Branding: Modo de usar

Assim como o masculino, o handebol feminino francês foi campeão olímpico em Tóquio 2020 - Getty Images

“A história se escreve juntos”.

A tagline da Federação Francesa de Handebol está por toda parte de sua magnífica sede e centro de treinamento, encravada em uma cidadezinha a leste de Paris. A Maison du Handball (Casa do Handebol, em português) faz lembrar a cada segundo a imponência da história das seleções masculina (tricampeã olímpica, hexacampeã mundial) e feminina (campeã olímpica, bicampeã mundial) de um dos esportes mais populares e vitoriosos do país-sede dos próximos Jogos Olímpicos em 2024.

Tudo comunica na Maison du Handball, em uma aula viva e fascinante de branding.

Desde as esculturas na porta de entrada, passando pelo mapa da França encravado de pontinhos vermelhos (os clubes que fazem o handebol francês existir), as camisas penduradas no teto e o início de uma rica exposição interativa que percorre toda a história do esporte no país, destacando personagens e as 31 conquistas internacionais desde os anos 1990. Em poucos minutos ali dentro, o visitante já tem a dimensão do significado do handebol francês.

“Somos a federação esportiva mais vitoriosa do mundo em todos os esportes. Ninguém tem tantos títulos mundiais e olímpicos como nós”, afirmou, sem desnecessária modéstia, o anfitrião que me recebeu há algumas semanas em uma visita ao local.

Um espaço que serve, obviamente, ao treinamento das poderosas equipes masculina e feminina adulta, que ocupam o local por meras uma ou duas semanas por ano, mas sobretudo visa a gerar novas receitas do mundo corporativo, utilizando o esporte como fonte de inspiração e metáforas, mas também divulgando mensagens e valores da marca do handebol francês.

Sem sutileza nenhuma.

Branding na veia.

Já foram mais de mil eventos realizados na Maison du Handball, ajudando a pagar pelo menos minimamente a conta dos € 43 milhões investidos na obra, 60% desse montante vindo de recursos públicos. Estamos falando de um ambiente com auditório ultraequipado com telões gigantes de led e capacidade para 300 pessoas, além de 10 salas de reunião e uma sala de conselho. Estamos falando também de uma hotelaria com 72 quartos quatro estrelas, sendo cada um deles decorado do carpete às paredes, das mesinhas à cabeceira das camas, em referência a um evento importante na história de conquista dos donos da casa (olha o branding aí de novo).

Dois ginásios (um deles no melhor estilo Big Brother Brasil, ostentando 21 câmeras para análises técnicas e táticas em tempo real, graças a imagens exibidas em uma tela de 3m x 5m), sala de musculação de 400 metros quadrados e restaurantes de alta cozinha. A cada metro, uma referência à “história que se escreve juntos”, aos atletas que rechearam de louros a trajetória da modalidade e aos patrocinadores que injetam recursos para fazer do sonho e do planejamento uma dourada realidade, como a dobradinha olímpica em Tóquio 2020.

É possível alugar o espaço para treinar? Claro que sim. Mas, sobretudo, busca-se inovar na utilização do equipamento, trazendo marcas para treinamentos corporativos, reuniões e ativações. Eles oferecem, inclusive, um “team building” sob medida desenvolvido pela Federação Francesa de Handebol com participação de ex-atletas de sucesso na modalidade.

Em um lugar em que até a cozinha é decorada com pôsteres das seleções francesas masculina e feminina, fica claro que os donos da casa conhecem bem a força e o poder da comunicação. Do branding.

“A casa onde se escreve a lenda”, sentencia a brochura comercial da Maison du Handball.

É isso e muito mais.

Manoela Penna é consultora de comunicação e marketing, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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