O fim do mundo (olímpico) como nós o conhecemos

Jogos Olímpicos prometem cada vez mais mudanças nas próximas edições - Reprodução

Minha filha nasceu no mês de janeiro. À época, eu trabalhava no Comitê Olímpico do Brasil (COB), e a piada era que havia escolhido a data perfeita para ela ser atleta. Eu ria e, confesso, fazia meus planos silenciosos. 2040 é logo ali… o remo, quem sabe…

Mas diante das notícias vindas de Mumbai, onde o Comitê Olímpico Internacional (COI) se reuniu nos últimos dias em assembleia, confesso que não sei o que esperar do futuro.

E não por causa da exclusão da categoria peso leve do remo e a inclusão da modalidade de praia. É bem mais do que isso.

Fato é que somos uma geração de transição. A geração que estranhou ver o breaking incluído no programa olímpico de Paris 2024. A mesma geração que, hoje, não consegue mais imaginar os Jogos sem skate ou surfe. Somos também a geração que pode presenciar os Jogos Olímpicos Eletrônicos, que estão sendo avaliados pelo COI como uma alternativa de se aproximar ainda mais do púbico jovem e fincar o Olimpismo de vez na nova era.

A proposta disruptiva, segundo palavras do informe disparado pelo COI, traz consigo oportunidades comerciais únicas, afinal, boa parte das marcas do programa de patrocínio Top do COI ativa e/ou investe nas áreas de gaming e e-Sports. Mas a criação de mais esse evento olímpico, talvez embarcado nos cambaleantes Jogos Olímpicos da Juventude, diria eu, traz também desafios que a comissão do COI se debruça para mapear e mitigar.

Nós, que já colecionamos ingressos de papel em gavetas abarrotadas, aprendemos a conviver com os tíquetes virtuais com naturalidade. E, preparem-se, em Brisbane 2032 poderemos estar pagando para assistir aos Jogos Olímpicos do sofá de casa. Sim, a realidade virtual é um tema amplamente explorado pelos australianos, que têm a árdua tarefa de calibrar a bola de cristal para vislumbrar o mundo daqui a longínquos nove anos. Trata-se de um privilégio que nenhuma outra sede olímpica teve, mas ao mesmo tempo quase que uma “maluquice” tentar prever como consumiremos o esporte em 2032. Pensem que em, Londres 2012, não existia TikTok.

Não precisamos ir tão longe assim para enxergar a olho nu as mudanças. Os Jogos Pan-Americanos, que começam daqui a dois dias em Santiago, não terão transmissão ao vivo de nenhuma emissora de TV convencional no Brasil. Dos cerca de 130 credenciados de imprensa brasileira no evento de “esquenta” para os Jogos Olímpicos do ano que vem, não constam os tradicionais Folha e Estadão. O provável recorde de medalhas do Time Brasil no Chile será acompanhado no streaming, por meio do Canal Olímpico do Brasil, do COB, em parceria com a Cazé TV. Uma nova lógica também quando falamos na aquisição e difusão dos direitos de transmissão dos grandes eventos.

Talvez, como já dizia a banda R.E.M. lá em 1987, seja o fim do mundo como nós o conhecemos.

Manoela Penna é consultora de comunicação e marketing, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

Sair da versão mobile