O táxi era um sedan da Volkswagen de cor escura. Não sei precisar o modelo, já que muitas montadoras usam nomes diferentes ou até modelos de carro específicos para diferentes países. A minha mulher e duas amigas entraram no banco de trás, e eu fiquei com o assento da frente, ao lado do motorista.
Usando um boné azul-escuro com a letra F bordada, o taxista não parecia disposto a ir muito além do bonjour no começo da corrida. O trajeto de aproximadamente 20 minutos nos levaria do hotel até um restaurante onde encontraríamos outros amigos na cidade de Tours, no noroeste da França.
O caminho por uma paisagem rural era cheio de curvas entre vilarejos com casas e igrejas de pedra que pareciam mais velhas que o Brasil. Depois de alguns minutos, percebi algo conhecido no rádio. Apesar do meu francês ser abaixo do nível básico, identifiquei que o programa falava do Olympique de Marselha.
Logo perguntei ao motorista se o assunto era futebol e, a partir dali, não paramos mais de falar. Eu com meu francês ruim, o motorista com um vocabulário muito limitado em inglês. Começamos por Neymar, eu dizendo que não era muito fã da maneira de conduzir a carreira do craque brasileiro, ele destacando o foco de Neymar na atual temporada e a retomada da boa parceria com Messi.
Como em um bom programa de esportes, no próximo bloco passamos para a Copa do Mundo do Catar. Eu disse que a França era favorita pensando que deixaria meu novo amigo feliz com meu palpite, mas ele se mostrou frio e realista. A aposta do taxista é na Argentina. Ele considera a França um grupo com muitos problemas, dentre eles a arrogância de Pogba, a falta de compromisso de Benzema e a imaturidade de Mbappé.
Quando mencionei o Brasil como um dos favoritos, ele foi gentil e não discordou. Mas também não concordou. Ficou claro pra mim que ele não coloca o time de Tite entre os melhores da Copa. Antes da chegada ao destino à beira do Rio Loire, o motorista ainda teve tempo de me dizer o quanto aprecia o futebol de Giroud. Como bom analista, ele fez a ressalva ao desempenho melhor na seleção do que em clubes, mas disse considerar o atacante um verdadeiro camisa 9.
Na última curva, lembrei-me de perguntar qual era o assunto do programa que falava do Olympique de Marselha. O motorista sorriu e disse que era o rumor do interesse do clube do sul da França em Cristiano Ronaldo, o que ele considerava uma piada, algo impossível de acontecer.
Ao sair do carro, minha mulher e as nossas amigas vieram me dizer que não sabiam que eu falava francês tão bem para manter uma conversa longa daquela forma. Expliquei que não falo francês. Eu falo é sobre futebol em quase qualquer língua.
Sergio Patrick é especializado em comunicação corporativa e escreve mensalmente na Máquina do Esporte