A lição de Pepê Gonçalves

O canoísta Pepê Gonçalves celebrando depois de competir na categoria K1 no Rio - Foto por Olivier Morin/AFP

O canoísta Pepê Gonçalves celebrando depois de competir na categoria K1 no Rio - Foto por Olivier Morin/AFP

O finalista olímpico de canoagem slalom Pepê Gonçalves não precisou ficar confinado na casa mais vigiada do Brasil para surfar a corredeira da 24ª edição do Big Brother Brasil que estreou no último dia 8.

Na última semana, quando os brasileiros descobriam um a um os participantes do programa, Pepê postou em suas redes sociais uma arte bem produzida confirmando sua entrada na casa. #TimeCanoa, #TimePepê foram as hashtags do post no Instagram que rendeu mais de 7 mil curtidas e para lá de trezentos comentários.

Pepê caprichou ainda na produção de chegada à casa. Com mala do Time Brasil e remos, e a legenda “Libera o caiaque na piscina, @jbboninho”, ganhou umas cinco mil e tantas curtidas, inclusive a minha.

Números altos mesmo para um atleta extremamente carismático e ativo nas redes. Pepê costuma treinar munido de uma câmera GoPro, mostra a seus seguidores uma rotina de treinos intensa e cheia de natureza e não costuma ter mais do que quinhentos likes em suas postagens, quanto muito bate mil.

Mas tudo não passava de uma pegadinha genial do atleta (e sua equipe?), se aproveitando do burburinho do BBB24 para dar uma grande lição no público.

“hahaha peguei vocês, gente! Gente, eu não vou para o Big Brother! Estou aqui me dedicando treinando todos os dias para a minha medalha Olímpica de Paris. Inclusive esse post aqui foi o post com mais engajamento desde 2021. Gente, tá certo isso? Não tá, né? Nessa caminhada fui campeão mundial, medalhista de copa do mundo, vice dos Jogos Pan-Americanos, diversas medalhas… treinando todo dia, me lascando… Não tá certo uma fake news do Big Brother ter mais engajamento ou mais valor que nosso dia de atleta. (…) Vem, vamos juntos buscar essa medalha junto porque eu estou aqui me dedicando! (…) Vamos acompanhar nosso dia a dia, curtir, compartilhar engajar com os atletas olímpicos!”, disse Pepê sorridente e simpático como sempre, diante dos anéis olímpicos, pôsteres de edições antigas dos Jogos e a música tema do BBB ao fundo.

Esse é o retrato de grande parte dos atletas Olímpicos do Brasil, que passam boa parte do ciclo de quatro anos no anonimato junto ao grande público (aqueles que não necessariamente são fãs de esporte) para experimentarem a visibilidade muitas vezes efêmera dos Jogos.

Ainda dá tempo – a pouco menos de 200 dias para a abertura dos Jogos Olímpicos de Paris (marco ironicamente celebrado no dia 6 de janeiro, dois dias depois da brincadeira de Pepê), centenas de atletas treinam, sonham e se apresentam de peito aberto nas redes sociais. Com o incentivo de fãs e marcas, transformar o sonho em uma realidade é mais fácil, sem dúvida. E quem sabe, com mais pessoas consumindo o esporte e seus ídolos, acordaremos um dia sendo verdadeiramente uma nação esportiva. Para aí sim ser uma potência olímpica sustentável. Esse é o meu sonho – e sei que não estou sozinha.

Manoela Penna é consultora de comunicação e marketing, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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