Basquete Cidadão

Primeira turma do Basquete Cidadão na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo (SP) - Divulgação / LNB

O entendimento do esporte como uma importante ferramenta de transformação social das pessoas é universal. Pode ser encontrado textualmente em leis nacionais, em estudos científicos, em pesquisas e, principalmente, em depoimentos daqueles que foram impactados em sua educação e formação humana pelos valores e aprendizados da atividade esportiva.

Todo país tem o esporte como política pública, cuja representatividade está no contexto cultural da sua respectiva população. Assim como a música, a comida, a dança, a arte, a literatura e outras manifestações culturais de uma comunidade, o esporte também é um pilar e um reflexo da sociedade, podendo variar a relevância nos âmbitos educacional, social e mercadológico.

O encantamento do esporte de alto rendimento frequentemente concentra as atenções nos grandes ídolos e nos grandes eventos. O alto rendimento é apenas a ponta da pirâmide e inclui poucos atletas quando comparado à base de praticantes. Por isso, a maioria das entidades esportivas, organizações não governamentais, marcas patrocinadoras e instituições sociais têm a preocupação de priorizar o esporte como instrumento para a promoção da saúde, a qualidade de vida e a formação educacional e social dos indivíduos.

Diversos projetos sociais no país oferecem atividades esportivas para crianças e jovens de comunidades em situações de vulnerabilidade, iniciativas louváveis e que contribuem para uma mudança na vida de milhares ou até milhões de pessoas. Essa preocupação também está presente na Liga Nacional de Basquete (LNB) por meio de diversas ações realizadas ao longo do ano, entre elas o programa NBB Caixa Social, que reconhece e premia as iniciativas sociais das equipes, a política antirracismo e o reaproveitamento de materiais promocionais na produção de mochilas e bolsas escolares.

Uma das mais recentes é o Basquete Cidadão, um núcleo que utiliza o basquete como instrumento de transformação de um grupo de jovens na comunidade de Paraisópolis, na cidade de São Paulo. A principal diferença desse programa é o ensinamento da prática do basquete para o conhecimento das regras do jogo. Isso porque o programa tem como propósito preparar 50 jovens de 15 a 20 anos para exercerem as funções de arbitragem, oficiais de mesa e estatísticos durante uma partida de basquete.

A primeira turma do programa está em andamento com previsão de conclusão neste primeiro semestre de 2024. Os participantes possuem aulas práticas de basquete, em uma parceria com o Instituto Anjos do Esporte, e teóricas, com a Federação Paulista de Basquete (FPB), para receber o certificado de formação do curso de arbitragem da entidade que comanda o basquete em São Paulo. Com esse certificado, os jovens estarão aptos para atuar em jogos oficiais da FPB. A realização desse programa foi viabilizada pela Whirlpool Corporation, que aportou recursos de Imposto de Renda (IR) no projeto que foi aprovado na Lei de Incentivo ao Esporte (LIE), do Ministério do Esporte, do Governo Federal.

O principal benefício desse programa é possibilitar uma renda complementar para esses jovens por meio do exercício das atividades de árbitro, oficiais de mesa e estatísticos em jogos oficiais da FPB e da LNB. A propósito, essas funções estão ao alcance de qualquer jovem interessado em estudar e se formar no curso de árbitros e oficiais de mesa. A agenda das competições esportivas permite que esses jovens conciliem a atividade com a escola e/ou outros trabalhos formais, pois normalmente os jogos acontecem em horários noturnos nos dias úteis ou nos finais de semana.

Para ilustrar melhor essa contribuição de renda, a taxa recebida em jogos oficiais da FPB varia de R$ 95 a R$ 660, dependendo da categoria do árbitro (estagiário até internacional) e da competição (12 anos até adulto). Para os oficiais de mesa, a remuneração vai de R$ 75 a R$ 305. Se considerarmos três partidas por semana, ao final do mês a renda complementar pode ultrapassar um salário mínimo.

Os jovens árbitros que se destacarem ao longo da carreira poderão ser convidados pela Liga Nacional de Basquete para prestar serviço na Liga de Desenvolvimento (LDB), em que um árbitro recebe uma taxa mínima de R$ 220 por partida. Pela fórmula de disputa dos jogos, um árbitro pode atuar em cinco ou mais partidas na semana.

Assim como toda atividade profissional, a promoção para a principal competição de basquete do país, o NBB Caixa, é uma meta daqueles que desejam investir na carreira. A tabela de remuneração dos árbitros no NBB Caixa começa em R$ 685 por partida. A fase regular, de outubro a abril, da temporada 2022/2023 terá 342 jogos, uma média de aproximadamente 50 partidas por mês. Cada jogo possui três árbitros, ou seja, é bastante razoável um árbitro atuar em oito partidas no mês, totalizando R$ 5.480.

Esse mesmo raciocínio pode ser aplicado aos estatísticos dos jogos, porém a remuneração é menor que a dos oficiais de quadra (árbitros). Isso se deve à maior complexidade e responsabilidade da função do árbitro nas partidas. O fato é que a LNB, em parceria com o Anjos do Esporte e a Federação Paulista de Basquete, e com o apoio fundamental da Whirlpool e do Ministério do Esporte, enxergou um novo caminho para o esporte como ferramenta de transformação social para a vida de diversos jovens de comunidades, e essa ideia pode (e deve) ser replicada em outras cidades e outras modalidades.

Correspondendo ao esforço do presidente da Liga Nacional de Basquete, Rodrigo Franco Montoro, para viabilizar esse projeto, destaco um agradecimento especial a Eduardo Vasconcelos, diretor de relações institucionais e governamentais da Whirlpool para a América Latina, André Brazolin, idealizador do Instituto Anjos do Esporte, Enyo Correia, presidente da Federação Paulista de Basquete, e a todos aqueles da comunidade de Paraisópolis que acreditaram e acreditam no programa Basquete Cidadão.

Alvaro Cotta é diretor de marketing da Liga Nacional de Basquete (LNB) e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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