Editorial: O descaso com a marca do futebol sul-americano

Confusão nas arquibancadas do Maracanã ocorreu no momento em que os hinos nacionais foram tocados - Reprodução / TV Globo

O futebol sul-americano protagonizou, nesta terça-feira (21), mais um episódio triste, com as cenas lamentáveis protagonizadas antes de Brasil x Argentina no Maracanã. Briga entre torcedores, cadeiras sendo arremessadas contra policiais e atletas argentinos correndo desesperados para ver como estavam seus familiares mostram que ainda vivemos perto do caos que transformou o futebol europeu na década de 1980.

O descaso com a marca do futebol sul-americano é sintomático. Temos a melhor seleção do mundo na atualidade (a Argentina), a mais vitoriosa da história (o Brasil), mas seguimos com o futebol administrado grotescamente.

Hoje, discutimos na mídia, nas redes sociais e nas padarias a pífia sexta posição do time brasileiro na tabela de classificação das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026. Mas muito mais prejudicial para o negócio do futebol é o nosso despreparo para lidar com grandes eventos (e olha que evoluímos muito com Copa do Mundo e Jogos Olímpicos por aqui).

Na madrugada desta quarta-feira (22), a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) divulgou um comunicado oficial sobre os incidentes ocorridos. Na nota, afirmou que “é importante esclarecer que a organização e planejamento da partida foi realizada [sic] de forma cuidadosa e estratégica pela CBF, em conjunto e em constante diálogo com todos os órgãos públicos competentes, especialmente a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro”.

Segundo a entidade, “os planos de ação e segurança foram aprovados sem qualquer ressalva ou recomendação pelas autoridades de segurança pública presentes (Polícia Militar RJ, SEPOL, Ministério Público, Juizado do Torcedor, Guarda Municipal, CET-RIO, Subprefeitura, Concessionária Maracanã, SEOP, etc.), dentre as quais a Polícia Militar do RJ, na primeira reunião realizada na sede da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ), no dia 16 de novembro de 2023, às 11:00h”.

Depois, ainda de acordo com a CBF, “na segunda (20), o plano operacional para o jogo foi igualmente aprovado sem qualquer ressalva ou recomendação na reunião realizada no Estádio Maracanã, com a presença da CBF, representantes da CONMEBOL, da Polícia Militar RJ, das empresas responsáveis pela operação do Maracanã, e que operam mais de 70 jogos no estádio por ano, e outras autoridades públicas”.

Por fim, ainda enfatizou que “a única recomendação recebida pela CBF de qualquer autoridade pública ao longo de todo o período que antecedeu a partida entre Brasil e Argentina, foi uma recomendação do Ministério Público, da 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa da Ordem Urbanística da Capital, para que ‘NÃO realizem partidas de futebol no ano de 2023 com o formato de disponibilização da carga total de ingressos através de um tíquete eletrônico apresentado mediante exibição do aparelho de telefonia celular, tal como ocorrido na partida da final da Copa Libertadores no dia 04 de novembro de 2023’ e que ‘Exijam no ano de 2023 dos torcedores que se aproximem das catracas a exibição de evidência física (tíquete de papel e/ou cartão de sócio torcedores) de que o torcedor possui um tíquete de ingresso para se aproximar das catracas do Estádio Mário Filho – Maracanã, de modo a evitar a invasão de torcedores que não possuam ingressos para assistir à partida'”.

O comunicado na íntegra pode ser lido neste link.

É o típico texto de quem tenta, a todo momento, se eximir da culpa, mas não aponta soluções para os problemas.

Enquanto isso, a principal estrela da partida, o argentino Lionel Messi, usou o Instagram para ser curto e grosso.

“Esta equipe continua a fazer história. Grande vitória no Maracanã, embora seja marcada pela repressão aos argentinos mais uma vez no Brasil. Isso não pode ser tolerado, é uma loucura e tem que acabar agora”, resumiu o camisa 10 da Argentina.

Dentro de campo, os argentinos bateram a seleção brasileira por 1 a 0, gol do zagueiro Nicolás Otamendi, naquela que entrou para a história como a primeira derrota do Brasil em casa nas Eliminatórias Sul-Americanas.

Perder para a Argentina, atual campeã do mundo, que só foi derrotada seis vezes em 67 jogos sob o comando de Lionel Scaloni desde setembro de 2018, e ainda com Lionel Messi em campo, não pode ser considerado um resultado inadmissível.

O que foi visto antes da bola rolar no Maracanã é que realmente não se pode admitir de jeito nenhum.

Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo

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