Desde criança, vendo os filmes de Rocky Balboa, eu ficava encucado com as apresentações dos lutadores quando um dos combatentes, geralmente o campeão, era apresentado como “undisputed”.
É um daqueles termos de difícil tradução literal. Ok: incontestável ou indiscutível funcionam em português. Mas aquele “undisputed”, praticamente aos berros dentro do ringue, confere ao lutador uma singular aura de invencibilidade.
É justamente isso que Lewis Hamilton persegue ao trocar a Mercedes pela Ferrari a partir de 2025.
Por seu papel dentro e fora das pistas, os sete campeonatos mundiais conquistados, o recorde absoluto de vitórias na Fórmula 1 e tudo o que representa para o esporte atualmente, “sir” Lewis Hamilton já é apontado por muitos como “O” maior de todos os tempos no esporte a motor.
Mas não é – ainda – uma unanimidade.
Há quem invoque os riscos da pré-História das corridas para colocar o argentino Juan Manuel Fangio no topo do Olimpo dos motores. Há o componente patriótico (para os brasileiros) entre os defensores de Ayrton Senna. E, especialmente, há a incômoda matemática lembrando que o alemão Michael Schumacher possui os mesmos sete campeonatos mundiais que Hamilton.
Este colunista, por exemplo, considera, ainda hoje, Schumacher o maior de todos os tempos. Não apenas pelos sete campeonatos, mas por tê-los vencidos com equipes e motores diferentes, e especialmente pela reformulação que proporcionou na Ferrari, tirando a equipe de um incômodo jejum de décadas.
A Scuderia Ferrari é maior que a F1, e Hamilton sabe muito bem disso.
Para replicar nas pistas no século XXI o mesmo que Muhammad Ali fez nos ringues no século XX e transcender definitivamente as fronteiras esportivas para ser um ícone social, o britânico, que até hoje só acelerou carros com motores feitos pela Mercedes em sua trajetória na F1, sairá da zona de conforto no fim dessa temporada.
A casa de Maranello amarga seguidas temporadas de brilhareco e não vence um campeonato desde 2007.
Se conseguir levar mais um troféu de campeão, seu oitavo, pela tradicionalíssima equipe italiana, Hamilton terá superado Fangio, seu ídolo Senna e Schumacher. Será incontestável, imbatível.
Undisputed!
Luis Ferrari é CEO da Ferrari Promo e escreve mensalmente na Máquina do Esporte sobre esporte a motor