Parece piada pronta, mas infelizmente não é. Willian, o Bigode, convenceu seus amigos de Palmeiras Gustavo Scarpa e Mayke a investirem em um negócio de criptomoedas que prometia rendimentos estratosféricos.
O resultado da história está estampado nos principais portais, nas redes sociais e rendeu até 15 minutos de reportagem no “Fantástico”. Scarpa e Mayke registraram Boletim de Ocorrência acusando a empresa de consultoria financeira de Willian e a XLand, corretora que pegou o dinheiro deles, de estelionato.
Scarpa perdeu, pelo menos, R$ 6,3 milhões. O baque de Mayke é um pouco menor, de cerca de R$ 4 milhões. E, agora, os amigos discutem na Justiça o que acontecerá.
A exposição de todo o caso mostra um problema recorrente do universo esportivo. Em um ambiente em que corre muito dinheiro e existe enorme assédio sobre os atletas, praticamente ninguém confia em ninguém. E, o que é pior, quando a confiança existe, para quebrá-la é preciso que haja um escândalo da magnitude desse envolvendo os jogadores que eram do Palmeiras.
A união “no fio do bigode”, como diz o velho ditado, é regra no esporte. O jogador, que aprende a ser desconfiado de tudo e de todos desde as categorias de base, não investe no que seria o mais precioso em situações como essa: informação.
Tal qual ensinar um passe, um chute ou um cabeceio, os pais, empresários e clubes dos atletas deveriam, desde as categorias menores, trazer aulas de educação financeira para os jogadores. Há quase 15 anos, tentamos, na Máquina do Esporte, levar esse conceito para os dirigentes de futebol. O atleta precisa, ainda na base, entender que o mundo é cruel não só na hora de passar por uma peneira e se tornar jogador de um clube.
Marketing, gestão de imagem, comunicação, gestão financeira. Tudo isso tem de ser ensinado tanto quanto a melhor estratégia para o cabeceio ou o posicionamento do pé de apoio na hora do chute.
Do contrário, continuaremos a ver histórias em que a garantia é no “fio do bigode”. Depois do escândalo de agora, sem dúvida não será o do Willian Bigode.
Erich Beting é fundador e CEO da Máquina do Esporte, além de consultor, professor e palestrante sobre marketing esportivo