A cidade que fugiu das Olimpíadas

Boston seria sede dos Jogos de 2024, mas a população se virou contra o projeto e até um site foi criado para forçar o Comitê Olímpico Americano a retirar a candidatura - Reprodução / www.noboston2024.org

“Feliz 2024! Bem-vindo ao ano dos Jogos Olímpicos de Boston!”. Por alguns meses, o mundo imaginou que essa seria a manchete dos jornais na virada do ano, ao final de 2023. A essa altura do campeonato, era para a cidade estar vivendo a expectativa para receber milhares de atletas e a atenção de todo o planeta. Mas os moradores de Boston verão a festa toda apenas pela televisão. O esporte americano é tão bom para colecionar histórias de sucesso que, muitas vezes, a gente esquece rapidamente de tropeços históricos. E esse é um deles.

Boston é uma das cidades mais importantes dos EUA. Além da relevância cultural, a cidade tem uma história incrível no esporte. O basquete foi inventado perto de lá, em 1891. Em Boston jogam os Celtics, franquia mais vencedora da história do basquete americano com 17 títulos da NBA. Também na região está o New England Patriots, o time de futebol americano que consagrou Tom Brady e conquistou o Super Bowl seis vezes.

A cidade tem também uma das maiores maratonas do mundo. Tão importante que não basta querer correr, é preciso ter índice técnico, ou seja, correr uma maratona preparatória oficial em um determinado tempo. E Boston foi ainda palco de jogos da Copa do Mundo da Fifa de 1994, incluindo partidas das oitavas e das quartas de final.

Com todo esse histórico, a cidade garantiu o direito de organizar os Jogos Olímpicos de 2024 em janeiro de 2015. Seis meses depois, a população se virou contra o projeto, e o Comitê Olímpico Americano decidiu retirar a candidatura. A decisão fez com que Paris, inicialmente escolhida para 2028, ficasse com os Jogos de 2024, e Los Angeles fosse a cidade americana escolhida para 2028.

Dentre os motivos para o fracasso, o principal foi o baixo apoio popular por causa da falta de transparência e dos altos salários dos membros do comitê organizador. Também contribuíram as nevascas do inverno de 2015, que paralisaram o sistema de transporte público, e até uma restrição ao que os funcionários da prefeitura podiam falar sobre os Jogos.

Mas em vez de lamentar a perda de um evento tão importante, os moradores de Boston parecem mais aliviados por terem feito pressão para evitar que um projeto que custaria bilhões de dólares de dinheiro público fosse levado à frente. As Olimpíadas que nunca aconteceram em Boston confirmam uma lição conhecida dos livros de administração de um país que tem a economia voltada para a inovação: tão importante quanto tentar coisas novas é saber quando desistir de um projeto antes que as coisas piorem e se tornem insustentáveis.

Sergio Patrick é especializado em comunicação corporativa e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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