, além de demonstrar o poder da tecnologia de inteligência artificial (IA) na detecção da corrupção, a Genius Sports mostrou sua capacidade de inteligência na 13ª edição da Força-Tarefa sobre a Manipulação de Resultados da Interpol (IMFTF), realizada em Buenos Aires, na Argentina. A iniciativa uniu entidades esportivas ao redor do mundo, incluindo NCAA, Fifa, Uefa, COI e muitos outros, além de membros das polícias brasileira e argentina, e colaborou para quebrar as barreiras internacionais de cooperação entre os principais stakeholders.
Para evoluir na gestão de inteligência em relação à manipulação de resultados, a Genius Sports realizou, em 2022, uma parceria com a Clue Software para lançar o sistema de inteligência mais avançado do esporte mundial. A nova base de dados permitiu uma evolução na capacidade de avaliar um grupo maior de informações, facilitou a identificação automática de relações entre as entidades esportivas e permitiu um aprofundamento na percepção de tendências. Consequentemente, garantiu a possibilidade de acelerar o processo de investigação.
No início do ano, a Federação Alemã de Futebol (DFB) reforçou sua parceria de integridade com a Genius Sports para usufruir desse robusto sistema de integridade. Com essa expansão, a federação poderá receber constantemente os insights de atividades suspeitas, incluindo a habilidade de rastrear os atletas envolvidos em eventos suspeitos.
A necessidade de monitorar e rastrear os jogadores internacionalmente e que estão envolvidos em eventos suspeitos foi destacada este ano, quando o atacante Alef Manga, brasileiro que foi acusado de manipulação de resultado, foi transferido da América do Sul para jogar no Chipre. Se esse atleta não fosse acusado, como a maioria não é, o caso não seria de conhecimento público e as autoridades do Chipre não estariam cientes dos riscos de integridade que a competição poderia enfrentar.
Bases de dados de inteligência são tão boas quanto as informações que armazena, e é por isso que envolver todo o ecossistema esportivo para trabalhar de forma colaborativa é essencial no combate à manipulação de resultados. A Abradie já iniciou esse trabalho agregando federações, ligas, clubes, casas de apostas e empresas de tecnologia, mas é preciso mais. É preciso estimular mais entidades para trabalhar em conjunto e, assim, realmente conseguir manter o esporte justo, seguro e imprevisível.
Guilherme Buso liderou a comunicação do NBB por mais de uma década e ainda trabalhou na Federação Paulista de Futebol (FPF) e na Puma Brasil, antes de assumir como líder de esportes e apostas da Genius Sports para o mercado brasileiro. Jornalista com Pós-Graduação em Marketing e Mestrado em Gestão Desportiva pela Universidade de Coventry (Inglaterra), ele escreve mensalmente na Máquina do Esporte