Esporte permanece à margem do público final

O modo de consumo de mídia do esporte está paralisado no tempo, distante do consumidor final. Ligas, marcas e imprensa permanecem em uma zona de conforto, próxima da credibilidade dos grandes veículos e dos formadores de opinião, mas não necessariamente de quem precisa ser alcançado na ponta final. O mercado esportivo precisa ser mais lúcido sobre como o brasileiro consome informação.

Quem lançou uma luz sobre o tema nesta semana foi um levantamento global da Reuters. O Digital News Report 2022 do Reuters Institute divulgou uma série de dados sobre diversos mercados, inclusive o Brasil. E o que o relatório aponta é a comprovação de que as mídias tradicionais vêm perdendo fôlego diante das redes sociais.

Em resumo, 75% dos brasileiros usavam a televisão para se informar em 2013. Em 2022, esse número caiu para 55%. Nas redes sociais, o processo foi o inverso. Em dez anos, a nova mídia passou a ser usada como fonte de notícia de 47% para os atuais 64%.

Ou seja, atualmente, as redes sociais são mais relevantes do que a televisão para se obter notícia. Curiosamente, entre as redes, a mais popular para essa função é aquela que usa recursos audiovisuais, como a velha TV: o YouTube é o preferido para 43%, seguido de perto pelo WhatsApp e pelo Facebook, que ainda sobrevive no cotidiano nacional.

E onde está o esporte dentro desse cenário? A considerar a maior marca do esporte brasileiro, o Brasileirão, o bonde está atrasado. A liga de futebol chegou ao Instagram apenas em 2019, ignorando todo o processo de crescimento da rede social.

Ao se levar em conta apenas o YouTube, os melhores momentos do torneio vieram para a plataforma, de modo legal, apenas no fim de 2020, quando a Globo anunciou que colocaria vídeos de três minutos na rede. Foi apenas com a iniciativa da emissora, que inseriu vídeos em uma plataforma concorrente, que os lances do principal torneio chegaram ao principal canal de informação do brasileiro.

Um caso emblemático do quanto o timing do mercado esportivo foi ruim está no site “Meu Timão”. O portal com notícias sobre o Corinthians surgiu em 2010 e atualmente conta com 6 milhões de usuários por mês, número que coloca a página muito à frente de qualquer outro canal oficial. As iniciativas do tipo ficaram muito para trás. Não por acaso, o time paulista teve que correr recentemente para fazer um acordo de licenciamento com a plataforma.

De maneira geral, o mercado esportivo se mantém distanciado das novas mídias, mesmo que alguns clubes consigam somar milhões de seguidores. Hoje, o Flamengo tem mais seguidores e engajamento que algumas das principais marcas esportivas do mundo, mesmo com a influência limitada ao público brasileiro.

Um bom exemplo do engasgo da comunicação está na presença constante de marcas que apostam em uma página própria para ativar patrocínios, algo invariavelmente de curto prazo e que dificilmente consegue angariar público e empolgação dos torcedores. É um claro mau entendimento de como falar nas redes.

Como a Reuters mostra, os meios de informação mudaram profundamente em dez anos. E o esporte precisa estar inserido nesse contexto para ser sustentável nos próximos anos, seja com canais próprios ou com uma revisão daquilo que passou a ser primordial nas relações públicas. 

Duda Lopes é CEO da Pivô Comunicação e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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