Los Angeles 2028 já começou

Judoca Bia Souza conquistou o primeiro ouro do Time Brasil em Paris 2024 - Alexandre Loureiro / COB

Nas últimas semanas, a Máquina do Esporte publicou matérias com o balanço específico das mais variadas confederações brasileiras que tiveram atletas participando dos Jogos Olímpicos de Paris 2024. Passamos por vela, ginástica, vôlei, judô e esgrima, entre tantas outras, e a sensação de todos é de minimamente dever cumprido. Dever cumprido pois as verbas são limitadas. Todas as confederações recebem anualmente parte dos quase R$ 600 milhões que o Comitê Olímpico do Brasil (COB) distribui em cima de critérios técnicos transparentes, democráticos e meritocráticos, como a relevância do esporte, o desempenho e o custo das competições.

Além da verba das Loterias que vem da Lei Agnelo Piva, o Governo Federal ainda paga o Bolsa Atleta aos atletas de alto rendimento. Apesar de pequena, esta verba é fundamental para que os atletas possam se dedicar ao esporte de maneira integral e, assim, atingir os resultados esperados nas mais variadas competições que os levam aos Jogos Olímpicos.

A meu ver, sem qualquer partidarismo ou viés político, o Governo Federal faz a sua parte. Sim, é pouco, poderia fazer muito mais, mas esta mesma lógica se aplica a questões na educação, na saúde, na segurança pública e por aí vai. O cobertor é curto, e o governo, sozinho, não dá conta de fazer todo o investimento necessário para que o Brasil se torne uma potência olímpica, como todos gostaríamos.

Então, o que falta para que o desempenho brasileiro possa ser ainda melhor em Los Angeles 2028 do que foi em Tóquio 2020 (2021), nossa melhor participação em Jogos Olímpicos? No Japão, foram 21 medalhas, sendo 7 de ouro, 6 de prata e 8 de bronze, terminando na 12ª posição no quadro geral de medalhas.

Ao longo dos últimos meses, fomos bombardeados por conteúdo olímpico vindo de todos os lados. Plataformas de mídia, detentoras de direitos ou não, marcas, perfis de influenciadores, todos, de alguma forma, tentando tirar uma casquinha das duas únicas semanas a cada quatro anos que o esporte olímpico tem mais destaque do que o futebol neste país.

Existe uma comoção geral, as emissoras passam a dar mais espaço ao atleta olímpico, plataformas de mídia se interessam por competições que classificam estes atletas para os Jogos Olímpicos, nos tornamos grandes experts e comentaristas críticos ao desempenho de brasileiros em modalidades que até pouco tempo atrás nem sabíamos que existiam.

As marcas, por sua vez, querem se associar a atletas, aproveitar a onda positiva e, desta forma, mostrar que apoiam o esporte olímpico, o que nem sempre é verdadeiro. Uma coisa é a XP, por exemplo, que é parceira do COB durante todo um ciclo olímpico, e outra coisa é uma marca que se associa a um atleta ou uma confederação dois meses antes dos Jogos, apenas para explorar e se beneficiar do momento. Durante uma entrevista ao podcast Maquinistas, Tatiana Braga, que gerencia a carreira da skatista Rayssa Leal, afirmou que uma marca não quis patrocinar a atleta antes dos Jogos de Tóquio. Queria esperar os resultados para depois decidir apoiar, e acabou tendo que pagar muito mais caro. Afinal, esta marca queria apoiar a Rayssa ou “se aproveitar” dela?

O Brasil tem tudo para crescer e estar sempre na disputa por medalhas em todas as modalidades olímpicas. Caio Bonfim, Bia Souza e Larissa Pimenta são exemplos de nomes que se tornaram mais conhecidos só depois de suas conquistas. Ana Sátila e Dora Varella, que bateram na trave na conquista por medalhas, também ficaram conhecidas apenas durante a disputa dos Jogos em Paris. Mas nenhum destes atletas simplesmente pegou sua mala e foi para a capital francesa tentar a sorte. Todos eles, sem exceção, ao longo dos últimos anos, treinaram, participaram de eventos no Brasil e no exterior, tudo isso como parte do trabalho para primeiro garantir vaga em Paris, para depois buscar o seu melhor desempenho durante os Jogos.

E é justamente aí que eu gostaria de lançar a minha provocação para encerrar esta coluna. O COB terminou este ciclo olímpico com 21 marcas patrocinadoras (sem contar com mais algumas que fecharam com o Parque Time Brasil, em São Paulo (SP), e outras com a Casa Brasil, em Paris), Rayssa Leal tem 14 patrocinadores, Rebeca Andrade tem 13 marcas apoiadoras. Quantas destas marcas permanecerão apoiando ao longo de todo o próximo ciclo? Com a quantidade de “janelas” hoje disponíveis com TVs abertas, mais de 10 canais esportivos na TV por assinatura, além de infinitas telas dentro das plataformas de streaming, não existem mais limitações para que não possamos ver e acompanhar todos os atletas brasileiros ao longo de todo o ciclo, seja em competições classificatórias aqui no Brasil ou em grandes competições internacionais.

Se o apoio das marcas e das plataformas de mídia for mais constante, não tenho dúvida de que Los Angeles 2028 representará a melhor campanha do Brasil em Jogos Olímpicos. E aí o círculo virtuoso só melhora para Brisbane 2032 e assim por diante.

Que tal começar dando mais visibilidade e apoiando ao longo de todo o ciclo?

Evandro Figueira é vice-presidente da IMG Media no Brasil e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

Sair da versão mobile