Em Paris 2024, abraçamos mais os nossos atletas

Rebeca Andrade conquistou quatro medalhas em Paris 2024 e se tornou a maior medalhista da história do país em Olimpíadas - Reprodução / COB

Não sei você, mas eu fiquei com uma sensação diferente depois dos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Uma sensação leve e boa de que, depois de muito tempo, conseguimos, como povo, como fãs, entender, respeitar e valorizar o esforço dos atletas brasileiros.

Ainda que a expectativa criada seja sempre de muitas medalhas (principalmente de ouro), uma medalha olímpica tem um valor que vai além de sua cor. Ela representa uma vida (uma vida em um dia, como disse Bia Souza, do judô, em referência ao fato da modalidade ter todas as lutas da categoria no mesmo dia), uma jornada longa, que nem sempre é recompensada por um pódio, e que, independentemente do resultado, é digna de aplausos e respeito.

Bia Souza foi ouro no judô em Paris 2024 – Reprodução / COB

Pela primeira vez em muitas Olimpíadas, não lembro de ter ouvido ou lido palavras como fracasso, decepção, pipoqueiro ou “amarelada” no dia a dia das competições. OK, houve citações, ainda que raras, no “tribunal digital”, mas nem vale perder tempo com isso. Em outras épocas, víamos atletas sendo crucificados e condenados por não “honrarem” o que esperávamos deles. Como se alguém tivesse esse direito.

Pela primeira vez, vi, em senso comum, um quarto lugar, antes ridicularizado, ser valorizado. Vi a chegada a uma final, antes talvez massacrada, ser exaltada. Derrotas que, apesar do revés, foram respeitadas dentro dos contextos. Derrotas que, ainda que duras ou inesperadas, foram tratadas com compaixão.

Vôlei feminino do Brasil conquistou a medalha de bronze em Paris 2024 – Reprodução / COB

Uma mistura de entendimento sobre limites e esforços, de mais carinho nas cobranças, afinal, ninguém mais do que o próprio atleta, que é quem sente na pele a dor do treino diário e das dificuldades de um ciclo, sabe o que é não alcançar seus objetivos. O atleta é o único que convive com as dores de um ciclo olímpico.

Não sei se é uma percepção de muitos. Mas fiquei com essa impressão de que “abraçamos mais os nossos atletas”, de que reconhecemos o esforço e os méritos. Acho até que nos levamos mais pela emoção nesses Jogos (com um pouco de alívio depois de Tóquio em meio à pandemia) do que seria o normal. E os abraços que o amigo Marcelo Courrege recebeu em Paris mostram que a relação foi diferente.

Augusto Akio conquistou a medalha de bronze no skate park em Paris 2024 – Reprodução / COB

Acredito que a maneira mais leve e mais humana da abordagem da mídia, da cobertura, do olhar e do tom das coberturas em si das emissoras de TV, plataformas de streaming, conteúdos de digital, tenha influenciado bastante nessa minha percepção. Do outro lado, vimos discursos dos atletas recheados de patriotismo, de gratidão e emoção, mensagens que foram recebidas como deveriam ser. Atleta não quer que ninguém sinta pena dele. Atleta quer apoio, carinho e torcida. E isso eles e elas tiveram.

Em Paris 2024, vimos ídolos se despedindo, vimos novos heróis surgindo, vimos Olimpíadas que fortaleceram a conexão entre público/fãs e atletas. Vimos ciclos se encerrando e novas histórias sendo escritas. Vimos muita coisa que não vai sair da memória tão cedo.

Au revoir, Paris! E agora viramos a chave! Que venha Los Angeles 2028!

Momentos marcantes

Alguns momentos marcaram essa edição dos Jogos. Momentos emblemáticos e eternos. E elegi cinco que, para mim, foram os mais incríveis da delegação brasileira (fora de qualquer ordem): Gabriel Medina voando ao lado de sua prancha; o choro de desabafo e alívio de Rafaela Silva após a vitória que garantiu o bronze no judô por equipes; a entrevista de Caio Bonfim após a prata na marcha atlética; a arrancada absurda (ah, se a prova tivesse mais uns 30m) de Isaquias Queiroz; e, claro, a imagem mais forte dos Jogos, com Rebeca Andrade sendo reverenciada por Simone Biles e Jordan Chiles no pódio após o ouro no solo.

Foto histórica de Gabriel Medina após passar pelas oitavas de final do surfe masculino em Paris 2024 – Jerome Brouillet / AFP

Teve também a australiana Rachel Gunn viralizando no break dance, o voluntário da sunga colorida da natação, o alegre (muito, muito, mas muito alegre) Nikola Jokic no pódio do basquete com o bronze da Sérvia e os rolês aleatórios de Snoop Dogg. Enfim, momentos divertidos de Paris.

Paralimpíadas e COB Expo

Na próxima quarta-feira (28), começam os Jogos Paralímpicos. Não custa nada lembrar. E setembro segue ainda respirando Olimpíadas. A COB Expo 2024 reunirá entidades, atletas e marcas no evento, que acontecerá pela segunda vez no Espaço Pró-Magno, em São Paulo (SP). Uma ótima oportunidade para celebrar, encontrar muita gente legal e se divertir.

Samy Vaisman é jornalista, sócio-diretor da MPC Rio Comunicação (@mpcriocom), cofundador da Memorabília do Esporte (@memorabiliadoesporte) e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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