Esporte e música jogam no mesmo time?

O Super Bowl, um dos maiores eventos esportivos do mundo, mais uma vez foi um sucesso de audiência no mês passado. Entretanto, o assunto de maior engajamento nas redes sociais não foi o jogo em si, e sim a apresentação da cantora Rihanna no Apple Music Half Time Show.

Em 2022, o Spotify e o Barcelona, duas das marcas mais valiosas da indústria do esporte e entretenimento, se uniram para uma parceria de longo prazo que surpreendeu a todos.

Um olhar mais atento é capaz de verificar que música e esporte têm uma combinação natural, desde os shows do intervalo ou cerimônias de abertura, a música de concentração antes de competir que atletas escutam em seus fones, as músicas para animar a torcida durante o jogo, as playlists dos eventos disponíveis nos players digitais e até aquela tradição de pedir sua moda preferida no Fantástico quando faz três gols.

A verdade é que os pontos em comum também se estendem para o ambiente de negócios. Tanto a indústria da música quanto a do esporte são responsáveis por receitas gigantes com negócios apoiados na criação, distribuição e monetização de conteúdo, propriedade intelectual e eventos a partir de talentos.

Em uma comparação mais direta, podemos dizer que atletas estão para o esporte assim como os artistas para a música. Da mesma forma, os times, ligas e agentes são os labels, publishers e agentes. Em termos de transmissão, o esporte se dá pela TV, streaming, vídeo, rádio e eventos ao vivo, enquanto, na música, temos streaming de áudio, rádio e eventos ao vivo.

Conteúdo, eventos ao vivo, patrocínio, merchandising… o que mais você consegue pensar que são desafios coincidentes? Curiosamente, minha jornada profissional no mundo dos patrocínios começou na música, mais especificamente no mundo dos grandes shows ao vivo. Naquela época, a indústria das redes sociais ainda engatinhava, a maioria das pessoas assistia ao show sem celular na mão filmando e o negócio era muito mais focado na experiência do fã que estava no espetáculo propriamente dito, e não nas conversas nas redes sociais que seriam geradas a partir dali. Quer comprovar o que estou falando? Busque aí as #hashtags do Coldplay e do Lollapalooza para você ver a avalanche de posts que invadiu as redes sociais nos últimos dias relacionados aos shows.

Lembro-me da turnê “Viva la Vida”, do Coldplay, com o Morumbi lotado em 2009, e a sensação que tive é que havia uma maior predominância de olhos, e não de lentes, mirando o palco o tempo todo. Será que as memórias de verdade estão na cabeça, no coração ou no rolo da câmera?

As transformações nos hábitos das novas gerações trazem desafios semelhantes para as duas indústrias. A distribuição de conteúdo, seja esportivo, seja musical, avança para modelos digitais, streaming e direct-to-consumer, mas, ainda assim, modelos tradicionais de transmissão, TV por assinatura e rádio seguem relevantes para falar com grandes públicos.

À medida que os fãs passam a seguir seus atletas e artistas preferidos pelas mídias sociais, podcasts e outros canais diretos, observamos uma mudança de formatos longos, como jogos ou álbuns, para highlights (melhores momentos) e músicas avulsas. Esse movimento de consumo direto traz mais poder ao talento que faz com que as negociações de cachês aumentem consideravelmente para aqueles que experimentam o sucesso com uma base própria de fãs.

No meio de tudo isso, está a Web 3.0 e todas as mudanças que ela promete promover, trazendo ainda mais possibilidades para atletas e artistas criarem novos pontos de contato com suas audiências.

Tudo que vale para as duas indústrias pode ser resumido em monetizar, engajar e seguir à frente da concorrência: rentabilizar os ativos existentes, criar novas formas de receita, lançar mais produtos e conteúdos, arriscar novos modelos de negócio e pensar em parcerias criativas como forma de posicionamento e atalho para o crescimento.

Ah, sim. Esporte e música disputam o mesmo orçamento de marketing das marcas patrocinadoras, assim como também a atenção dos fãs. Afinal, mesmo os maiores bolsos têm limite, e nosso dia só tem 24h.

Como diria Mark Spitz, tanto no esporte quanto na música, “se você falhar na preparação, você está preparado para falhar”.

Ivan Martinho é CEO da World Surf League (WSL) na América Latina e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

Sair da versão mobile