Centralizar ou permanecer descentralizado? Eis a questão!

Torneios como LaLiga e Premier League vendem seus direitos de forma centralizada há algum tempo, e os resultados são claros - Reprodução

Desde o ano passado, o mercado esportivo brasileiro vem vivendo uma grande tensão no que deveria ser um movimento fácil e tranquilo que é a formação e estruturação da liga do futebol brasileiro. Mas, se deveria ser um processo assim, por que, então, estamos nessa discussão há tanto tempo?

Não é de hoje que todos sabemos que ainda não é possível dizer que há uma união entre os clubes para o bem comum de todos. Os clubes menores acusam os maiores de que eles pensam apenas neles e não fazem questão de pensar no desenvolvimento da competição. Na outra via, os clubes maiores dizem que, sem eles, não existe interesse pelo campeonato, portanto precisam ser remunerados por isso. Se focarmos apenas nessa discussão, não chegaremos a lugar nenhum e a liga não vai sair. O foco tem que ser em aumentar o bolo para que a fatia de todos seja maior, mas sempre buscando uma divisão mais igualitária que ajude a aumentar ainda mais a competitividade e a imprevisibilidade da competição.

Nesta semana, foi realizada na Arena Pacaembu a primeira edição do Sports Summit, evento em que pudemos acompanhar alguns exemplos bem-sucedidos da formação ou estruturação de ligas.

O diretor internacional da LaLiga, por exemplo, apresentou o case da segunda maior liga do mundo, em que confirmou que entende que Real Madrid e Barcelona são importantes, mas que há outros 40 clubes que fazem parte da liga e que precisam crescer e se desenvolver também. Além disso, revelou que a venda centralizada dos direitos na Espanha só ocorreu por conta de um mandato do governo que obrigou que a venda fosse feita dessa forma.

Já Pedro Proença, presidente da Liga Portuguesa, afirmou que a venda descentralizada dos direitos acabou atrasando o desenvolvimento do torneio em seu país, o que prejudicou a expansão internacional e os negócios que pudessem auxiliar no crescimento e desenvolvimento do futebol português.

Nesta quinta-feira (27), último dia do Summit, tivemos a oportunidade de ouvir um painel com integrantes da Libra e outro com integrantes da Liga Forte Futebol (LFF). Os dois grupos estão separados por alguns pontos que ainda são divergentes, mas ambos deixaram claro que há interesse na convergência e, além disso, que há uma crença geral de que apenas a união de todos é que fará esse negócio avançar. Considero isso um ponto extremamente positivo, pois o cenário parecia mais distante.

Sempre fui um defensor da gestão centralizada de direitos, pois acredito que só assim é que se pode desenvolver todo o potencial comercial de uma competição. LaLiga e Premier League vendem seus direitos de forma centralizada há algum tempo, e os resultados são claros. Hoje, a Premier League já conta com uma receita por direitos de transmissão vinda do mercado internacional que é maior do que a do mercado doméstico. A LaLiga segue o mesmo caminho de crescimento, mas ainda com as receitas domésticas sendo maiores do que as internacionais.

Por aqui, a gestão centralizada de competições como Paulistão, Copa do Brasil e principalmente as competições de clubes da Conmebol (Libertadores e Sul-Americana) deixa claro o potencial de crescimento de receita, caso o Brasileirão seja tratado dessa mesma forma. Imagino um aumento de receita superior a 40% já em um primeiro ciclo de trabalho, desde que tudo seja feito com organização, transparência e possibilidades para as mais diversas plataformas.

Outra via com potencial enorme de crescimento é justamente a expansão internacional, já que, atualmente, a receita que vem de fora do Brasil representa menos de 1% do valor que o Campeonato Brasileiro arrecada em território nacional.

Está claro para todos que a união e a centralização dos direitos comerciais da liga brasileira de futebol é o caminho correto. Como disse André Sica, um dos palestrantes desta quinta-feira (27), não é SE a liga sair, mas QUANDO sair, porque ela tem que se tornar uma realidade e isso precisa acontecer o mais rápido possível.

Então, mãos à obra. E vamos fazer com que isso aconteça para o bem do futebol brasileiro.

Evandro Figueira é vice-presidente da IMG Media no Brasil e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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