Não basta ter Messi

Torcedores do Inter Miami durante partida da equipe. Reprodução / Twitter Inter Miami

Esses dias eu encontrei alguns amigos para jantar aqui em Miami. Escolhemos um mexicano que tem uns tacos muito bons em Coral Gables. Menos de cinco minutos depois de sentarmos, antes mesmo de a comida chegar, começamos a falar de Messi. Meus amigos me contaram que tinham tentado comprar ingressos para o restante da temporada 2023 do Inter Miami, mas tiveram que colocar os nomes numa lista de espera.

Miami tem times na NFL (Dolphins), na NBA (Heat), na MLB (Marlins) e na NHL (Panthers). Dois deles, o Heat e o Panthers, foram para as finais das suas ligas este ano. No basquete universitário masculino, o Hurricanes esteve no Final Four este ano. A cidade ainda tem corrida de Fórmula 1 e um dos principais torneios de tênis do mundo, o Miami Open. Mas hoje só se fala da chegada de Messi.

Nos últimos dois anos, o Inter Miami só tinha sido assunto local quando o Conselho da Cidade aprovou o projeto do novo estádio para 25 mil pessoas, que vai ocupar a área onde hoje está um campo de golfe público ao lado do aeroporto. Mas ele não vai ficar pronto até 2025. Aliás, as obras ainda nem começaram. A verdade é que desde que começou a jogar na MLS, em 2020, o clube não conseguiu bons resultados. E o campo atual fica longe do centro.

É difícil saber quanto tempo vai durar a aventura americana de Messi. O projeto para garantir a contratação foi muito bem feito e envolve toda a liga. Mas vai ser fundamental envolver também a cidade de Miami como primeiro passo para o sucesso da empreitada. E para aproveitar ao máximo a presença de Messi, a MLS tem que deixar o povo ver o craque argentino.

Ótima opção para os jogos em casa é o Hard Rock Stadium, que já recebe NFL, tênis e Fórmula 1. A capacidade é para mais de 65 mil torcedores, estrutura e a localização também são muito melhores do que as do DRV PNK Stadium. Essa ideia ganha ainda mais força no momento em que a liga parece aliviar a pressão por espaços de uso específico para futebol e aceitar mais o uso compartilhado, como nos casos de sucesso de Seattle, Atlanta e Charlotte.

Outro desafio vai ser o acesso aos jogos pela televisão. A maioria das partidas só pode ser vista por streaming via Apple TV Plus e a assinatura custa 13 dólares por mês para quem já é assinante do serviço e 15 dólares para novos assinantes. O novo acordo prevê que a maior parte das partidas ocorra às sete e meia da noite no horário local, o que pode fazer com que muitos torcedores não consigam acompanhar o próprio time e, claro, o Messi. A exceção fica para os jogos escolhidos pelo Fox Sports para transmissão de TV acabo.

São muitos os elementos a favor de um boom que vai colocar o país entre os principais do mundo no futebol. Milhões de crianças praticam o esporte e Messi será uma grande inspiração para os jovens. Além da liga local, os fãs poderão acompanhar muito mais do que os amistosos de grandes clubes europeus durante o verão. Antes da Copa do Mundo FIFA de 2026, com maioria dos jogos no país, os EUA serão palco da Copa América e do primeiro Mundial de Clubes da Fifa com 32 equipes em 2025.

Os próximos anos serão decisivos para a explosão do futebol nos EUA. Os ajustes para ampliar a visibilidade do esporte e, especialmente, da presença de um talento raro como Messi, podem significar um pouco menos de receita agora, talvez um esforço para abrir mão de certas convicções que foram importantes para o crescimento do futebol, mas certamente vão dar ao esporte muito mais força no longo prazo.

Sergio Patrick é especializado em comunicação corporativa e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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