O por trás da queda do Brasil no Pré-Olímpico

Endrick, do Palmeiras, foi o centroavante da seleção brasileira no Pré-Olímpico - Reprodução / Instagram (@endrick)

Após a derrota contra a Argentina, sua maior rival, a seleção Sub-23 que disputava o Pré-Olímpico acabou com as chances de classificação para as Olimpíadas deste ano, mesmo contando com grandes promessas como Endrick, John Kennedy e Andrey Santos.

Nessas horas, é importante buscar entender as razões que levaram a essa eliminação tão precoce e indesejada para não “queimar” os talentos da nova geração.

A última vez que o Brasil havia sido eliminado no torneio Pré-Olímpico foi em 2004, quando disputei a competição ao lado de um elenco promissor, com Robinho, Maicon, Elano e muitos outros. Nesse período, uma nação inteira depositava expectativas altíssimas sobre nós que, apesar de garotos, já carregávamos uma enorme responsabilidade. Hoje, quase 20 anos depois, após essa eliminação, escancarou-se que a expectativa continua igual, porém a organização, o desempenho e a capacidade competitiva já não são mais as mesmas.

É claro que a cobrança sempre será altíssima, afinal estamos falando da seleção mais tradicional do mundo, porém acredito haver um enorme desequilíbrio entre a expectativa que é depositada em cima desses garotos e o real potencial de entrega que eles têm como equipe, ainda muito jovens.

Eu já estive nessa posição e, de fato, é uma pressão que quem está do outro lado não consegue entender a dimensão. Chegar sempre com a obrigação de vencer e de se classificar a qualquer custo, joga contra nós mesmos.

Lembro que quando fomos eliminados naquela ocasião, eu podia jurar que era meu fim com aquela camisa, que nunca mais seria capaz de jogar pelo Brasil outra vez. As críticas vinham de todos os lados, a imprensa nos detonava, nós tomávamos as capas dos jornais com selo de vexame, vergonha. E não parava por aí. Torcedores gritavam a plenos pulmões nos estádios em que passávamos: “Não é mole não, Diego e Robinho afundaram a seleção”.

Então, nesse momento tão conturbado, o que fiz foi tentar me proteger ao máximo e não deixar que as críticas me derrubassem. Mas o que realmente fez a diferença foi ter encontrado um treinador, uma equipe e torcedores que me abraçaram e confiaram que eu daria a volta por cima e em breve voltaria à seleção brasileira. Meses depois, eu estava convocado para a Copa América, e fomos campeões.

Em uma famosa declaração, Michael Jordan disse: “Errei mais de 9 mil cestas e perdi quase 300 jogos. Em 26 finais de partidas diferentes, fui encarregado de jogar a bola que venceria o jogo… e falhei. Eu tenho uma história repleta de falhas e fracassos na minha vida, e é exatamente por isso que sou um sucesso”.

Essa frase diz muito sobre o que eu acredito no esporte. Parte do que tornou grandes atletas como Michael Jordan e Lionel Messi o que eles são, foi a tolerância e paciência que eles tiveram consigo mesmos de se permitirem tentar quantas vezes fossem necessárias. Então, essa foi a maneira que eu encontrei de superar as frustrações, dando a mim mesmo quantas chances fossem necessárias para o meu crescimento profissional e pessoal, sempre avaliando o cenário de forma racional, tentando evitar ao máximo que os sentimentos interferissem no rumo das minhas decisões.

A vida do atleta é repleta de pequenas e grandes frustrações, seja perder um jogo, ser colocado na reserva, ser vaiado, errar um lance decisivo ou tantos outros exemplos. É a capacidade que você tem de se dar uma nova chance para acertar e ser melhor, que te tornará um atleta de excelência.

Apesar de entender a gravidade da eliminação, hoje, depois de muitos anos atuando como profissional, encaro essa derrota com um novo olhar. Enxergo nela a oportunidade de focar nas melhorias que precisam e devem ser feitas para dar a volta por cima. Para um jovem, que está iniciando sua carreira, é a oportunidade de se mostrar maduro para enfrentar tudo que vier pela frente, voltar melhor e mais forte, agora com a autoridade de quem supera grandes dificuldades e frustrações.

Agora é a hora de virar o olhar para frente, buscar alcançar as melhorias necessárias e deixar a frustração no passado, para levar a seleção de volta ao topo.

Diego Ribas é ex-jogador de futebol, com passagens por Santos, Flamengo, diversos clubes europeus e seleção brasileira. Atualmente, é palestrante, comentarista, apresentador do PodCast 10 & Faixa, garoto-propaganda de empresas como Genial Investimentos, Adidas, Colgate e Solides, e escreve mensalmente na Máquina do Esporte

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