Uma ida ao Museu da Fifa (Fifa Museum) é uma bela massagem no ego dos brasileiros. A convite de um amigo, fui conhecer o espaço que fica em Zurique, na Suíça, e conta (e expõe) em três andares, com enorme riqueza de detalhes, a história do futebol. Dá para dizer que ali há tudo sobre futebol masculino, futebol feminino, futebol de areia, futsal, Copas do Mundo, Mundiais de Clubes, competições continentais e até e-Sports em um amplo espaço com videogames. Só faltou mesmo o futebol de botão.
Na entrada, logo atrás de mim, um grupo de brasileiros abusava da ironia para comentar a visita no espaço que “devia muito ao futebol brasileiro”. No subsolo, onde ficam os armários para guardar mochilas, casacos, etc, a primeira surpresa: as cabines foram batizadas com os grandes nomes do futebol. Sócrates, Garrincha, Ronaldo, Zico, Zagallo, Marta, Ronaldinho, Jairzinho, Pelé. Isso fora Beckenbauer, Eusébio, Cruyff, Maradona, Bobby Charlton, Cristiano Ronaldo, Beckham, Messi.
Entre as seções e corredores, há curiosidades, interação e muitos itens de memorabília. No primeiro andar, belos quadros de todos os estádios das finais de Copa do Mundo, uma caprichada linha do tempo da modalidade (da grama, da quadra, da areia), camisas dos 211 países filiados à Fifa, além de um gigantesco telão passando imagens do “futebol raiz”, jogado em praias e pela várzea mundo afora.
Descendo um andar, na Galeria da Copa do Mundo (World Cup Gallery), está o melhor do museu. Espaços dedicados às Copas do Mundo, camisas, bolas, uma farta coleção de itens históricos que fazem a gente viajar no tempo lembrando dos Mundiais, dos bons momentos verde-amarelos, como os cinco títulos, e de outros não tão bons assim, como em 1950 (no Maracanazzo, contra o Uruguai), em 1998 (França) e, no meu caso, as poucas lembranças da tristeza em casa na infância com a eliminação em 1982.
E aqui vale um registro porque eu não conhecia a história. Na vitrine de 1938, uma embalagem do chocolate Diamante Negro chamou minha atenção. Parecia óbvia a associação, mas não imaginava que a história seria verdadeira. Com o sucesso de Leônidas da Silva na época, a Lacta realmente prestou uma homenagem ao craque, rebatizando sua barra tradicional de chocolate ao leite com o seu apelido. E, desde então, cada barra teria uma parte da venda destinada a Leônidas. Ou seja: royalties por uso da imagem. Leônidas sempre foi considerado um atleta além do seu tempo e, na época, fez campanhas e emprestou sua imagem a diversos produtos.
Ali há também uma enorme maquete do Maracanã, estádio que abrigou as finais de 1950 e 2014, mascotes, painéis, fotos, exposição de todas as taças de competições da Fifa e até um cinema, que alterna exibições de vídeos documentários da história das Copas do Mundo (masculina e feminina). Absolutamente sensacional.
“Não tem o gol do Bebeto na Holanda, nem o do Jairzinho dando balãozinho no goleiro, nem do Ronaldinho na Inglaterra. Quem que selecionou isso aí?”, alguém soltou no meio do grupo de brasileiros, arrancando risadas. Aquilo era mais do que uma visita guiada, era uma visita “narrada”. “Sai que é tuuuuuuuua, Taffarel!”, entoou o grupo quando Roberto Baggio apareceu na telona, preparando-se para a fatídica cobrança da Azzurra na decisão de 1994, nos Estados Unidos. Mais um pouco e era capaz de ter até uma “ola” no cinema.
De elevador, chega-se ao último andar, onde há uma área de interação para que crianças e craques frustrados mostrem suas habilidades com a bola nos pés, incluindo um pinball gigante. O troféu de Melhor do Mundo (Fifa The Best) também está ali, além de áreas dedicadas à memória de alguns dos principais nomes, sendo, claro, Pelé o maior deles. Há chuteiras, camisas, fotos, suvenires, um pouco de tudo, o que faz com que ele esteja por todos os lados no museu.
“Cadê a estátua do ômi? Museu do futebol sem estátua do Pelé, não é museu do futebol”, resmungaram. Essa até o funcionário do museu, entendendo a reclamação, balançou a cabeça concordando. Detalhe: o funcionário era argentino. E foi só ele se revelar para começarem as provocações bem-humoradas do penta, da “Mano de Dios”, de Maradona e Pelé. Até a vitória do Fluminense sobre o Boca Juniors na final da última edição da Libertadores foi lembrada.
A visita acaba em uma loja oficial onde estão à venda, além de suvenires, livros, revistas, bolas e camisetas (o que qualquer lojinha tem), itens autografados como camisas e fotos de astros do futebol mundial. Ao lado, na lanchonete, um enorme adesivo do Rei decorava a janela. “Olha aí. Tá faltando a estátua”. E ainda faltava mais coisa, pelo visto. “Faltou o botequim também, pô! Futebol tem que ter mesa de bar. Precisamos dar um tapa nesse museu!”, devolveu outro dos “pachecos”.
Tirando a brincadeira, saí bem impressionado do Museu da Fifa pelo capricho, por tudo que apresenta em exposição. Quase uma hora e meia de uma visita que passou muito rápido. E se fosse para achar um “defeito”, além de concordar que deveria ter uma estátua de Pelé, senti falta de vídeos de depoimentos, materiais que a Fifa já produziu e poderiam ser exibidos ao lado de espaços dedicados às lendas do futebol.
Para quem é fã de futebol, ou até mesmo para quem não é, é um museu que vale a visita. É um lugar de onde saímos com orgulho de ser brasileiro.
Samy Vaisman é jornalista, sócio-diretor da MPC Rio Comunicação (@mpcriocom), cofundador da Memorabília do Esporte (@memorabiliadoesporte) e escreve mensalmente na Máquina do Esporte