“A história por trás do logo” e suas lições

Filme conta com nomes como Matt Damon, Ben Affleck e Viola Davis no elenco - Divulgação

Após seis anos sem conseguir desfrutar de férias, tive a oportunidade de viajar com a família e recarregar a bateria para uma nova etapa profissional no mercado esportivo.

Nesse período, desliguei-me de 90% das minhas responsabilidades, preocupações e/ou dos prazeres que os negócios do esporte proporcionam, exceto quando acompanhei alguns jogos de playoffs da NBA e o dia em que vi “Air: A história por trás do logo”. O filme se inspira na história real sobre a relação da Nike com Michael Jordan e seguramente é uma lição muito atual e que carrega algumas lições importantes.

No meu último artigo, trouxe uma reflexão sobre os desdobramentos da liga brasileira de futebol. Em mais uma rodada recente de debates, a Mubadala, um dos principais fundos soberanos de investimentos dos Emirados Árabes Unidos e que está à frente das tratativas desse projeto, propõe a criação de um bloco comercial antes da liga propriamente dita, em uma operação de R$ 1,3 bilhão para facilitar o acerto com a Libra.

Etapas de negociações são comuns e fazem parte do ritual no mundo dos negócios, mas seguramente seria mais fácil aprender, antes do aperto de mãos, algumas coisas com a liga nacional de basquete americana.

A NBA adotou uma estratégia agressiva de marketing para expandir sua marca em todo o mundo. Ela estabeleceu escritórios internacionais, promoveu jogos de exibição em outros países e assinou acordos de transmissão pelo planeta.

Esses esforços ajudaram a aumentar a popularidade do basquete e a atrair fãs em escala global, tornando a liga também pioneira em criar um ambiente de entretenimento durante os jogos, introduzindo elementos como dançarinos de torcida, mascotes, shows do intervalo e efeitos especiais para melhorar a experiência dos fãs.

A liga também promove eventos como o All-Star Game, o Slam Dunk Contest e o 3-Point Contest, que atraem grande atenção e entusiasmo dos fãs. Não menos importante, estabeleceu parcerias estratégicas com grandes empresas e patrocinadores, o que ajudou a impulsionar suas receitas e sua presença global. Essas parcerias incluem acordos de transmissão com redes de televisão, contratos de patrocínio com marcas esportivas e acordos de licenciamento para a venda de produtos com a marca NBA.

Para se ter uma ideia, a revista Forbes revelou que o crescimento dos times no último ano girou em torno de 13% em média. Em 2021, uma franquia da NBA foi avaliada em US$ 2,48 bilhões. De uma forma geral, a NBA ganha dinheiro principalmente por meio da televisão (direitos de transmissão), merchandising, patrocínios e bilheteria.

Existem vários modelos de negócios na NBA. Por exemplo, os contratos de direitos de transmissão, com as televisões americanas ou estrangeiras, ganham valores milionários a cada vez que a liga cresce e ganha novos telespectadores. Com isso, novos conteúdos derivados da modalidade são gerados, criando milhões de novos consumidores e novas receitas.

Um ótimo e recente exemplo disso acontece mesmo para aqueles que não são fãs de basquete, mas que puderam se deliciar em um flashback dos anos 1990, no documentário “The Last Dance”, da ESPN e da Netflix, que conta a história do Chicago Bulls e de sua estrela Michael Jordan na busca pelo sexto título da NBA na temporada 1997/1998, com imagens inéditas. “The Last Dance” registrou a impressionante marca de 23,8 milhões de espectadores apenas nas quatro primeiras semanas de exibição em 2021.

Em “Air”, Michael Jordan sequer precisa aparecer, mas está novamente presente e traz à tona uma ideia genial e muito bem contada pelo diretor Ben Affleck, com diversos personagens que mudaram a história recente do basquete, novos modelos comerciais conectando atletas e marca, e a geração de negócios baseado em lifestyle. Quando se usa um Air Jordan, não se usa apenas um tênis ou equipamento esportivo, veste-se a história por trás do logo, literalmente (assista ao filme).

É difícil determinar com precisão o valor de mercado da marca Air Jordan, pois a marca faz parte da Nike, uma empresa de capital aberto, e as informações específicas sobre o valor de mercado da marca não estão prontamente disponíveis. A marca gerou mais de US$ 3,1 bilhões em receita em 2018/2019, seguindo com robustos US$ 3,6 bilhões no ano fiscal seguinte e com royalties na casa de 5% para Michael Jordan.

No entanto, é amplamente reconhecido que a marca Air Jordan é extremamente valiosa e tem um impacto significativo nas receitas da Nike. Desde o seu lançamento, em 1984, a linha de produtos Air Jordan tem sido um grande sucesso comercial. Hoje em dia, os tênis Air Jordan continuam sendo muito populares entre os fãs de basquete e entusiastas de sneakers em todo o mundo.

Quando vejo todos esses números e o que aprendi ao assistir ao filme “Air” e ao documentário “The Last Dance”, começo a perceber que a diferença de valores sobre a nossa liga não está necessariamente desequilibrada entre os clubes, mas no real valor que esse movimento vale e em todos os desdobramentos que podem ser gerados a partir disso.

Talvez a gente não esteja de fato calibrando a mão nesse arremesso, fazendo uma simples alusão ao basquete. Estamos perdendo de vista tudo que pode ser feito com a união de uma boa estratégia de marketing, a coragem e a ousadia necessárias para sua implementação e uma visão clara de futuro para qualquer tipo de projeto no esporte.

Até a próxima.

Reginaldo Diniz é cofundador e CEO do Grupo End to End e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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